“Meu filho foi brutalmente assassinado”, diz Ronilda Teixeira Nunes Nogueira, em um depoimento comovente que deu ao Portal Webterra, minutos depois de enterrar um dos três filhos. O garoto, Josué Nogueira, de 16 anos, foi morto com um tiro na cabeça por um policial penal, na madrugada desse domingo (19 de julho), no bairro Vila Anália, em Montes Claros. O corpo foi enterrado nesta segunda-feira (20).
Segundo a mãe, no dia do crime o filho dela estava na casa de uma amiga e ao sair de lá encontrou alguns jovens que estavam em frente a residência do autor do crime. O policial penal havia pedido silêncio porque o barulho estava incomodando, como os jovens não obedeceram, o homem atirou pra cima, foi quando os jovens correram, mas o filho dela perdeu a sandália e voltou para pegar, momento que o agente atirou e acertou a nuca do garoto.
“De pertinho, a queima roupa ele deu um tiro. E meu filho olhou pra ele; ele conhece o meu filho desde pequeno. Ele conhece meu marido, me conhece, conhece toda nossa família. Ele deu um tiro na nuca do meu filho e a bala saiu pela boca. Então assim, eu tô morta por dentro”, diz.
O relato da mãe é preciso, quanto ao acontecimento, porque as câmeras de segurança da vizinhança flagraram toda a ação. Ronilda afirma que testemunhas também presenciaram o assassinato do filho. A mãe do garoto contesta a versão do policial, no qual ele diz que algumas pessoas estariam jogando pedras e garrafas na residência dele. Uma câmera de segurança flagrou o agente junto com a mulher dele, uma criança e uma senhora saindo de perto do corpo do filho como se nada tivesse acontecido.
“Um jovem que correu no mesmo sentido da avenida, que era da casa dele, voltou e viu meu filho caído no chão; pegou na garganta do meu filho e viu que não estava mais respirando, aí ficou desesperado foi lá na casa dele [autor do crime], e deu um chute no portão”, conta.
Ronilda revela que o policial penal tem histórico agressivo na vizinhança e consumia bastante bebida alcoólica. De acordo com ela, o homem andava armado como forma de intimidação no bairro onde mora.
“Ele tem o costume de ficar bebendo, é som alto a noite toda durante a semana. Ele é alcoólatra, ele passou sábado inteirinho no bar, todo mundo é testemunha que passou da sexta-feira pro sábado e ele estava lá bebendo. Desde quando ele tomou esse título [Policial Penal] ele anda sem camisa, com revolver pendurado na cintura, sem se importar com nada. Qualquer coisa que fala com ele, ele já vai ameaçando”, afirma a mãe.
A investigação
Em coletiva a imprensa na manhã desta segunda (20) o Delegado da Polícia Civil, Bruno Rezende, afirmou que a vítima, Josué Nogueira não tinha antecedentes criminais. Ainda, segundo o delegado, o policial penal alegou que agiu em legitima defesa.
Com relação ao histórico de consumir bebida alcoólica e ser agressivo, o delegado afirmou que todas as alegações, tanto da família da vítima, quanto as circunstâncias apresentadas no inquérito, serão apuradas durante as investigações.
“As circunstâncias do fato, a dinâmica do disparo de arma de fogo, essa alegação de atentados antecedentes em relação a sua residência e a sua família, o comportamento desse autor. Obrigatoriamente, todo antecedente criminal, será avaliado durante as investigações, inclusive as versões apresentadas pela família de que o adolescente não teria envolvimento com o atentado”, diz.
Segundo Bruno Rezende, as equipes da delegacia de homicídios está colhendo imagens e informações preliminares sobre os envolvidos e a partir de hoje depoimentos serão colhidos para que se possa apurar plenamente o ocorrido. “O policial foi autuado em flagrante delito pelo crime de homicídio consumado; ele foi colocado a disposição da justiça e será submetido a audiência de custodia e será definida a circunstâncias processuais referentes no âmbito judicial”.
Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) e o Departamento Penitenciário de Minas Gerais (Depen-MG) lamentaram a morte do adolescente.
A Sejusp classificou o ato como isolado e alegou, de acordo com informações preliminares, que o servidor estava fora do horário de serviço e fez uso inapropriado do seu instrumento de trabalho, cuja utilização se restringe à defesa pessoal, atrelada ao seu exercício funcional de custódia e ressocialização de detentos.
O órgão reiterou que a Polícia Civil segue na investigação criminal do caso e o Depen-MG, na apuração rigorosa dos fatos no âmbito administrativo.
Futuro Interrompido
O garoto aos 16 anos já estava no mercado de trabalho. Ele atuou como repositor de supermercado, como jovem aprendiz e em um lava-jato. A tia do menino, Ellen Teixeira, fala com orgulho do quanto esforçado e trabalhador Josué era.
“Ele tinha um futuro enorme. Ele era menor aprendiz em supermercado e assim que o contrato acabou ele foi trabalhar em um lava-jato. Ele era preocupado com o futuro dele. Tinha um brilhante futuro e só estava se divertindo. Ele tinha pedido para a mãe dele uma moto, e ele estava trabalhando pra isso, assim que fizesse os 18 anos ele iria ganhar”, diz.
A família de Josué está muito abalada com o fato, mas relatam que mensagens negativas tem sido frequentes nas redes sociais, devido o jovem ser negro. “Josué era uma pessoa tranquila, disseram pelas redes sociais que ele era usuário, ele nunca usou drogas nenhuma. Esse preconceito todo está acontecendo só por causa que ele é negro. Teve uma pessoa que falou assim ‘mais um neguinho que desceu’; criticaram muito as fotos dele”, conta a tia.
A mãe do menino conta que o filho era uma pessoa do bem. “Meu filho não era usuário de droga, meu filho não fumava, não bebia pra ficar bêbado, eu nunca tive notícia disso. Então, minha única vontade é de tá no lugar do meu filho. Eu estou acabada, morta por dentro, não foi só meu filho não, ele acabou com a minha família. O que eu quero mesmo é justiça. Que ele [autor do crime] permaneça preso até o julgamento e que ele seja afastado. Ele não tem a capacidade pra poder trabalhar nessa profissão”, diz Ronilda.
O acusado
O policial penal teve liberdade provisória concedida na tarde desta segunda-feira (20). Em nota encaminhada à imprensa, o advogado dele, Warlen Freire Barbosa afirmou que é prematura qualquer tentativa de esclarecer quaisquer fatos que envolve o acontecimento que vitimou o menor Josué Nogueira.
“As investigações se iniciaram hoje e qualquer informação relativa aos fatos seria temerária e irresponsável”, diz o texto. A defesa alegou ainda estar consternada e se solidarizou com a família da vítima e disse que o próprio investigado está abalado.
A nota prossegue dizendo que “a defesa entende que a liberdade do investigado é um consectário da ausência de requisitos da prisão preventiva pois, para se manter preso alguém antes de uma sentença condenatória, faz-se preciso demonstrar que a liberdade da referida pessoa coloca em risco a sociedade, o que não é o caso”, afirma.
O texto finaliza dizendo que “a liberdade concedida ao investigado em nada guarda relação com o resultado do processo a que o mesmo será submetido”.
**Escrita pelo repórter Carlos Alberto Jr.