De decisivo a contestado: Thiago Neves vive declínio e momento turbulento no Cruzeiro

Foto: Alexandre Guzanshe/EM D.A Press

Um dos principais alvos de protestos dos torcedores do Cruzeiro, Thiago Neves era até pouco tempo lembrado como “cara das decisões”. Afinal, ele carregava o histórico de colaborar com gols e/ou assistências em mata-matas desde a sua contratação, em janeiro de 2017. Depois de dois anos ovacionado pelos cruzeirenses, o jogador vive declínio e momento de turbulência na Toca.

O ponto-chave é a relação entre Thiago Neves e Rogério Ceni. Que começou positiva, com elogios do meia ao modelo de jogo preparado pelo treinador para sua estreia à frente da equipe, em 18 de agosto, contra o Santos, no Mineirão.

“É assim que o torcedor quer ver o Cruzeiro e é assim que a gente quer jogar também. Na hora de marcar, todo mundo sabe que tem que marcar. Parabéns a todo mundo pela partida. O mais importante são os três pontos que nos ajudam a sair lá de baixo”.

O Cruzeiro, que jogou com um atleta a mais desde o princípio da partida – Gustavo Henrique tomou cartão vermelho por cometer falta em Pedro Rocha e impedir lance claro de gol -, finalizou 19 vezes. Thiago Neves fez o segundo gol da vitória por 2 a 0 e exigiu três grandes defesas de Everson.

“Todo mundo sabe chutar, sabe finalizar, o time do Cruzeiro é muito bom, a confiança que ele passou foi o mais importante pra gente finalizar em gols. Hoje aconteceram várias finalizações. Importante foi ganhar, independentemente do número de finalizações”.

Aparentemente, a declaração de Thiago transmitia descontentamento com a filosofia defensiva de Mano Menezes, que se desligou do Cruzeiro após a derrota para o Internacional por 1 a 0, em 7 de agosto, no Mineirão, pela ida da semifinal da Copa do Brasil.

Entretanto, ele “mudou o discurso” em entrevista no Beira-Rio, em Porto Alegre, depois da eliminação na semifinal da Copa do Brasil, com revés por 3 a 0 para o Internacional. Na ocasião, Thiago criticou abertamente algumas mudanças promovidas por Ceni, que escalou, por exemplo, o volante Jadson improvisado na lateral direita.

“É um jogo diferente, a gente precisou se adaptar. Na minha opinião, você mudar três ou quatro jogadores em uma decisão fora de casa é muita coisa, em um time que já vem formado. Improvisar jogadores é difícil, ainda mais jogadores que não vêm jogando. Ficou um pouco complicado, mas mesmo assim a gente conseguiu fazer um bom primeiro tempo. E aí o primeiro gol complicou”.

Conforme Thiago Neves, os atletas teriam sido informados da escalação poucas horas antes da partida. “A gente ficou sabendo na preleção, sei lá, duas ou três horas antes do jogo. Na minha opinião, achei muito em cima da hora. Você improvisar três ou quatro jogadores numa linha que já vinha formada há dois anos. Nada contra, óbvio que queremos ganhar, jogadores que entraram jogaram bem, mas é muita coisa para um segundo jogo de semifinal”.

Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro)

Rogério Ceni rebateu a fala de Thiago Neves no domingo, na coletiva pós-goleada para o Grêmio, por 4 a 1, no Independência, pela 18ª rodada do Brasileiro. De acordo com o técnico, o meia se manifestou daquela forma em função da amizade com Edilson, reserva diante do Inter. O lateral-direito, que estava nos planos do técnico, havia afirmado ao Globoesporte.com não ter recebido a sequência necessária em compromissos anteriores para suportar o desgaste de uma semifinal de Copa do Brasil.

“Não estamos aqui para crucificar o Thiago, algo assim. Muito pelo contrário, é um jogador que tem uma história no clube. Dentro de suas melhores condições e com a cabeça boa, é um jogador importante para a gente. Às vezes o que aconteceu, acredito muito na declaração do Thiago, foi porque viu um amigo no banco de reservas, que, no caso, foi o Edilson. Houve a improvisação do Jadson na lateral direita. De resto, se você pegar o time que jogou contra o Internacional, é o mesmo que jogou contra Vasco e CSA, todos conhecedores de sua posição”, disse o técnico, negando, em seguida, o que havia sido repassado por Neves.

“A escalação nunca é divulgada só três horas antes do jogo. Quero deixar isso bem claro. Mas tenho o maior respeito. E mais do que amigo ou emocional, sou profissional. Entendo o nervosismo na saída do jogo, é um momento difícil, você quer tentar uma explicação. Mas não temos um ou outro jogador culpado. Só tenho que, de alguma maneira como treinador, se for para ficar no Cruzeiro, preciso fazer alguma coisa diferente. Se não, preciso passar a vez a outra pessoa que tenha uma mentalidade diferente para continuar no Cruzeiro”, complementou.

Ceni ressaltou ainda que alguns atletas vão precisar passar por espécie de intertemporada, de modo que melhorem suas condições físicas e voltem a ser úteis ao Cruzeiro. Ele não citou abertamente o nome de Thiago Neves, nem de outro veterano.

“Não adianta criticar um jogador publicamente e nem vir aqui ao microfone, quando você está triste, dar declarações em que pode se arrepender. Assim como a gente está alegre não deve prometer muitas coisas. Precisamos fazer algumas mudanças comportamentais, talvez para alguns atletas uma intertemporada. Podemos modificar também a nossa maneira de jogar. Por mais que eu goste de futebol ofensivo e tente sempre privilegiar os jogadores de alta qualidade técnica, para isso você precisa ter a bola. Quando eu falei dos erros de passe, eles se avolumaram. Tenho jogadores que considero ótimos passadores, mas não estão conseguindo executar. Talvez seja a hora de mudar o sistema de jogo e preparar melhor durante 10, 12 ou 14 dias esses jogadores para que eles possam voltar e também serem mais úteis ao Cruzeiro. Eu também preciso mudar um pouco para conseguir melhores resultados dentro de campo”.

Consultada pelo Superesportes nessa segunda-feira, a assessoria de comunicação do Cruzeiro, por meio do diretor Valdir Barbosa, negou qualquer possibilidade de o camisa 10 ser afastado. Jornalistas da Gazeta Esportiva, Record TV e Rádio Jovem Pan noticiaram tal fato. Nas redes sociais, torcedores têm se manifestado favoravelmente a Rogério e criticado de maneira veemente a postura de Thiago em virtude das falas polêmicas e também pelo mau rendimento em campo.

Números

Os números de Thiago Neves pelo Cruzeiro ressaltam o quão ele foi importante em jogos de mata-mata. Em 43 partidas eliminatórias, ele marcou 14 gols, deu seis assistências e conquistou quatro títulos: dois da Copa do Brasil, em 2017 e 2018, e dois do Campeonato Mineiro, em 2018 e 2019. Foram 20 classificações e apenas cinco tropeços.

Na final da Copa do Brasil de 2018, Thiago balançou a rede na vitória sobre o Corinthians, por 1 a 0, em 10 de outubro, no Mineirão, pelo jogo de ida da final. Meses antes, em abril, ele havia marcado no duelo de volta da decisão do Mineiro, diante do Atlético: 2 a 0.

Nos momentos áureos do experiente atleta, o Cruzeiro recusou duas propostas oriundas do mundo árabe em 2018: uma de US$ 3,5 milhões (R$ 11 milhões), em janeiro, e outra de 3 milhões de euros (R$ 13,32 milhões), em agosto. A decisão da diretoria teve retorno técnico, com o título da Copa do Brasil, e financeiro, graças à premiação de R$ 61,9 milhões (R$ 50 milhões exclusivos pela conquista).

Cobiçado por Grêmio e Corinthians, Thiago Neves acertou em janeiro de 2019 a renovação contratual com o Cruzeiro até dezembro de 2020. A partir dali, começou a enfrentar problemas físicos, como as três lesões que acometeram sua panturrilha direita. Por causa disso, teve a sequência comprometida no Mineiro e participou somente de cinco jogos. Na Libertadores, não balançou a rede uma vez sequer.

Na Copa do Brasil, TN10 chamou a responsabilidade nas oitavas de final, ao marcar os dois gols do empate por 2 a 2 com o Fluminense e converter sua cobrança na disputa por pênaltis (vitória por 3 a 1). Nas quartas, anotou o segundo tento da goleada sobre o Atlético, por 3 a 0, pelo jogo de ida. Na semifinal, ficou negativamente marcado pelo rendimento ineficaz nos duelos contra o Internacional.

No Campeonato Brasileiro, Thiago Neves disputou 14 jogos e contabilizou quatro gols. Além do tento contra o Santos, ele deixou sua marca na vitória sobre o Ceará (1 a 0), na derrota para a Chapecoense (2 a 1) e no empate com o São Paulo (1 a 1).

Foto: Alexandre Guzanshe/EM D.A Press)

Fonte: Super Esportes.