O filme de terror de maior sucesso na história da bilheteria norte-americana ataca novamente. O “Capítulo Dois” do protagonista Pennywise, um palhaço macabro, já quebrou recordes na estreia no último fim de semana, ficando atrás apenas do seu antecessor, lançado em 2017. E quem surfou no sucesso foi um professor (e ator) do Norte de Minas, que decidiu sair pelo interior do Estado fantasiado do aterrorizante personagem.
A página Diários de um Rodrigo tornou-se um sucesso na internet ao relatar espanto de pessoas que o flagraram caracterizado de Pennywise e, especialmente, de um motorista de Uber. “Ele perguntou se tava calor e se queria que aumentasse o ar, eu disse que sim, que lá onde eu tava que era muito quente, ele fez o sinal da cruz e ficou calado”, escreveu em um publicação, que alcançou quase 100 mil compartilhamentos.
“Na hora que fui descer do carro meu balão estourou na porta e o Uber deu um grito. Perguntei quanto que tinha ficado a corrida, ele disse que eu não precisava pagar, eu insisti, pois era o trabalho dele e ele foi o único que parou pra mim”, relata em outro trecho. “Coloquei o dinheiro no banco do passageiro, agradeci e fui pra entrar em casa. Ainda colocando a chave na fechadura eu escutava ele falando de dentro do carro: ‘Vai quebrando, Senhor… Toda maldição e feitiçaria…’”, finaliza.
Mas quem é Rodrigo? Onde ocorreram esses casos? Essas histórias deliciosas são mesmo reais?
Quem é Rodrigo?
O responsável pela página Diários de um Rodrigo é, veja só que curioso, o Rodrigo. Bom, falando sério, o autor é Rodrigo Jhosé Pereira, de 27 anos, natural de Porteirinha, uma cidade do Norte mineiro com cerca de 38 mil habitantes. Rodrigo é professor de Artes e Teatro e ator. Ah, e suas peripécias ocorreram em Montes Claros, cidade pólo da região onde ele também mora atualmente, a 170 KM de Porteirinha.
Mora “também” porque o educador reveza sua moradia entre as duas cidades, onde dá aula para alunos do 6º ao 3º ano do Ensino Médio, em quatro escolas diferentes. Agora que você já “conhece” o mineiro mais famoso de todos os tempos da última semana, vamos ao principal: rolou mesmo esse rolê aleatório?
‘A Coisa’ no ponto de ônibus
“A Coisa” é uma das formas como o aterrorizante palhaço Pennywise é conhecido. Imagine você se deparar com uma figura macabra dessas quase na madrugada em um ponto de ônibus?
“Quando o filme acabou já tava muito tarde e eu fiquei com medo de ser assaltado no ponto de ônibus já que aquele ponto é famoso por isso. Aí fiquei usando a fantasia pra tentar fazer amizade com os bandidos que quisessem me assaltar já que alguns deles gostam desse tipo de coisa de palhaço assassino, sei lá…”, ironiza, no relato, Rodrigo.
“O problema é que os ônibus passaram tudo reto, nenhum parava pra mim. Tive que chamar Uber… Na verdade tive que chamar dois Ubers, o primeiro esqueci de avisar que eu estaria fantasiado e ele deu uma arrancada forte e foi embora quando acenei pra ele”, continua.
Mas isso é verdade? Não e sim. Ele realmente assistiu ao filme fantasiado e foi ao tal ponto de ônibus. Mas apenas para tirar a foto (que mais tarde viralizaria por todo o país), após a sugestão do amigo com quem ele estava. “Meu amigo até falou que a foto ia virar meme. Me mandou ir pra praça de alimentação do shopping, mas ela tava fechada. Aí fui pro ponto de ônibus”, conta ao BHAZ.
Portanto, toda a história pra lá de divertida com o motorista de Uber (que abre esta reportagem) não existiu. Ah, ele foi embora, sim, de Uber – mas sem máscara e sem “exorcismo”.
“Eu poderia trocar de roupa, mas era uma coisa tão trabalhosa que pensei ‘vou voltar pra casa assim mesmo.’ Como não tinha ônibus mais, pensei em chamar um Uber. Enquanto esperava fiquei imaginando situações que poderiam acontecer, e depois transformei em uma história”.
Terror no cinema
“O legal de ir pro cinema de cosplay pra ver um filme de terror, é que você pode ser o primeiro a entrar e todo mundo que entra na sala depois de você e te vê lá sozinho acaba indo embora. Vi o filme sem ninguém pra atrapalhar, foi maravilhoso”, diz, em outra publicação.
Sim, ele realmente foi ao cinema fantasiado – afinal, essa é uma das diversões do cosplay. Mas nem mesmo de máscara ele estava. “Muito desconfortável”.
‘Tá repreendido’
Outro trecho hilário da aventura de Rodrigo conta uma suposta invasão do próprio, fantasiado do palhaço macabro, no filme do ícone evangélico Edir Macedo – “Nada a Perder 2”.
“Quando entrei na sala de cinema achei que os fãs iriam me aplaudir, mas todo mundo começou a gritar “Tá repreendido”, “queima”, “Tá amarrado” e jogaram pipocas e latinhas de refri em mim, saí correndo e percebi que tinha entrado por engano na sala do filme do Edir Macedo”, diz em um trecho do texto.
Bom, apesar da hipotética cena aparentar ter sido super divertida, não passou do campo hipotético mesmo. Na verdade, Rodrigo só foi ao cinema uma vez, e utilizou uma foto tirada no mesmo dia para ilustrar.
Perrengue real oficial
Mas as peripécias não foram feitas só de histórias fictícias. Como o zíper fica nas costas, retirar a fantasia sem a ajuda de alguém foi (e é) uma tarefa complicada. E Rodrigo aprendeu isso da pior forma.
“Em Porteirinha minha mãe me ajudava a fechar o zíper, mas como moro sozinho em Montes Claros, passei um aperto. Tentei chamar vizinhos, mas elas já me acham meio estranho. Como faço teatro às vezes fico ensaiando em voz alta sozinho. Pensei: ‘se eu chamar o vizinho para abrir o zíper das costas, ele vai chamar a policia’”, diz.
Após uma manhã inteira refletindo sobre o que fazer, ele chegou à solução. “Consegui ‘enganchar’ o zíper no balcão da cozinha, e fazer um movimento para abrir ele”, explica, em meio aos risos de nervoso.
‘Nem gosto muito de terror’
Apesar disso, ainda que tenha viralizado na pele do palhaço macabro, Rodrigo revela que filmes de terror não são seus favoritos. “Prefiro mais os de super-herói”, diz. Durante a entrevista ao BHAZ, o jovem revela que escolheu Pennywise por outro motivo: sua habilidade em imitar o sorriso “peculiar” do personagem criado por Stephen King.
Talvez você se lembre de Rodrigo como o jovem que viralizou em 2017 nas redes sociais. Na época, ele havia publicado que, após ficar a tarde inteira treinando o sorriso do palhaço de IT, não conseguia mais parar e estava deixando sua mãe nervosa.
“No post eu disse que minha mãe queria me dar uma chinelada na boca. Aí postei a foto da risada e muitas pessoas compartilharam”, lembra Rodrigo.
O professor explica, ainda, que é comum a publicação de histórias semelhantes a do palhaço macabro em sua página, Diários de um Rodrigo. Normalmente, ele se inspira em histórias verdadeiras, mas sempre dá aquela pitada de ficção “para ficar mais engraçado”.
“Meus amigos sempre falaram que eu tinha ideias muito bobas, mas que faziam o povo rir. No começo eu postava tudo no meu perfil pessoal, mas as pessoas ficavam confundindo e achando que as coisas eram reais. Criei a página porque sempre tive essa vontade de contar histórias, mas sem a obrigação de ser fiel com a realidade”, explica Rodrigo ao BHAZ.
Para os novos seguidores da página, o jovem adianta que pretende ir fantasiado do vilão Coringa para a estreia do filme homônimo, no dia 3 de outubro. Para o novo cosplay, ele vai cortar o cabelo e doar as madeixas para a Fundação Sara – instituição beneficente que atende crianças e adolescentes com câncer.
Fonte: Débora Anunciação – Bhaz.