Dois jovens que cometeram atos infracionais e cumprem medida no Centro Socioeducativo de Unaí, no Noroeste do estado, terão oportunidade de trilhar um novo caminho em suas vidas com as possibilidades que o ensino superior traz. Dentro da escola da unidade, foram apoiados pelos profissionais e professores a estudar, se preparar e conseguiram conquistar vagas no curso de Agronomia, do campus Unaí da Universidade Federal dos Vales Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
Os dois jovens estão no Centro Socioeducativo há mais de um ano e, desde então, retomaram estudos que foram abandonados lá fora. Conseguiram uma boa nota no Exame Nacional do Ensino Médio para Pessoas Privadas de Liberdade (Enem PPL) e, agora, autorização judicial para ir à faculdade todos os dias em busca de um novo futuro.
O jovem Renan Rodrigues*, 18 anos, diz que sempre sonhou cursar Agronomia, mas que a história da sua vida o fazia desacreditar nesta possibilidade. Segundo ele, o apoio da equipe pedagógica da unidade foi fundamental para que ele pudesse retomar o gosto pelos estudos. “Quase não acreditei quando me contaram que eu tinha sido aprovado. Eu estava com a vida de cabeça pra baixo e estou me apegando a essa oportunidade para realmente ter um futuro diferente”, afirma. Para o jovem, a satisfação que este resultado traz para a sua família é um “combustível” para superar qualquer dificuldade que possa surgir. “Eu, que já fiz minha mãe chorar de desgosto, agora a vejo sorrindo e sentindo orgulho de mim novamente”.
Já Felipe Soares*, 19 anos, cresceu no campo e também diz que ser um agrônomo e trabalhar na lavoura sempre foi algo desejado. “Quando eu entrei aqui foquei nos estudos para tentar tirar de um acontecimento ruim algo de bom. Sei que o caminho é longo e que não será tão fácil, mas vou me dedicar e não desanimar”.
Resultados
Os trabalhos desenvolvidos pelo Centro Socioeducativo de Unaí na área de Educação têm dado frutos. Além dos dois jovens, que ingressam na UFVJM, a unidade teve outros dois aprovados em curso superior, no primeiro semestre deste ano. Pedro Ramos*, 18 anos, foi aprovado em Pedagogia, na Unimontes, em Paracatu, e Rafael Rezende*, 19 anos, ingressou no curso de Engenharia Elétrica, no Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM), também em Paracatu.
De acordo com o diretor-geral do Centro Socioeducativo de Unaí, José Adeiro da Fonseca, o rompimento da trajetória infracional e a oportunidade de ingresso de quatro jovens em um curso superior foi possível graças ao empenho deles, aos conselhos e ensinamentos da equipe pedagógica e professores da unidade e, principalmente, à presença da família durante o cumprimento da medida. “É gratificante saber que a medida socioeducativa contribuiu para o acesso dos adolescentes ao ensino superior. Hoje eles conseguem acreditar em alternativas para uma vida alheia à criminalidade e para construção de um novo estilo de vida”.
A pedagoga do Centro Socioeducativo de Unaí, Humara Couto, ressalta a satisfação com a conquista dos jovens e o incentivo que esse resultado dá a outros adolescentes. “A gente conversa com eles, incentiva, tira dúvidas e vê que está dando certo. Esse tipo de resultado acaba influenciando os outros adolescentes que estão concluindo o ensino médio este ano e que já estão se dedicando mais porque viram que sim, é possível modificar a trajetória da vida”.
Cumprimento de medidas e estudos
Em Minas Gerais, 100% dos adolescentes que cumprem medidas socioeducativas nas unidades administradas pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) estudam, de acordo com diretrizes pedagógicas pensadas exclusivamente para jovens privados de liberdade.
Mais que continuidade de estudos, as escolas formais montadas dentro das unidades socioeducativas têm significado um retorno destes jovens aos bancos da escola. Cerca de 20% dos adolescentes que entram no sistema socioeducativo após a prática de um ato infracional apresentam média de quatro anos de distorção entre a idade e a série em que se encontram matriculados. Além disso, quando estes adolescentes chegam para o cumprimento das medidas, geralmente não possuem vínculo com a escola, pois já abandonaram os estudos.
Assim como os jovens que se matricularam no Enem PPL e conseguiram uma vaga em universidades, todos os anos, cerca de 200 jovens são preparados para esta avaliação em Minas Gerais.
* O nome é fictício para preservar a identidade dos adolescentes, segundo determinação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Fonte: SEGOV MG.