‘Existe o medo com relação à falta de suprimentos, alguns estão estocando comida’, diz norte-mineiro que mora na Argentina

Na Argentina, o presidente Alberto Fernández decretou a partir desta sexta-feira (20 de março), quarentena total para combater a transmissão do coronavírus. A restrição seguirá até 31 de março e quem descumprir poderá ser preso por delito contra a saúde pública. Três pessoas já morreram por causa do Covid-19 e um total 128 casos já foram confirmados. Desde o último domingo (15) as fronteiras estão fechadas e só argentinos e residentes, podem retornar ao país.

De acordo com Itamaraty 84.750 brasileiros vivem na argentina, os dados são referentes a novembro de 2018. Igo Souza, de 30 anos, é um deles. Atualmente ele mora em Rosário, maior cidade da província de Santa Fé. O acadêmico cursa medicina e conta que por lá a pandemia é vista, pela maioria da população, como um grave problema de saúde pública, mas revela que algumas pessoas são negligentes às recomendações das autoridades de saúde local.

“Há grande número de idosos na rua, sendo este grupo um dos mais vulneráveis. Também existe o medo com relação à falta de suprimentos, alguns estão estocando comida e afins e em grandes mercados muitos produtos estão em falta”.

Segundo o mineiro, de Engenheiro Navarro, no Norte do Estado, antes mesmo do decreto de quarentena imposto pelo presidente, as universidades e faculdades já haviam entrado em recesso de no mínimo 15 dias. A arquidiocese definiu a suspensão das oficinas, grupos de orações e outras atividades e as academias estão fechadas.

“As autoridades recomendaram evitar aglomerações: suspenderam jogos de futebol, shows e outros eventos. Todas as pessoas que chegam de países considerados de maior risco, segundo o governo, China, Itália, Coréia do Sul, Irã, França, Alemanha, Espanha, Japão, Estados Unidos e agora também o Brasil devem se isolar em quarentena”, conta o estudante.

O governo argentino apostou em campanha na TV, rádio, outdoors e até por mensagem de texto no celular, para incentivar as pessoas a ficar em casa. A temática da higiene, a maneira correta de lavar as mãos e a importância da utilização de álcool em gel é massivamente ‘ensinada’ pelos órgãos de saúde locais.

“Minha rotina mudou devido a suspensão das atividades da universidade, da academia, da igreja. Saio somente se necessário.  Estou mais recluso não por medo de me contaminar mas sim de disseminar aos demais”, afirma Igo.

As redes sociais e ligações por vídeo chamada, diárias, são os meios de matar a saudade e tranquilizar a família em Engenheiro Navarro (MG). “Pretendo voltar ao final do ano a não ser que saia alguma resolução que postergue ainda mais o tempo de recesso das aulas com a impossibilidade de concluir o semestre. Nesse caso iria pra casa caso não houvesse nenhuma restrição para sair do país (impossibilidade de vôos ou ônibus) e voltaria no segundo semestre”.

100 mil pessoas afetadas na Europa

Cidade de Coimbra, em Portugal.

A pandemia do coronavírus já afetou 100 mil pessoas na Europa e os países do velho continente, já são os mais atingidos pela doença. Portugal, que em 2019 recebeu 150 mil imigrantes brasileiros, segundo dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) tem 785 casos do Covid-19 e três mortes registradas, situação que tem assustado nossos conterrâneos.

“Infelizmente estou voltando para o Brasil depois de 40 dias em Portugal. A situação não tem previsão de melhoria e caso eu adquira o coronavírus seria muito complicado de tratar já que os hospitais estão um caos, tratamento ser muito caro e eles com certeza dariam preferência para quem é do país”, este é o relato de Amanda Camelo, acadêmica de 22 anos que mora, também, em Engenheiro Navarro (MG) e teria viajado para Coimbra, Portugal, para um intercâmbio do curso de odontologia.

Segundo ela a população e o Governo de Portugal estão preocupados e assustados com a situação já que os casos no país aumentam a cada minuto que se passa e pela proximidade a países que estão mais afetados como a Itália. Quando ainda estava no país Europeu ela seguiu todas as recomendações do governo e viu a rotina mudar muito já que não podia mais ir a faculdade que era o principal objetivo dela.

“O intercâmbio sempre foi um sonho pra mim em questão tanto pessoal quanto profissional e, estar passando por esta situação não esta sendo fácil porque estou longe de casa, da família e dos amigos e estar em um país sozinha, passando por está situação, é assustador. O meu sonho de poder conhecer um pouco da Europa, de ter experiências incríveis em outra faculdade com outros costumes foi interrompido pelo coronavírus”, conta.

Amanda retornou ao Brasil na última quarta-feira (18). A acadêmica contou a nossa reportagem que teve dificuldade de voltar ao Brasil pelos constantes cancelamentos de vôos. “Eu cheguei ao aeroporto bem antes do horário do meu voo e só deixavam entrar quando o vôo estava confirmado e bem próximo do horário. Tive que esperar na porta. O meu voo era às 7h da manhã e de uma colega, 4 da tarde, o voo dela foi cancelado e ela não conseguiu voltar”.

A acadêmica revela que não recebeu nenhuma instrução ao chegar ao Brasil e, inclusive se assustou ao ler uma matéria sobre o voo dela, dizendo que todas as medidas foram tomadas para evitar a contaminação do coronavírus. “É mentira. Não foi tomada nenhuma medida e não tivemos nenhuma instrução. Em Portugal tinha restrições para entrar no aeroporto e aqui no Brasil não tinha nada. O aeroporto estava aberto, cheio de gente, entrava e saindo quem queria. Ninguém me instruiu a nada, nem dentro do avião”.

A norte mineira ressalta que nessa experiência conheceu vários brasileiros que também estavam voltando para o Brasil com medo do coronavírus, “pessoas que montaram as próprias empresas em Portugal e que tiveram que fechar as portas com medo de não conseguirem se manter financeiramente”.

Atualmente Amanda Camelo cumpre isolamento, em casa, por conta própria e não apresenta nenhum sintoma do coronavírus.

O ministério do Turismo anunciou nessa quinta (19) que pelo menos 883 brasileiros retidos em Portugal serão repatriados até domingo (22). O governo anunciou ainda o fechamento de fronteiras do Brasil, por 15 dias, com países vizinhos para conter a pandemia do coronavírus, apenas brasileiros nessas regiões poderão entrar no país.

Mundo

São mais de 220 mil infectados pelo coronavírus e mais de 10 mil mortos, em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). O coronavírus afetou, além da saúde, a educação, a política e a economia do planeta. Fronteiras, aeroportos, cidades inteiramente fechadas; e milhares de pessoas isoladas segundo OMS.

**Escrita pelo repórter Carlos Alberto Jr.