Descarte sustentável de lixo se torna cada vez mais realidade no Norte de Minas

Cerca de 30 toneladas de lixo eletrônicos são coletados mensalmente em Montes Claros e outras cidades norte-mineiras, segundo dados da E-Ambiental, uma das empresas licenciadas para gerenciamento destes resíduos na região. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) prevê que este tipo de material, juntamente com pneus, óleos lubrificantes e lâmpadas fluorescentes, integra um sistema de logística reversa, ou seja, os produtos devem retornar aos fabricantes após serem utilizados pelos consumidores, sendo coletados de forma independente do serviço público de limpeza urbana.

De acordo com informações do Global E-Waste Monitor 2017, último relatório da União Internacional de Telecomunicações da ONU, o Brasil é o sétimo maior produtor de lixo eletrônico no mundo. Quando a abrangência do levantamento é reduzida para a América Latina, o país está em primeiro lugar. De acordo com o diretor da E-Ambiental, Felipe Custódio Moura, ainda falta conhecimento da população a respeito dos danos que o descarte incorreto do material causa à natureza.

“O lixo eletrônico é composto por muito metal pesado e, então, a partir do momento que você joga na natureza, ele acaba retornando para você como contaminante em forma de alimento, água e ar. O Brasil conta com a Política de Resíduos Sólidos, que tem algumas diretrizes. Todo fabricante, o governo e as próprias pessoas físicas são responsáveis, hoje, pelo descarte correto de lixo eletrônico, só que isso ainda não acontece. A lei foi criada, mas não existe fiscalização e poucas pessoas cumprem essa legislação no Brasil”, ressalta.

Reciclagem do lixo

Para recolher o lixo eletrônico, a empresa promove campanhas e organiza eventos, como gincanas solidárias. Após triagem do material coletado, aqueles que estão em bom funcionamento são reaproveitados, como o caso de computadores, posteriormente doados para escolas e instituições de caridade, que também auxiliam no recolhimento destes produtos.O lixo eletrônico coletado e que não pode ser reaproveitado – cerca de 95% -, é desmontado. “Desse resíduo é separado alumínio, cobre, prata e todos os componentes que fazem parte da produção do lixo eletrônico, que conseguimos fazer a logística reversa, colocando dentro das indústrias responsáveis pela reciclagem, onde sairão novos produtos”, explica Moura.

Além do lixo eletrônico, como televisores, computadores e celulares, a empresa coleta pilhas, baterias e lâmpadas, também previstas no sistema de logística reversa. Ao todo, são vários ecopontos em Montes Claros, distribuídos em lojas de celulares, faculdades e outras instituições, como shoppings, igrejas e organizações públicas.

Apesar de não ser prevista na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), o descarte sustentável de medicamentos conta com legislação própria em Montes Claros. Há uma Lei Municipal em vigor que estabelece que “farmácias, drogarias e farmácias de manipulação ficam obrigadas a instalar pontos de coleta, em local de fácil visualização, para recolhimento de medicamentos impróprios para o consumo ou com data de validade vencida”.

Para o ambientalista Pedro Augusto de Carvalho, a ideia pode ser considerada como “uma logística reversa estabelecida pelo município para esse tipo de resíduo”. Segundo ele, o sistema de logística reversa ainda enfrenta grande dificuldade no Brasil, especialmente em relação ao lixo eletrônico. Entretanto, outros materiais contam com boa adesão por parte da população e comerciantes, como no caso de óleo de cozinha, que pode ser descartado em mercados, e mesmo óleos lubrificantes.

Desde o final da década de 1990, a dentista Carmem Oliveira faz a separação do lixo reciclável. A tarefa começou com seus pais e, hoje, ela passa a lição para os filhos – como uma tradição familiar. A falta de adesão da população em torno da separação de resíduos recicláveis é opinião unânime entre especialistas e profissionais que lidam diretamente com o serviço. Desta forma, Carmem Oliveira está entre os montesclarenses que, à sua maneira, procuram reduzir os impactos causados pela alta quantidade de lixo descartada no município.

Para ela, a separação do lixo é algo simples de executar, especialmente para a coleta seletiva onde não há necessidade em dividir o material reciclável entre vidro, plástico, papel e metal. Ela conta que a separação do lixo virou parte da rotina da família.

“É só você ter dois contêineres: um para o lixo orgânico e outro para o reciclável. É muito fácil. É um hábito que se cria e vira uma coisa automática, que não requer esforço nenhum a partir do momento em que você está acostumada com aquilo. Quando você nunca foi apresentada a essa rotina, parece uma coisa grande e pesada ter que lavar o recipiente mas, para nós, não é nada. E eu acho que é uma contribuição enorme, principalmente aqui no Brasil onde se utiliza aterro sanitário. Então, quanto menos você puder contribuir para o aumento desse aterro sanitário, melhor”, destaca Carmem Oliveira.

Projeto “Lixo Zero”

Desde que saiu da casa dos pais para morar com a irmã, a comerciária Pâmela de Freitas Caldas começou a se incomodar com a quantidade de lixo gerada na residência. Com isso, a jovem de 30 anos começou a pesquisar sobre reciclagem e sustentabilidade, de maneira geral, modificando suas ações em relação ao tema. Um dos conceitos que basearam a mudança é do “lixo zero”, cujo objetivo é o aproveitamento e encaminhamento correto dos resíduos recicláveis e orgânicos, além de buscar a redução de descarte desses materiais para os aterros sanitários.

Uma personagem relacionada à proposta é Lauren Singer, idealizadora do blog “Trashis for Tossers”. Lauren viveu anos com um pequeno pote de vidro, onde depositou o lixo que utilizou. “Aqui no Brasil, tem dificuldade nessas questões. Não temos tanto uma política de reutilizar as coisas, até com relação à nossa higiene, onde compramos muitos produtos de beleza. Por exemplo, nos Estados Unidos, tem mercado que você enche o pote de shampoo e do condicionador, você não precisa comprar uma embalagem nova”, diz Pâmela.

Na dificuldade em seguir as ideias da blogueira americana, a comerciária montesclarense encontrou uma brasileira, chamada Cristal Muniz, que mantém uma conta no Instagram chamada “Uma Vida Sem Lixo”.  “Eu comecei a aprender muita coisa com ela, para adaptar à nossa realidade aqui em Montes Claros. Eu acho que a questão do ‘lixo zero’ e de sustentabilidade abrem muitas portas para outras questões. Não é só você pensar em reciclagem, mas na cadeia de produção como um todo. Eu estou sempre recusando sacola plástica, então, às vezes, vou fazer compra com uma sacola maior e, além disso, eu mesma tenho feito meus produtos de limpeza. Eu acho que isso cria uma corrente muito legal, porque as pessoas querem saber mais e você muda o mundo de pouquinho em pouquinho”.

A rotina de Pâmela Caldas e a irmã envolve separar o lixo reciclável do orgânico. O material que pode ser reaproveitado é descartado em um supermercado próximo à sua residência, no Cidade Nova. “Na área externa do estabelecimento tem a separação do papel, metal, plástico e vidro. Inclusive, eles fazem coleta de óleo também, para reutilizar. Tudo que consumimos de alimentos e dá para reutilizar, nós lavamos e guardamos em uma sacola e, quando vamos ao supermercado, deixamos lá”, conta.

Dentro da proposta de redução do lixo, a comerciária Pâmela Caldas procura, também, reutilizar determinados materiais. “Eu não sei dizer a última vez que eu comprei algum papel de presente ou alguma fita para amarrar. Natal é uma época que eu aproveito muito essas coisas no restante do ano, porque, às vezes, a eu ganho presente e tento reutilizar a embalagem que eu ganhei no presente para outra pessoa”, finaliza.

**Escrita pelo repórter Ricardo Arruda