Norte tem 4,5% dos óbitos por Covid-19 em MG aponta estudo da Geografia da Saúde da Unimontes

Espacialização revela, ainda, necessidade de investimentos em respiradores: número de aparelhos aumentou somente em 16% desde o surgimento do Novo Coronavírus

Com os dois primeiros casos registrados em 7 de abril de 2020 (o primeiro óbito foi na mesma data), o Norte de Minas completou no último mês um ano de convivência e de enfrentamento com a pandemia do Novo Coronavírus (Covid-19). Com duas grandes ondas de infecção ao longo do período, o número de contaminados chegou a 71.640 pessoas até final de abril, o equivalente a 5,7% do total em Minas Gerais. E 1.303 norte-mineiros perderam a vida por causa da doença (4,5% dos óbitos no território do Estado causados pela Covid-19).

Os dados foram divulgados a partir da produção de novos gráficos e mapas do projeto “Geografia da Saúde”, desenvolvido por professores do mestrado em Geografia e dos cursos de licenciatura e bacharelado em Geografia da Universidade Estadual de Montes Claros. Os acadêmicos também fazem parte da equipe de estudo, que se utiliza dos números gerados pelos relatórios oficiais da Secretaria de Estado de Saúde. As informações populacionais são baseadas nas estimativas do IBGE.

Desde o início da pandemia, os pesquisadores da Unimontes desenvolveram um trabalho específico de espacialização da doença na macrorregião do Norte de Minas. Além de contribuir com a orientação para as ações dos setores públicos de saúde, este formato desenvolvido na Universidade se tornou referência na área, com repercussão na comunidade científica e nos meios de comunicação.

Em Minas, todos os 853 municípios registraram casos da doença e, em 96% deles (824), houve pelo menos um registro de óbito. Os dados foram formatados entre abril de 2020 e abril de 2021 para se caracterizar o primeiro ano da pandemia e revelam que, no período, Minas teve 1.359.137 casos da doença, com 33.699 mortes confirmadas por Covid-19.

Na mesorregião Norte, foram 77.563 casos oficiais e 1.534 óbitos. Na chamada “primeira onda” da doença, em outubro e novembro, que se caracterizou pelo rápido aumento de casos após a reabertura das principais atividades econômicas, o número de pessoas contaminadas subiu em 49,7% (de19.062 para 28.548).

Mas a ascensão na chamada “segunda onda da Covid-19″, entre março e abril, foi a mais preocupante, embora o percentual tenha sido menor que o da primeira onda. A região saltou de 51,4 mil para 71,6 mil casos da doença, um aumento de 39,1%, mas a sobrecarga da estrutura da rede de saúde, com quase 100% da lotação dos leitos clínicos e de UTI, deixou o cenário crítico de tal forma que foi preciso impor a “Onda Roxa”, de fechamento total da região, com toque de recolher, fechamento de setores não essenciais e até a proibição da venda de bebidas alcoólicas (lei seca) em algumas cidades para diminuir a circulação de pessoas e os riscos de aglomeração.

REFLEXOS

A pandemia tem reflexo direto no sistema de saúde dos 89 municípios que integram a mesorregião do Norte de Minas, não apenas no aumento da quantidade de pacientes para atendimento e internação em terapia intensiva, mas, principalmente, revela a limitação da estrutura capaz de suportar a demanda na pandemia.

É que explica o professor doutor Gustavo Cepolini, um dos coordenadores da pesquisa. Segundo ele, entre abril/2020 e fevereiro/2021 houve um aumento de apenas 16% no número de ventiladores mecânicos e respiradores artificiais no Norte de Minas, chegando a 455 aparelhos para uma população estimada de 1,73 milhão de habitantes (IBGE). “A proporção passa a ser de um respirador para cada 3,8 mil habitantes, mas é preciso considerar que das 89 cidades, 65 delas não possuem nenhum respirador, conforme o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde, o DataSus”, acrescenta o pesquisador.

Ainda de acordo com o levantamento, 57,6% do total de respiradores instalados no Norte de Minas estão localizados em Montes Claros, onde a média é de um aparelho para cada 1,5 mil habitantes. “Diante do histórico de heranças que demarcam o uso e a conformação política, geográfica e econômica, ainda há uma desigualdade regional considerável na área da saúde”, analisa Cepolini.

Em todo Brasil, com base nos dados até abril de 2020, são cerca de 15 milhões de casos e 430,4 mil óbitos, cuja incidência chega a 204,8 mortes a cada 100 mil habitantes. Em Minas, no mesmo período, a incidência é de 158,2 mortes a cada 100 mil habitantes.

O pesquisador entende que, se for mantido o atual ritmo da campanha de imunização contra a Covid-19, somente em meados de 2022 haverá uma abrangência completa na população brasileira. Desde 17 de janeiro deste ano, quando foi aplicada a primeira dose no País, até a primeira quinzena de maio, apenas 12,26% dos brasileiros haviam recebido as duas doses necessárias para a eficácia na prevenção da doença.

O cenário ainda é preocupante, porque percebemos diferenças ainda consideráveis entre os estados e entre as regiões dos estados. Há uma evidente falta de unidade política para que a coordenação tenha um padrão, sem agravar ainda mais a crise sanitária e social, sobretudo nas cidades mais carentes”, finaliza Cepolini.