Professor transforma expedição ambiental em mostra e alerta sobre grande fragilidade do Velho Chico

Barcos atracados, pequenas plantações e casas de barro que fazem parte do típico cenário das comunidades ribeirinhas e barranqueiras e ainda resistem ao tempo no Norte de Minas. Mas, cada vez mais, elas convivem com o aumento da degradação do rio e seu entorno. O relato faz parte da experiência que teve o professor Cássio Alexandre Silva, da Universidade Estadual de Montes Claros, ao descer o leito do Rio São Francisco por quase 300 quilômetros, durante sete dias, entre julho e agosto.

O resultado da expedição, que percorreu 282 quilômetros entre as cidades de Pirapora e Januária, pode ser visto na exposição – “Amigos do Velho Chico: Olhares Atentos, Naturezas das Geograficidades no Sertão dos Gerais Mineiro” – organizada pelo pesquisador de forma itinerante, no campus-sede, e que estará na programação do VI Colóquio Internacional de Povos e Comunidades Tradicionais, entre os dias 23 e 27 de setembro, na sede da Unimontes. Os painéis serão montados no prédio 2. A primeira montagem foi no mês passado, durante o “A Gosto da Unimontes”, com visitação na Biblioteca Central.

ACELERADO

Uma das constatações da expedição: o comprometimento da margem do rio em Pedras de Maria da Cruz pela falta de vegetação

“O processo de degradação está cada vez mais acelerado”, revela o professor, que é o coordenador adjunto do mestrado em Geografia (PPGEO/Unimontes) e responsável pela disciplina de Geografia Cultural nos cursos de graduação.

Cássio Alexandre revela que bateu o próprio recorde em expedições pelo Rio. Em outras nove oportunidades, havia descido o Velho Chico sempre no trecho entre Três Marias e Pirapora, de 124 quilômetros, para fazer comparativos sobre cobertura vegetal, volume e vazão de água, assoreamento, nível de contaminação da água, extensão entre margens e batimetria (medição da profundidade de leitos).

“Assumi um desafio maior justamente para acompanhar a realidade de outro trecho do Rio. Ainda nem estamos no período crítico de seca e o assoreamento assusta; e muito. Por quatro vezes, tive que desencalhar o caiaque porque o São Francisco está raso justamente onde deveria ser mais fundo: no meio do rio”.

(Foto: Christiano Jilvan)

Nas imagens selecionadas para a exposição há flagrantes de bombeamentos de água em grande escala para propriedades rurais e agroindústria, corte de lenhas em série, além de grandes bancos de areia e grandes áreas às margens, que deveriam ser de mata ciliar, totalmente desprotegidas ou com árvores e vegetação de pequeno ou, no máximo, médio porte. Há, ainda, flagrante de animais como lagartos, aves e cobras e árvores como o ipê roxo que resistem ao desmatamento.

“Fica mais uma vez o alerta de como estamos perdendo o rio aos poucos”, conclui Cássio, que esteve acompanhado por outros nove expedicionários em caiaques e barcos de apoio, entre Marinheiro mercante, desportistas, pescadores, ribeirinhos, fotógrafos e ambientalistas.

A maior parte do grupo seguiu por mais 300 quilômetros pelo São Francisco até à cidade baiana de Bom Jesus da Lapa.

Homens fazem a extração manual de areia.

Fonte: Ascom da Unimontes