Negligência: família de idosa que morreu acusa Hospital Universitário de emitir diagnóstico de COVID-19 sem exame, em Montes Claros

A família da aposentada Valdozina Gonçalves Pereira Andrade, de 66 anos, que morreu no dia 15 de março de 2021, no Hospital Universitário Clemente de Faria (HUCF), de Montes Claros, no Norte de Minas, contesta que a morte tenha sido causada pela COVID-19. Com o atestado de óbito em mãos, a irmã dela, Valdeci Gonçalves Pereira Andrade, afirma que a irmã morreu de outro problema, mas que o hospital diagnosticou o coronavírus sem ao menos fazer o exame. O atestado de óbito aponta que ela era hipertensa, tinha diabetes tipo 2, insuficiência renal, insuficiência respiratória, pneumonia viral e estava infectada pelo coronavírus.

Segundo a costureira, a irmã era paralítica e cega e há anos sofria de problemas nos rins, “em nenhum momento procuramos o hospital relatando que ela havia apresentado sintomas para o vírus. Ela não teve febre, não estava tossindo, nenhum sintoma da Covid. No dia 11 de março minha outra irmã a levou para o hospital, pois ela estava sentindo uma dor muito forte na barriga, região dos rins e vomitando um líquido preto. A barriga dela estava bastante inchada e assim que chegamos no HU eles a colocaram em uma sala onde recebe os pacientes de covid, um erro, porque nenhum dos sintomas era compatível com o coronavírus”, explica.

Ainda de acordo com Valdeci, os médicos chegaram a conclusão pelo simples fato de ela ter testado positivo. “Eles concluíram que, já que eu estava com infectada, minha irmã também estava e passou a tratá-la com os medicamentos da covid. Eles levaram em consideração uma coriza que ela sempre teve, ‘coisa de velho’, ela convivia com isso há muito tempo”, descreve a costureira.

Valdozina Gonçalves Pereira Andrade, de 66 anos.

Essa não é única reclamação da família. Valdeci conta que a irmã usava um brinco de ouro, e que esse brinco teria sumido enquanto esteve internada.

O brinco era relíquia. Nós pedimos para pegar, mas não fomos autorizados. O brinco, tinha um valor sentimental, além do valor financeiro. Após a morte fomos até o hospital recolher os pertences e o brinco, mas eles não souberam informar o paradeiro da joia”, desabafa.

Velório limitado

O corpo de Valdozina foi liberado do Hospital por volta das 14h e a família não pôde se despedir de forma digna, tranquila e respeitosa, devido aos protocolos da Covid-19. Valdeci conta que a irmã não chegou a ser levada para o Instituto Médico Legal (IML). A idosa foi encaminhada direto para a Funerária Avelar onde precisou esperar a tarde toda para ser enterrada, já que haviam muitos corpos para serem preparados e sepultados. Não teve velório, apenas três familiares foram autorizados a entrar no cemitério, mas a família relutou e conseguiu colocar dez pessoas que tiveram que manter uma distância mínima de 10 metros ao redor túmulo.

Agora, a família diz que entrará com ação contra o estado, por negligência, e alerta outras pessoas a ficarem em cima e cobrar evidências, pois há muitos casos do tipo acontecendo em todo País.

O Portal Webterra entrou em contato com o Hospital Universitário que mandou uma nota de esclarecimento. Segue o texto do documento na íntegra:

O Hospital Universitário Clemente de Faria (HUCF) informa que segue todos os protocolos sanitários recomendados pelos órgãos superiores de gestão em saúde: Organização Mundial de Saúde (OMS), Ministério da Saúde (MS), Secretaria Estadual de Saúde do Estado de Minas Gerais (SES/MG) e Secretaria Municipal de Saúde do Município de Montes Claros (SMS). Reiteramos que a paciente citada, V.G.P.A, 66 anos, recebeu assistência adequada na vigência da sua internação nesta instituição, conforme evolução dos prontuários assistenciais. A mesma apresentou elementos clínicos e propedêuticos (de imagem) que possibilitou referendar o diagnóstico estabelecido como Causa Morte, em conformidade com as Notas Técnicas de diagnósticos estabelecidas pelo COES/SESMG.