Não tem como negar: se você viveu sua infância/adolescência nos anos 1990, boa parte da sua felicidade estava provavelmente incrustada nas Locadoras de Videogame: casas de jogos que continham os mais variados videogames e/ou arcades, também chamados “fliperamas”, e toda uma geração de garotos disputando uma fichinha em algum jogo de luta.
Funcionava assim: você economizava (como podia) qualquer trocado, para garantir logo após a escola – alguns DURANTE o período escolar, deve-se dizer – aquela ficha de arcade, que era equivalente a uma partida nos jogos disponíveis em determinada locadora. No meu caso, economizava no lanche para jogar (leia-se perder para um jovem mais velho e mais treinado) um Street Fighter 2. A jogatina durava até a mãe de alguém (nesse caso, a minha) buscar, à base de chineladas, a criança fujona para casa. Não parece, mas eram bons tempos.
Essa é uma prática que, naturalmente, se perdeu com o tempo. Com o avanço da tecnologia e a chegada das Lan-Houses (lembra?), a experiência de jogar games mais avançados pôde ser trazida para dentro de casa. Não havia mais necessidade de disputar um game em um lugar, no mínimo, estranho para as crianças da nossa idade.
Porém, fãs nostálgicos de tecnologia – as crianças de outrora – se tornaram jovens, sedentos da experiência que viviam na infância. Com isso, um fenômeno pôde ser observado em algumas regiões do país: a retomada de Locadoras de Videogame, em pleno século XXI. Em Montes Claros – MG isso não foi diferente e, desta forma, surgiu na cidade em 2015 um novo point de jogos: a Lord Games.
A empresa foi idealizada por Fagner Zuba da Silva, 33, Empresário, que traz desde a infância a paixão por jogos eletrônicos, conforme informou ao Byte Papo: “O primeiro videogame que joguei foi um Master System. E, claro, frequentei muita locadora quando era criança. Como a gente não tinha condições de ter seu próprio fliperama ou console em casa, gastava o dinheiro da mesada para poder ir. Cheguei a trabalhar em uma, na rua de casa, para os donos poderem ir almoçar. Meu pagamento era com fichas”, acrescenta, feliz.
O Arcade foi, então, criado para suprir essa paixão por videogames: “Tínhamos um grupo de amigos colecionadores e eu senti que na cidade já não havia mais nada com essa ‘pegada’ mais ‘retrô’. Percebi que havia essa demanda e, assim que eu abri meu negócio, foi uma febre: víamos pessoas com um brilho nos olhos e que nos diziam: ‘nossa, tem tantos anos que eu não vejo um fliperama, jogar The King of Fighters, Street Fighter e outros’. O lucro foi instantâneo, mas as melhores amizades que fiz foi quando abri um Fliperama. Isso, por si só, foi incrível”, completa.
UM CARTEIRO, UMA LOCADORA: O MEME
Um dia, Fagner acordou e viu suas redes sociais inundadas de marcações. Sem entender muito bem, foi questionar os amigos o que havia acontecido: uma foto de um simples trabalhador em sua locadora, havia se tornado “meme” e ganhado o Brasil. O motivo: um funcionário dos Correios estava se divertindo em seu estabelecimento. Parecia a fórmula perfeita e a brincadeira ganhou o país.
É claro que o brasileiro, cansado de alguns momentos de ineficiência do serviço de entregas de encomendas no país, não deixaria a piada passar: em pouco tempo, sites com conteúdo satírico estavam publicando em suas páginas tal momento descontraído de um trabalhador brasileiro.
Pouco depois, todo tipo de subterfúgio seria atribuído como forma de piada aos funcionários dos Correios: Algum motivo engraçado deveria haver para uma encomenda não chegar a tempo. Porém, a história verdadeira é um pouco diferente, como nos conta o próprio Fagner: “A agência dos Correios ficava em frente ao nosso Fliperama e, por isso, tínhamos uma grande amizade com os funcionários de lá. Como a febre dos Arcades voltou com tudo, todo mundo queria jogar. Acontece que os Carteiros sempre passavam por lá durante o horário de almoço ou após o horário de serviço. Era sempre em horário de folga. Porém, algum ‘espírito de porco’ tirou a foto dele, de costas, e saiu espalhando como se ele estivesse lá ao invés de estar trabalhando. A repercussão foi enorme”, diz.
O mal-entendido não gerou implicações graves para o funcionário. Ainda bem. Porém, a famosa Locadora não parou de se tornar referência nacional por aí: “Na verdade, foram dois memes! Tem um outro que mostra uma mãe dando uma ‘chinelada’ em um menino, e que também aconteceu na nossa loja. A gente fica sabendo disso porque isso vai rodando o Brasil e ganhando proporções que a gente não tem como segurar”, informa Fagner.
O importante é que, com ou sem memes, as Locadoras de Videogame continuam permeando o imaginário da população apaixonada em tecnologia. Eu já separei minha ficha, para ver quando a cidade ganha novamente o país de dentro de um Fliperama.