Produção integrada de alimentos beneficia famílias de agricultores no Norte de Minas

Unir produção de peixes, hortaliças, frutas, milho, feijão, ovos, galinhas e outros pequenos animais para alimentar uma família de quatro pessoas e ainda comercializar o excedente. Esse é o objetivo de uma tecnologia de produção integrada de alimentos, batizada de “sisteminha”, adotada em vários municípios do Norte de Minas, com a ajuda da Emater-MG. Entre as cidades está Riacho dos Machados, uma das primeiras da região a implantar, com sucesso, uma unidade demonstrativa do sistema.

A iniciativa tornou-se referência e acabou incentivando a criação de outros 14 projetos iguais no município. Mas essa forma de produzir também já funciona em outras cidades do Norte mineiro, como Mato Verde e Porteirinha. “Hoje já temos muitos sisteminhas implantados. Entre 30 e 35 deles, favorecendo o mesmo número de famílias”, calcula o gestor regional do Projeto Dom Helder Câmara, da Emater-MG em Janaúba, Arquimedes Batista Neves Teixeira.

Segundo o gestor, 80% desses sistemas foram montados com recursos do Dom Helder Câmara, programa do governo federal que conta com a parceria da Emater-MG na assistência a pequenos agricultores do Semiárido.

O extensionista agropecuário do escritório local da Emater-MG de Riacho dos Machados, Osmar Martins Campos, pontua as principais vantagens do sistema: baixo custo de investimentos e capacidade de adaptação. “Pode ser facilmente adaptado às necessidades das famílias rurais e ou urbanas que ocupam pequenos espaços. E gera uma solução dimensionada para atender as recomendações nutricionais de uma família de quatro pessoas”, afirma.

Produção integrada

O sisteminha foi desenvolvido pela Embrapa para garantir segurança e soberania alimentar de famílias do Nordeste brasileiro. A principal atividade é a criação de peixes, em um tanque, com mecanismos de recirculação e filtragem. A água, que contém resíduos e nutrientes como, por exemplo, o nitrogênio liberado pela combinação de dejetos e restos da ração dos peixes, também é usada para molhar e adubar a horta, pomar ou pequenas lavouras.

Como se trata de um arranjo produtivo, o sisteminha pode ser adaptado às necessidades, experiências e escolhas do agricultor familiar e às condições dos solos e climas do lugar e do mercado local. “Não é uma tecnologia isolada, mas tem muitas possibilidades de combinações. O básico é a piscicultura e cada produtor adota os módulos de acordo com seu interesse e necessidade, otimizando o uso de água e adotando uma tecnologia simples”, informa o extensionista agropecuário da Emater-MG.

Osmar Campos reforça que o importante é aliar a produção de proteína animal a cultivos de hortas, frutas e lavouras de milho, feijão, entre outras atividades, utilizando um manejo agroecológico. “Tudo em pequenas áreas”, explica. O baixo consumo de água do projeto é outro ganho para os beneficiários. Um fator relevante para municípios do Norte de Minas que, como Riacho dos Machados, estão localizados no Semiárido mineiro, onde a escassez hídrica é um desafio enfrentado todo ano pelos moradores da região.

Beneficiária satisfeita

A agricultora familiar Izabel Maria de Jesus Aguiar, 56, da Fazenda Baixa do Brejo, na zona rural de Riacho dos Machados, é uma das contempladas pela política pública. Ela optou pelo cultivo de hortaliças e de bananas prata, mas tem planos de plantar também milho, mandioca e feijão, no período chuvoso, além de continuar com a criação de peixes.

“Está sendo muito bom pra nós. Sempre trabalhamos na roça, plantando cana, milho, criando galinha, porco. Vale a pena pra quem tem coragem e vontade de trabalhar”, afirma.

Na propriedade, herança dos pais do marido Elton de Aguiar, Izabel e o único filho do casal, de 17 anos, dividem o território da fazenda com outros parentes. Em casas e espaços, delimitados de Baixa do Brejo, também moram dois irmãos e um sobrinho do esposo. Todos beneficiados com a implantação do sisteminha.

Mesmo sendo “idealizado na alimentação da família e não na comercialização”, nada impede que o projeto se torne também uma fonte de renda, se houver excedentes na produção, como afirma o extensionista Osmar Campos. “É um programa de segurança alimentar adequado à uma pequena propriedade, mas se o produtor não consegue consumir, ele pode vender porque senão vai ter perdas”. Segundo o técnico, em Riacho dos Machados as famílias comercializam os alimentos que sobram no mercado da cidade.

Parceria 

A implantação do primeiro sisteminha de Riacho dos Machados foi fruto de parceria da Emater-MG, vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), e a Embrapa Milho e Sorgo. Já os projetos seguintes no município, inspirados na experiência pioneira da unidade demonstrativa, foram viabilizados, por meio de parceria da Emater-MG com o projeto Dom Helder Câmara, do governo federal.

Implantado em 2018, o Dom Helder Câmara beneficia 1.795 famílias em 57 municípios no Semiárido mineiro. Desse total, 1.650 famílias recebem ajuda financeira. As demais são beneficiadas com assistência técnica na implantação de uma atividade produtiva.