Coluna Vida em Sociedade: a verdade nua e crua

O mundo pode ser por algumas vezes um gran teatro em que todos nós atuamos e somos personagens reais. Cada um conforme a sua necessidade, sua vontade ou seu objetivo assume um comportamento. Por vezes ostentamos papéis importantes, noutras somos coadjuvantes. Talvez sejamos os mocinhos em alguns momentos e até vilões conforme o ponto de vista ou a compreensão de cada um perante o espectro que nos permeia.

Do mesmo modo vale dizer que podemos viver ilusões e também instantes verdadeiramente austeros, que com sua voracidade nos despem para que possamos ser originalmente quem somos – sem máscaras, sem pesadelos, sem rancores. Somos apenas o que somos sem se importar demais com alguns devaneios, mas apenas com o que fatalmente é real! Viver requer bem mais do que um toque de bondade ou de gratidão! Como diz a letra da poetisa Roseli Duque, “é preciso bem mais que um poema ou um refrão, é preciso que o homem abra o seu coração”.

Conta-se que certa vez, segundo o escultor e pintor, academicista francês, Jean-Léon Gérôme, que a Senhora Verdade, de maneira inocente e pura, aceitou banhar-se em um rio acompanhada da Dona Mentira e que essa ao perceber a Verdade pular ao rio, sorrateiramente apanhou as roupas da Verdade, vestiu-se e foi-se embora.

A Verdade ao tomar conhecimento daquilo observou que as roupas da Mentira estavam jogadas à beira do rio, mas recusou-se a se vestir com as roupas da Mentira e, saiu pelo mundo, nua atrás da Mentira, a procurar por suas vestes. E todos que se deparavam com a Verdade a passar pela calçada nua se desdenhavam, viravam o rosto, pois se recusavam a olhar e aceitar a Verdade nua. Sabe-se que desde então, aos olhos das pessoas, ficou mais fácil aceitar a Mentira vestida com as roupas da Verdade do que aceitar a Verdade nua e crua.

Por conseguinte ajuizamos que ainda que permaneçamos nesta arena humana e imprevisível, a todos nós são dispostas as leais raízes originais. Para que nesse intuito estejamos alinhados aos nossos princípios e busquemos a transparência de cada ato que se faz importante no limiar da estrada que peregrinamos.

Nessa compreensão, nas palavras do historiador e filósofo iluminista francês, Voltaire, nos diz que “as verdades são frutos que apenas devem ser colhidos quando bem maduros.” De tal modo que se faz relevante o autoconhecimento e estarmos cautelosos, uma vez que o fruto que por ventura nos oferecem pode ser muito doce ou ainda nele estar injetado o veneno que somente será percebido na hora da amargura que se tornará ardilmente latente.