Polícia Civil instaura inquérito para apurar denúncia de estupro contra jornalista em Montes Claros

Um fato tem movimentado Montes Claros nos últimos dias. Uma jornalista da Câmara Municipal da cidade denunciou um abuso que sofreu do chefe do setor em que trabalha. Por respeito aos envolvidos e à situação, os nomes não serão revelados.

A Polícia Civil instaurou inquérito, nesta sexta-feira (02) e tem 30 dias para finalizar o caso. Segundo a delegada, Karine Maia, da delegacia de mulher, as situações constrangedoras eram recorrentes.

“Em depoimento a vítima contou que ele sempre fazia [gracinha] com ela, vinha com gracejos para cima dela, mandava mensagem. E então, em um dia ele a agarrou por trás, alisou a barriga e os seios dela e deu uma chupada no pescoço. Ela estava bem abalada durante a conversa e com medo de retaliação”, relata.

A delegada conta, ainda, que situações em âmbito corporativo intimidam as vítimas.

“Ela contou que não reagia muito às investidas dele por conta da hierarquia e medo de ser perseguida, por isso, ela não foi mais enfática com ele e a situação de chefe e funcionária, com certeza pesa mais”, afirma.

Em conversa com a vítima, ela contou ao Webterra que está muito abalada psicologicamente, mas, que o apoio da classe tem sido um alento.

“Eu me sinto mal com tudo isso. Vejo alguns olhares, já ouvi coisas absurdas inclusive de mulheres dizendo que isso é normal, que acontece mesmo. Mas também, me senti amparada pela minha classe, pelos meus amigos que me deram toda força para continuar. Não é fácil denunciar, não é fácil não se culpar. Mas acredito que, infelizmente, eu estou sendo exemplo para muitas, pois isso é comum no nosso cotidiano”, desabafa.
Além disso, ela diz ainda que se sente ameaçada, já que, o agressor tem dito que vai se matar e ela teme que ele possa fazer algo com ela.

Um boletim de ocorrência foi registrado, nesta segunda-feira (26), como tentativa de estupro.

Situação constrangedora 

Além do abuso sofrido pela vítima, ela passou por outra situação. A mulher dele foi até a Câmara procurando por ela e a acusando de qualquer coisa que pudesse acontecer com o marido e negando o envolvimento dele com o fato.

Sindicância 

O suspeito é contratado da Câmara há mais de 20 anos e foi afastado dos serviços por causa de uma sindicância instaurada para investigar o fato acontecido dentro da Câmara.

“O presidente da Câmara Municipal de Montes Claros, Vereador Cláudio Prates, esclarece que assim que tomou ciência de uma denúncia de suposto assédio de um servidor contratado sobre uma servidora também contratada da Câmara Municipal, todas as medidas necessárias foram tomadas para averiguação do fato.Foi instaurada uma Comissão Interna, formada por servidores efetivos da Câmara, para apuração dos fatos e adoção das medidas administrativas cabíveis, sempre preservando a parte supostamente agredida, razão pela qual  as apurações ocorrem de forma sigilosa. É importante salientar que enquanto os fatos são apurados, o servidor foi afastado das suas funções”.

O medo de denunciar

Maíza Rodrigues é defensora pública e lida, diariamente, com mulheres que tem medo de denunciar o agressor e que passaram por muitas agressões até conseguir denunciá-lo.

“A violência contra a mulher, em qualquer situação, ela é culpada, as pessoas estão tão acostumadas com isso, dizendo que é normal acontecer, que a violência se torna naturalizada. O homem nunca é culpado, sempre a mulher. Precisamos mudar essa cultura, para defender o futuro da próxima geração, se não, por toda vida o homem vai agredir as mulheres. Ela foi muito corajosa de fazer essa denúncia porque ela vai sofrer muito com isso”, reforma Maíza.

#AquiNãoBichoPapão

Parte da imprensa montes-clarense se mobilizou em defesa da vítima. Um movimento foi criado nas redes sociais com a #AquiNãoBichoPapão. Na próxima terça-feira, dia 06 de março, terá um protesto na Casa Legislativa pedindo respeito as mulheres.

“Por isso a ideia de criarmos o movimento #AquiNaoBichoPapao, em apoio a uma colega jornalista que sofreu uma tentativa de estupro em seu local de trabalho. Nossa ideia é dar apoio, ser a extensão da sua coragem e caminhar junto com ela até que justiça seja feita, porque juntas, somos mais fortes”, explica a organização.

Posição do suspeito

O investigado disse ao Webterra que é incapaz de fazer algo parecido com alguém e, se caso fizesse, assumiria o erro.

“O próprio tempo que eu estou na Câmara Municipal diz tudo por mim, eu estou a 23 anos trabalhando e pode procurar se há algum problema meu dentro da Câmara ou forma. É uma perseguição e armação para tentar me prejudicar, pegar o meu nome que eu construir com tanta luta e jogar na lama. Eu espero que a justiça seja feita, eu estou me sentindo injustiçado”, defende.