Estados Unidos, França e Reino Unido bombardearam alvos na Síria na madrugada deste sábado, em uma ação coordenada contra o regime de Bashar Al Assad uma semana após um suposto ataque com armas químicas ter matado cerca de 40 civis nos arredores de Damasco. Na primeira reação de Moscou ao ataque, o embaixador russo nos Estados Unidos, Anatoly Antonov, advertiu “que estas ações não ficarão sem consequências”. “Toda a responsabilidade recai sobre Washington, Londres e Paris”.
O presidente americano, Donald Trump, anunciou ter ordenado “às forças armadas dos Estados Unidos ataques de precisão contra alvos associados à capacidade de armas químicas do ditador Bashar Al Assad”.
“No sábado passado, o governo de Assad utilizou novamente armas químicas para massacrar civis inocentes, desta vez na cidade de Duma (…). Este massacre foi uma escalada significativa no padrão de uso de armas químicas por parte deste regime terrível”.
“Este ataque desprezível e maligno deixou mães e pais, bebês e crianças sufocados. Estas não são as ações de um homem, são os crimes de um monstro”. “O objetivo de nossas ações esta noite foi estabelecer uma poderosa dissuasão contra a produção, distribuição e uso de armas químicas”.
O secretário americano de Defesa, general Jim Mattis, informou que os ataques terminaram e que “no momento, não planejamos ações adicionais”.
Segundo o general Mattis, foi enviada uma “mensagem clara” ao regime sírio. “É o momento de as nações civilizadas se unirem com urgência para acabar com a guerra civil, apoiando o processo de paz liderado pelas Nações Unidas”.
Posteriormente, a porta-voz do ministério russo das Relações Exteriores Maria Zajarova escreveu no Facebook: “os que estão por trás de tudo isto afirmam ter a liderança moral no mundo e declaram ser excepcionais, e realmente têm que ser muito excepcionais para bombardear a capital da Síria no momento em que havia a oportunidade de se ter um futuro pacífico”.
A agência oficial síria Sana declarou que a agressão “bárbara e brutal” teve como “principal objetivo dificultar o trabalho da Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq) e pressionar sua missão na tentativa de dissimular as mentiras e invenções” dos ocidentais.
A chancelaria iraniana emitiu uma nota na qual destaca que “os Estados Unidos e seus aliados, sem qualquer aviso e antes de uma posição da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ), realizou esta ação militar (…) contra a Síria e será responsável pelas consequências regionais desta aventura”.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, “apelou a todos os estados-membros que mostrem moderação diante destas perigosas circunstâncias e que evitem qualquer ação que possa provocar uma escalada da situação e piorar o sofrimento do povo sírio”.
– Alvos selecionados –
O chefe do Comando Conjunto dos EUA, general Joe Dunford, revelou em entrevista coletiva que os alvos “foram especificamente identificados para reduzir o risco de envolver as forças russas” na Síria.
O ministério russo das Relações Exteriores confirmou que “nenhum míssil de cruzeiro disparado por Estados Unidos e seus aliados entrou nas zonas de responsabilidade das defesas aéreas russas, que protegem instalações em Tartus e Hmeimim”.
As forças russas têm uma base naval em Tartus e uma base aérea em Hmeimim.
O ministério russo da Defesa revelou que foram disparados “mais de 100 mísseis de cruzeiro do mar e do ar contra objetivos militares e civis sírios (…) e um “número significativo” foi derrubado por defesa aérea local.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) informou que “foram registrados bombardeios ocidentais contra centros de pesquisa científica, várias bases militares e locais da Guarda Republicana em Damasco e seus arredores”.
A ministra francesa da Defesa, Florence Parly, revelou que os ataques atingiram o “principal centro de pesquisas” e “duas unidades de produção do programa clandestino químico” do regime sírio.
“Esta capacidade de desenvolver, de produzir armas químicas foi atingida (…). O objetivo era simples: impedir o regime de fazer novamente o uso de armas químicas”.
Segundo um oficial americano, os ataques aéreos coordenados utilizaram diferentes tipos de armas, incluindo mísseis de cruzeiro Tomahawk.
Quatro aviões tornado dispararam mísseis Storm Shadow contra “um complexo militar, uma antiga base de mísseis, a cerca de 24 km a oeste de Homs, onde se suspeita que o regime armazene substâncias para fabricar armas químicas”, revelou o ministério da Defesa em Londres.
“Foram realizadas análises muito cuidadosas para determinar onde era melhor atacar com os Storm Shadows a fim de maximizar a destruição de produtos químicos armazenados e minimizar qualquer risco de contaminação nas áreas circundantes”.
“As informações iniciais mostram que a precisão dos Storm Shadow e o planejamento meticuloso resultou em um ataque de sucesso”.
A TV estatal síria destacou que a defesa antiaérea entrou em ação contra a “agressão” americana.
Instantes depois de ordenar o ataque, Trump responsabilizou Rússia e Irã “por apoiar, equipar e financiar o regime criminoso” da Síria.
Por isso, acrescentou, a Rússia “descumpriu suas promessas” de impedir que o governo de Assad use armas químicas.
Em Londres, a primeira-ministra britânica, Theresa May, disse que não havia “alternativa prática” ao uso da força na Síria, ao anunciar que o Reino Unido se uniu à França e aos Estados Unidos para lançar ataques contra a Síria.
“Esta noite autorizei as Forças Armadas britânicas a realizar bombardeios coordenados e dirigidos para degradar as capacidades de armas químicas do regime e impedir seu uso”.
“Não havia uma alternativa prática ao uso da força para reduzir ou impedir a utilização de armas químicas por parte do regime sírio. Não se trata de intervir em uma guerra civil. Não se trata de mudar o regime. Se trata de ataques limitados e seletivos que não representam uma escalada das tensões na região e visam fazer o possível para evitar a morte de civis”.
Em Paris, o presidente francês, Emmanuel Macron, confirmou que a França participou da operação conjunta, destacando que os bombardeios estavam “circunscritos às capacidades do regime que permitem a produção e o uso de armas químicas”.
“Não podemos tolerar a banalização do uso de armas químicas”, explicou o presidente em um comunicado.