Há alguns dias um fato chamou atenção dos montes-clarenses, no Norte de Minas. Um homem morreu, na última terça-feira (5 de maio), após sofrer um surto psicótico e agredir funcionários do aeroporto de Montes Claros.
O superintendente do Aeroporto Mário Ribeiro, Michael Noleto Crestani, contou ao Portal WebTerra que o homem teria chegado ao local por volta das 3h da madrugada e permaneceu durante toda a manhã e em um determinado momento passou a agredir o segurança do local.
A polícia foi chamada, o homem foi contido por um policial a paisana, mas minutos depois sofreu uma parada cardiorrespiratória. Socorristas do Samu e Corpo de Bombeiros tentaram a reanimação dele com o uso de um desfibrilador, mas sem sucesso.
O vigilante ferido na ocorrência é Silvio Rodrigues Pires, de 49 anos, na ocasião, ele foi encaminhado para a Santa Casa de Montes Claros e de acordo com a assessoria de comunicação do hospital, ele passou por exames e foi constatado fratura na clavícula; ele passou por cirurgia e já recebeu alta.
O advogado Rodrigo Silva Fróes
O personagem que protagonizou o fato foi o advogado Rodrigo Silva Fróes. Ele era Bacharel em Direito pela Universidade Estadual de Montes Claros; Pós-Graduado em Direito Processual e em Filosofia também pela Unimontes. O advogado mantinha um perfil em uma rede social voltada para profissionais da área do Direito. Em sua descrição ele mesmo apresentou seu currículo.
“Eu sou advogado e trabalho com direito das obrigações, direito dos contratos e dívidas bancárias, tenho com 14 anos de experiência, militância combativa e responsável, tenho especialização ‘lato sensu’ em Direito Processual e História da Filosofia”, afirmou no perfil.
O advogado era bilíngue, falava a língua espanhola, era associado ao Instituto Brasileiro de Direito Imobiliário (Ibradim) e membro da comissão de inovação e tecnologia do órgão. Ele fazia questão de destacar: “eu ajudo pessoas a negociar dívidas bancárias e a analisar contratos imobiliários”, disse na rede social.
Por meio de nota, a Ordem dos Advogados do Brasil lamentou o falecimento de Rodrigo Fróes. O presidente da 11ª Subseção da OAB em Montes Claros, André Crisóstomo Fernandes, lamentou, também, o ocorrido. “Ele era uma pessoa querida pelos colegas advogados e exercia, com muito zelo e paixão, a profissão dele. Rodrigo tinha dificuldade de aceitar a própria doença”, relatou.
Família e amigos
Ainda abalada com o fato, a irmã mais nova de Rodrigo, Izabel Fróes, aceitou falar com a nossa equipe e contar um pouco sobre como o irmão era. Ela afirmou que o irmão realizava o tratamento para a esquizofrenia, mas há um tempo ele teria abandonado.
“Ele era um ser humano bom, trabalhador e bem sucedido. Ele sempre fez tratamento só que ele tinha abandonado a medicação. Ele não morreu por causa da esquizofrenia, ele faleceu porque ele parou de tomar, tanto o remédio psiquiátrico quanto o da pressão. Ele sofreu uma parada cardíaca e não resistiu.
O poeta Aroldo Pereira conheceu Rodrigo há uns dezoito anos; “volta e meia, nos encontrávamos pela cidade e em espaços literários, bibliotecas e livrarias”. Para Aroldo, ele era uma pessoa que tinha uma boa convivência social na universidade, com os amigos, professores e com os colegas da área de Direito.
Izabel Fróes informou que, desde a morte do irmão vem acompanhando nas redes sociais pessoas disseminando ódio contra o advogado. “As pessoas estão disseminando ódio nas redes sociais sem saber quem ele era e a internet não é uma terra sem lei e se for preciso, vou tomar providências se isso continuar. Meu irmão era uma pessoa muito inteligente, de um caráter sem igual. Ajudava a todos. Rodrigo era do bem, jamais em sã consciência iria fazer algo com a intenção de machucar alguém, foi sempre da paz. Meu irmão era um menino de sucesso e deixou uma carreira brilhante”.
Ainda de acordo com Izabel, a família do advogado entrou em contato com a mãe do vigilante, “pediu desculpas, e que no momento oportuno e se fosse da vontade da família nos encontraríamos pessoalmente”, contou.
Esquizofrenia
A médica psiquiatra Gislene Alves da Rocha, explica que embora a esquizofrenia seja relatada e discutida como uma única doença, ela engloba um grupo de transtornos e de causas diferentes, mas que tem um curso parecido e muito variável. “Os sinais e sintomas da esquizofrenia variam e incluem alterações da percepção na emoção, na cognição, no pensamento e no comportamento. O aparecimento dessas manifestações varia de pacientes ao longo do tempo”, explica.
Segundo ela, a ciência tem buscado mudar essa situação, fazendo a identificação e o tratamento precoce, para que essas pessoas diagnosticadas com a doença continuem tendo uma vida o mais normal possível. “O paciente esquizofrênico, ele basicamente perde a noção da realidade, do que é real e do que não é. Então o paciente, ele pode ter, por exemplo, delírios que são criações da mente do paciente onde esses delírios que são coisas que não estão acontecendo, mas ele tem certeza que está”.
Quanto ao tratamento, segundo a especialista, o tratamento é feito com medicação que são chamados antipsicóticos ou neurolépticos, ou a eletroconvusoterapia. “A escolha do medicamento vai caber ao psiquiatra que vai avaliar o perfil daquele paciente e vai ver qual ele tem uma resposta melhor. O ideal é dar medicação supervisionada, vai depender muito da adesão do paciente ao tratamento. Por isso que às vezes as medicações injetáveis com duração mensal trimestral são mais indicadas para alguns pacientes, por causa da questão da adesão”, destaca.
É importante esclarecer que a especialista não foi médica do Rodrigo, nem nunca realizou uma análise psicológica dele. Aqui ela faz referência a doença em si, e não ao diagnóstico do advogado.