Retorno das aulas: ‘É preciso entendermos que a educação não será mais a mesma’, aponta especialista

Foto: VOE Comunicação Integrada

A volta às aulas e o impacto da pandemia da Covid-19 na educação ainda é um debate extenso. Após um ano de restrições, necessárias para conter a disseminação do novo coronavírus, muitas cidades iniciaram protocolos que permitem o retorno do funcionamento das escolas, para o início de mais um ano escolar. Mas qual a melhor opção: ensino presencial, remoto ou híbrido? O que precisa ser debatido?

Para a professora Sande Almeida, especialista em educação e docente do Ensino Estadual em Montes Claros, é preciso ampliar as discussões de projetos e políticas pedagógicas para integrar modelos de ensino e práticas educacionais.

“É preciso entendermos que a educação não será mais a mesma. O cenário aponta que a tecnologia e a inovação das práticas pedagógicas estão batendo em nossa porta. Esperamos o retorno para a escola, que é um dos espaços democráticos mais importantes para a formação humana, alinhado a um projeto de ensino híbrido, que se fará presente nas escolas com ou sem pandemia”, afirma.

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Segundo a especialista, tudo dependerá de um bom projeto e de investimentos em novas tecnologias para que o novo escolar seja eficiente. Infelizmente, a rápida necessidade de se adaptar em 2020 escancarou desigualdades.

“É urgente estudar maneiras de desenvolver meios para que mais jovens tenham acesso ao ensino proposto. A rápida transferência do ensino presencial para o virtual, sem as estruturas adequadas ou prévio treinamento, escancarou as desigualdades sociais e educacionais entre ensino público e privado e os principais impactos foram sentidos pelos alunos de baixa renda. A curto e médio prazo, estes impactos serão:evasão escolar; déficit de aprendizagem causado principalmente pela falta de acesso; maior envolvimento das crianças e jovens com os problemas familiares; aumento de problemas relacionados à saúde mental, como ansiedade e depressão, e falta de apoio aos alunos especiais”.

Em 2020, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Covid (Pnad Covid-19), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontaram que 8,7 milhões de crianças, adolescentes e jovens do país não tiveram qualquer acesso a atividades de ensino remota. A pesquisa teve como análise o mês de julho, quando a pandemia se aproximava do seu quinto mês.

Controle da pandemia ainda é necessário

Até essa segunda semana de fevereiro, o Brasil infelizmente segue com altas taxas de novos casos registrados e média móvel de mortes. O total de óbitos ultrapassa 236 mil. Exatamente por conta deste cenário ainda de instabilidade que a professora Sande Almeida pontua que as decisões devem ser amplas, justas e com equidade quando o assunto é o retorno das aulas.

“Os principais pontos a serem levantados referem-se às condições de segurança dentro das escolas e ao grande movimento que o retorno presencial causa nas cidades, como aumento do uso do transporte público, comércio e espaços públicos. Entendo que o que deve ser imediato são as melhorias nas escolas e mais investimentos na educação para que, em condições de reabertura, estejamos bem preparados para dar o suporte necessário aos alunos que ficaram prejudicados com o fechamento. Como a educação é um direito universal, não podemos criar ainda mais desigualdades”, comenta.

Entre os principais pontos para o retorno das aulas neste momento está a preocupação, especialmente dos pais, de recuperar o “tempo perdido”. Porém, essa urgência deve ser equilibrada, surtindo ganhos com planejamento que respeite o combate à pandemia. “Se pensarmos que a educação é um conjunto de aprendizagens múltiplas, é possível sim recuperarmos o que foi perdido em termo de conteúdos e ainda promover a interação com os conhecimentos adquiridos pelos estudantes em seus contextos sociais”, afirma Sande Almeida.

Para a educadora é preciso entender, de uma vez por todas, que educação é célula viva, se faz a todo tempo e em todo lugar. “A escola, na verdade, tem o papel de orientar, organizar estas vivências de forma que os alunos aprendam aplicá-las ao longo da sua trajetória. Será preciso romper com padrões, sistemas engessados e apostar em soluções mais abrangentes que foquem na visão de mundo e na ação protagonista do estudante. Creio que juntos, com muita vontade de recomeçar, conseguiremos”, finaliza Sande.