Justiça decreta prisão preventiva do policial penal suspeito de matar adolescente em Montes Claros

Justiça decretou nessa quarta-feira (5 de agosto) a prisão preventiva do policial penal suspeito de matar adolescente de 16 anos, em Montes Claros. O fato aconteceu na madrugada do dia 19 de julho, no Bairro Vila Anália. Josué Nogueira foi assassinado com um tiro na cabeça em frente à casa do policial.

No dia do crime, o homem chegou a ser detido em flagrante e foi solto horas depois, no mesmo dia em que o corpo do garoto foi enterrado. O pedido de prisão preventiva foi feito pelo Ministério Público e acatado pelo juiz Geraldo Andersen de Quadros Fernandes, titular da Vara de Execuções Criminais e Tribunal do Júri.

De acordo com o promotor Guilherme Miranda, o requerimento da prisão foi realizada após a análise de que a liberdade dada ao policial penal, horas após o crime, não foi a decisão mais adequada devido a gravidade dos fatos, além disso, ele ressalta que havia apenas os depoimentos do suspeito e da esposa dele.

“No auto de prisão em flagrante, só havia a versão do policial, pois só ele e a esposa foram ouvidos naquele momento. Diante disso, comunicamos a Delegacia de Homicídios para que pelo menos os adolescentes que estavam na hora do fato apresentassem a versão deles. Isso foi feito, bem como análise de câmeras de segurança de vizinhos, e nós formamos o convencimento de que a alegação de legítima defesa estava completamente divorciada das provas que estavam sendo obtidas pela investigação”.

O policial penal se apresentou na delegacia de plantão na tarde dessa quarta e foi levado para o presídio de Bocaiuva.

Relembre o caso

O Agente Penitenciário foi preso na madrugada do dia 19 de julho, após atirar e matar um adolescente de 16 anos. Josué Nogueira, estava com um grupo de amigos em frente à casa do policial quando ele saiu de casa, munido com uma arma de fogo e efetuou um disparo. O Samu foi chamado para atender a vítima, mas quando ao local constatou o óbito do adolescente.

Segundo a mãe, Ronilda Teixeira Nunes Nogueira, no dia do crime o filho dela estava na casa de uma amiga e ao sair de lá encontrou alguns jovens que estavam em frente a residência do autor do crime. O policial penal havia pedido silêncio porque o barulho estava incomodando, como os jovens não obedeceram, o homem atirou pra cima, foi quando os jovens correram, mas o filho dela perdeu a sandália e voltou para pegar, momento que o agente atirou e acertou a nuca do garoto.

“De pertinho, a queima roupa ele deu um tiro. E meu filho olhou pra ele; ele conhece o meu filho desde pequeno. Ele conhece meu marido, me conhece, conhece toda nossa família. Ele  deu um tiro na nuca do meu filho e a bala saiu pela boca. Então assim, eu tô morta por dentro”, diz.

Ronilda revela que o policial penal tem histórico agressivo na vizinhança e consumia bastante bebida alcoólica. De acordo com ela, o homem andava armado como forma de intimidação no bairro onde mora. “Ele tem o costume de ficar bebendo, é som alto a noite toda durante a semana. Ele é alcoólatra, ele passou sábado inteirinho no bar, todo mundo é testemunha que passou da sexta-feira pro sábado e ele estava lá bebendo. Desde quando ele tomou esse título [Policial Penal] ele anda sem camisa, com revolver pendurado na cintura, sem se importar com nada. Qualquer coisa que fala com ele, ele já vai ameaçando”, afirma a mãe.

Justiça por Josué

Uma carreata percorreu diversos bairros da cidade no dia 28 de julho, pedindo justiça por Josué. A manifestação foi acompanhada pela Polícia Militar e o trânsito foi organizado por agentes da MCtrans. Os manifestantes passaram pelo Centro da cidade, praça de esportes e seguiram para o Fórum, onde parte deles fizeram um buzinaço. Com faixas e cartazes os participantes, a pé e em veículos, gritaram palavras de ordem pedindo justiça. Um dos cartazes trazia os dizeres: “Vidas negras importam! Tiro na nuca não é legítima defesa”.

Foto: Raphael Bicalho

Por causa da pandemia do novo coronavírus os participantes usaram máscaras. Muitos traziam balões pretos representando luto; apitos foram usados para chamar a atenção da população por onde o movimento percorria.

A ação se encerrou no local onde o garoto foi morto. Todos presentes fizeram um minuto de silêncio e em seguida rezaram a oração do “Pai Nosso”. No final, parentes, amigos e pessoas que se solidarizaram com a morte de Josué bateram palmas em meio a pedidos por justiça.

 

Escrita pela repórter Denise Jorge