A defesa dos direitos humanos junto à população LGBTQ+ nunca teve tão bem representada em Montes Claros, no Norte de Minas. Há exatamente 16 anos, o Movimento LGBT dos Gerais (MGG) surgia promovendo a defesa da liberdade de orientação sexual.
Helaine Ventura foi uma das fundadoras e conta que no início, ainda no ano de 2002, o Grupo de Apoio e Prevenção aos Portadores de DST/AIDS de Montes Claros (GRAPPA), elaborou e aprovou um projeto, financiado pelo Ministério da Saúde, denominado “Homens que fazem sexo com homens” (HSH), destinado ao público gay e visava trabalhar a prevenção às DST’s/HIV. E já no primeiro ano o projeto alcançou grande notoriedade.
“Em 01 de março de 2002 o bailarino Igor Xavier foi brutalmente assassinado, o motivo do crime: homofobia explícita. Por essa notoriedade e alcance de público alvo, o GRAPPA, foi vítima de mais preconceitos, as doações da população foram gradualmente canceladas, pois acreditavam-se que o projeto seria financiado com o dinheiro das doações. Diante deste quadro de preconceito generalizado, institucional, social e econômico, a equipe HSH uniu-se a outros grupos, políticos e estudantis para fundar o MGG”, conta Helaine.
Segundo ela, só foi possível a criação do MGG graças ao apoio de muitas pessoas, “O Hugo Alexandre primeiro presidente e fundador e o Pedro Tadeu Caldeira Rocha, segundo presidente da ONG foram essenciais. O trabalho deles foi importante, passamos por muitas dificuldades e a luta foi árdua”.
Ações Sociais
O atual presidente da ONG é José Cândido de Souza Filho, que já participa como voluntário há alguns anos. “Os trabalhos do MGG funcionam com a ajuda de vários voluntários, pessoas que fazem por amor a causa e sempre pensando no bem estar do próximo”, conta.
Um dos projetos é a ‘Blitz Noturna’ que realiza entregas de panfletos e camisinhas nas BRs conscientizando as pessoas das doenças sexualmente transmissíveis como a AIDS, Hepatite e a Sífilis que vem crescendo muito o número de pessoas infectadas.
“Toda ação que fazemos é muito importante porque as doenças estão crescendo muito, inclusive as pessoas que querem fazer o exame nós encaminhamos para a Cerdi, que é um Centro de referência em doenças infecciosas de Montes Claros, onde somos parceiros e eles realizam os exames gratuitos e com muito sigilo”, explicou o presidente.
A ONG ainda encaminha as pessoas para fazerem tratamento psicológico se por acaso alguma doença for detectada na realização do exame. “É tudo feito com muito sigilo para a segurança das pessoas envolvidas, pois sabemos como o preconceito é pertinente, inclusive fazemos também atendimento jurídico com um advogado parceiro que nos ajuda com as pessoas que sofrem algum tipo de repúdio ou até mesmo agressão”, afirmou.
A ONG desenvolve diversas atividades como palestras em escolas públicas e privadas, rondas noturnas com trabalho de prevenção e distribuição de preservativos. Além de projetos com foco na prevenção da população LGBTQ+ e profissionais do sexo e ainda para o público transexual e travestis.
O MGG também tem um trabalho voltado para o público transgêneros. Lívian Venturini é conselheira e colaboradora do núcleo. Ela conta que o MGG exerce um papel essencial, em todos os aspectos, na região.
“Conheci a instituição em meados de 2006, quando fui convidada pelo então presidente Hugo a me apresentar na primeira parada LGBTQ+ de Montes Claros. Comecei a frequentar as reuniões e ficar informada sobre os belos projetos para homossexuais e travestis em situação de vulnerabilidade social”.
Lívia conta que nos últimos anos o grupo e o Brasil tiveram muitos avanços, como a resignação sexual, chamada vulgarmente de mudança de sexo, gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS); a retificação do nome em todos os documentos pessoais; a inclusão da transfobia como crime de racismo pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e o direito de usar o banheiro feminino em todo território nacional. Mas ela ressalta que ainda há muito que se fazer para o público, principalmente, na região, “como políticas publicas para inclusão social e diminuição da violência, em especial as travestis e transexuais”.
Parada do Orgulho LGBTQ+
De acordo com José Cândido, todos os anos o grupo realiza a Parada do Orgulho LGBTQ+ em Montes Claros. É uma semana de programação onde se discute temas relacionados com a cultura LGBTQ+; essas atividades fazem parte do calendário municipal. As três últimas Paradas foram financiadas pelo Ministério da Saúde e pela UNESCO. O presidente ressalta que nas últimas edições eles conseguiram recorde de público.
“Não tivemos nenhum problema, graças a Deus. Contamos com a presença de vários artistas, apresentações de drags e performances. Esse trabalho que o MGG faz, mostra pra sociedade que a população LGBTQ+ é composta por seres humanos, como qualquer outra pessoa, e que merece o respeito de todos, porque tem os mesmos direitos e todos nós somos iguais perante a Deus”.
Segundo ele, apesar das grandes mudanças e vitórias que o grupo conquistou por todos esses anos, ele destaca que “temos que avançar muito mais. Hoje nós estamos lutando pra que o mercado de trabalho aceite mais, sem preconceito, a população LGBTQ+, nos seus órgãos comerciais, industriais. Às vezes, na hora de um teste, na hora de uma entrevista, por ser do grupo LGBTQ+ ainda há preconceito. Então a luta continua”, expõe.