Casca do pequi pode ser fonte alternativa de combustível renovável e viável

Fotos: Ascom do IFNMG/ Divulgação

Já pensou se veículos automotores fossem movidos a etanol extraído da casca do pequi? Não!? Pois as estudantes Aryane de Oliveira Coelho e Maria Alice Andrade Ferreira, do curso de Engenharia Química do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG), Campus Montes Claros, pensaram nisso. Na verdade, foram além e fizeram uma pesquisa que constatou a presença de álcool no fruto na concentração de 8,5% (v/v) no destilado proveniente da etapa de fermentação. Isso significa que a partir do pequi é possível obter um combustível de fonte renovável de grande aplicabilidade social.

Os resultados da pesquisa foram apresentados no VIII Seminário de Iniciação Científica, realizado, neste ano, no IFNMG-Campus Pirapora, por meio de um estudo intitulado “Avaliação do uso potencial da casca do pequi (Cariocar brasiliense) na obtenção do etanol lignocelulósico”. O trabalho foi premiado no SIC em primeiro lugar na área de Engenharias.

A universitária Maria Alice (foto ao lado) conta que a casca do pequi foi obtida de comerciantes do fruto na cidade de Francisco Sá, no norte de Minas Gerais. “A casca foi lavada com álcool isobutílico, a fim de se remover o óleo contido no material, realizando em seguida a secagem e posterior obtenção do farelo da casca do pequi. O farelo foi então submetido a tratamentos ácido, básico e enzimático, obtendo-se então o hidrolisado usado na fermentação e posterior destilação para a verificação da presença de etanol”, explica.

A pesquisa, que durou cerca de cinco meses, foi orientada pelos professores da área de química Pedro Henrique de Oliveira Gomes e Thalles Gonçalves. O professor Pedro confirma a possibilidade de extrair etanol da casca do pequi, porque este possui em sua composição um teor significativo de açúcares polimerizados, que podem ser hidrolisados e fermentados, a fim de obter o bioetanol.

Um ganho para a sustentabilidade ambiental

O trabalho das alunas amplia as discussões acerca de outras alternativas de combustíveis renováveis e viáveis, principalmente considerando a predominância dos combustíveis fósseis, que, de acordo com o orientador da pesquisa, provoca diversos problemas ambientais, seja no processo de extração ou nos compostos tóxicos gerados pela sua queima. Por causa desses problemas, “há alguns anos, foram intensificados os estudos por busca de fontes alternativas de combustíveis renováveis e viáveis. Um destes, já em utilização, é o bioetanol, etanol obtido a partir de fontes renováveis; no caso do Brasil, este é obtido principalmente pela hidrólise e fermentação de açúcares disponíveis na cana-de-açúcar”, analisa o professor.

No caso do pequi, o estudo não utilizou a polpa do fruto porque ele possui valor comercial e nutritivo. A estudante justifica o porquê de ter escolhido apenas a casca: “A escolha da casca de pequi veio da grande disponibilidade do fruto na região. Assim, nosso intuito foi impactar na redução de lixo orgânico na região, além do incremento da renda familiar daqueles que usam o fruto como fonte de renda, pois, assim, além da venda do caroço e do óleo de pequi, também seria possível a venda da sua casca para os possíveis produtores em larga escala desse bioetanol”.

Conforme o docente Pedro salienta, para que a extração apresente melhores resultados sobre a viabilidade do processo, são necessários mais e novos estudos. Daí a importância, como ele aponta, de valorizar os trabalhos que são desenvolvidos em instituições como no IFNMG. “Um dos princípios que norteiam os Institutos Federais é o estudo e busca por soluções que atendam o entorno das instituições. Ou seja, atendendo demandas regionais e locais. Aliado a isso, os resíduos urbanos e agroindustriais representam desafios à preservação ambiental, uma vez que são, muitas das vezes, descartados de forma inadequada. Um destes são os resíduos gerados pela extração mecânica de diversos óleos, propor uma aplicação viável a um resíduo outrora descartado, podem representar contribuições financeiras e ambientais a diversas comunidades”, argumenta o professor.

Fonte: Ascom do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais