No mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher uma pesquisa divulgada pelo Global Entrepreneuriship Monitor (GEM), mostra que em 2018, dos 52 milhões de empreendedores no Brasil, 24 milhões eram mulheres, número praticamente equivalente ao de homens na mesma condição. Em 49 países que participaram da GEM 2018, o Brasil teve a 7ª maior proporção de mulheres entre os empreendedores iniciais, ou seja, aqueles com negócios com até 3,5 anos de existência.
Quando se fala de Microempreendedor Individual, as mulheres ocupam um lugar ainda mais expressivo. Uma pesquisa do Sebrae revela que, em 2020, elas representam 47% do total de empreendedores formalizados nesta categoria no Brasil. A maior parte está envolvida com atividades nos setores de alimentação, moda e beleza e 55% trabalha predominantemente em casa. Em Montes Claros, maior cidade do Norte de Minas, de acordo com dados da Sala Mineira do Empreendedor, dos mais de 20 mil microempreendedores, 43% são mulheres.
Mas os desafios ainda são muitos. Dados apontam que as mulheres empreendem mais por necessidade do que por oportunidade, ressalta a assistente do Sebrae Minas, Samira Melo. “Nós mulheres enfrentamos jornadas duplas ou triplas, e por isso, muitas vezes isso atrapalha nosso crescimento profissional. Outro complicador é que as linhas de credito para as mulheres são mais caras e com menor número, mesmo que dados mostrem que elas são mais adimplentes”.
Como é o caso da empresária Fernanda Sandra. Ela foi funcionária de uma floricultura por cinco anos e amava a profissão. Até que um dia o patrão resolveu fechar o estabelecimento. Preocupada em manter ela e os filhos a empreendedora se juntou com dois amigos e abriu o próprio negócio, na mesma área.
“Foram muitas lutas. Não foi nada fácil. Vieram as dificuldades, mas fomos com a cara e a coragem e com Deus na frente e a ajuda de verdadeiros amigos conseguimos dar o primeiro passo”, conta.
Fernanda disse ainda que já sofreu preconceito no mercado de trabalho apenas pelo fato de ser mulher. “Algumas pessoas sempre acharam que eu não ia conseguir dar a volta por cima, mas hoje vejo que nós mulheres podemos tudo, basta querermos, correr atrás e não cruzarmos os braços na primeira dificuldade”, diz.
Com dois anos de empreendimento, atualmente ela se sente realizada. “Deus nunca nos desampara e com o tempo e muito trabalho o seu sonho pode se tornar realidade”, destaca.
Apoio para elas
Para apoiar o empreendedorismo feminino e ajudar a tornar os seus negócios mais competitivos, o Sebrae criou um programa exclusivo para as mulheres: o Sebrae Delas. Nele, estão contempladas diversas ações para incentivar, apoiar e fortalecer a cultura empreendedora entre as mulheres. “O objetivo do programa é capacitar e orientar as mulheres que transformam sonhos em oportunidades de negócios, estimulando o desenvolvimento de competências, comportamentos e habilidades”, revela Samira Melo.
Em Montes Claros, o projeto atende desde o ano passado, 22 empreendedoras, com diversos perfis, que são orientadas gratuitamente com cursos e capacitações para que possam aprimorar e acelerar seus negócios.
Uma das participantes do programa é Daiane Siman, graduada em administração. Após trabalhar em uma empresa por 15 anos como coordenadora de vendas, resolveu seguir carreira solo, se qualificou, e hoje é mentora financeira e ministra palestras e treinamentos sobre finanças e investimento. “Com o apoio do Sebrae Delas abri os olhos para novas oportunidades e apreendi a ter um propósito e estruturar meu negócio. Hoje, com meu trabalho, contribuo para a realização dos sonhos de outras pessoas também”, ressalta.
Empreendera na melhor idade
Aposentadoria é ficar parada em casa vendo a vida passar? Não para Juraci Lourdes Silveira, 74 anos, casada, mãe de três filhos e três netos, moradora da Vila Campos, região sul de Montes Claros. Depois de encerrar o ciclo como professora, a “Dona Juju”, como é conhecida, tratou de procurar algo para ocupar o tempo e também gerar uma renda para completar o salário da aposentadoria.
“Comecei com alguns panos de prato. Comprei o tecido, trabalhei com enfeites e crochês e rapidamente vendi todos, foi então que empolguei e vi que poderia investir em artesanato. Fui inovando, me capacitando e hoje vendo meus produtos em casa, por encomenda e também nas feirinhas de artesanato da Praça da Matriz e do Morada do Parque”, conta.
Assídua nas redes sociais, com a ajuda da filha, Juraci criou a marca Mãos de Juju, onde é feita a divulgação dos seus trabalhos artesanais. E se engana quem pensa que Dona Juju cansa com tantas atividades. “Ninguém pode parar de produzir, seja por satisfação pessoal, para contribuir com a comunidade, ou para gerar renda para que possamos ter nosso próprio dinheiro, viajar e fazer várias coisas. Adoro levantar cedo, fazer minha caminhada e ir trabalhar”, completa Dona Juju.
** Escrita pelos repórteres Cida Santana (Ascom Sebrae-MG) e Carlos Alberto Jr.