Montes-clarense morto em combate na 2ª Guerra Mundial ganha memorial na cidade

Entre 1939 e 1945 o mundo vivia a Segunda Guerra Mundial. Grandes potências, em duas alianças opostas, mobilizaram mais de 100 milhões de militares naquela que seria a guerra mais letal de todas. O uso das armas nucleares e o holocausto são partes sombrias do conflito que o mundo gostaria de esquecer. Em meio a tantas vidas modificadas o jovem Geraldo Martins Santana entrou para a história como o único montes-clarense morto em combate. O Cabo deu a vida pelo Brasil e Aliados.

A história de vida

Geraldo Martins Santana nasceu em Montes Claros em 1923, filho de Antônio Martins de Sant’Ana Primo e Josefina Cândida Sant’Ana, ele sempre demonstrou desejo de se tornar militar. Como em Montes Claros ainda não havia uma unidade do Exército, em 1940, ele seguiu para Belo Horizonte e entrou para o 12º Regimento de Infantaria.

Em 1942 foi promovido a cabo e no ano seguinte integrou a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Em 1944 embarcou rumo a Itália e combateu tropas inimigas no Vale do Serchio, onde foi agraciado com a Cruz de Combate de 2ª Classe. Na noite do dia 9 de novembro de 1944, enquanto montava guarda da linha de frente, na localidade de Palazzo d’Affrico, perto de Monte Castelo, ele foi ferido na cabeça por um estilhaço de morteiro alemão e morreu aos 22 anos.

O Cabo foi enterrado no Cemitério de Pistóia, e em 1960 teve os restos mortais transferidos para o Rio de Janeiro. Dos cerca de 13 expedicionários montes-clarenses ele foi o único a morrer em combate.

Em busca da história

Os dados biográficos do Cabo foram organizados pelo Mestre em Sociologia Política, Júlio César Guedes Antunes, por meio de documentos passados pela família do Cabo, pelo Exército Brasileiro, além de informações encontradas em livros de história. Ele é um dos idealizadores do monumento que homenageará o Cabo.

“Eu tive ímpeto inicial e fiz as primeiras conversas, mas o crédito fundamental deve ser dado ao Coronel Rodrigo Nicolini, comandante do 55º Batalhão de Infantaria, que autorizou a construção do monumento na entrada do quartel e ao Subtenente Jota Francisco, que entusiasticamente realizou todo o trabalho de campo para reunir interessados no projeto”.

Júlio revela que outra peça fundamental foi o Almerico Biondi, empresário e reservista do batalhão, que abraçou a causa e reuniu diversas pessoas que se interessaram em colaborar com o projeto.

Curiosidade

O mestre em sociologia sempre foi um entusiasta da Segunda Guerra Mundial. Foi em 2012 que ele descobriu que o Cabo Santana era muito mais do que o nome de uma rua, que fica próxima ao Mercado Municipal de Montes Claros, mas que se tratava do único montes-clarense morto em combate na segunda grande guerra.

Durante as pesquisas ele descobriu que a Câmara Municipal de Montes Claros havia aprovado a construção do monumento, em homenagem a Santana, em 1959, mas a obra nunca foi concretizada.

“À época, o prefeito de Montes Claros era Simeão Ribeiro. Ele contratou um artista de Belo Horizonte para esculpir um busto do Geraldo Santana. Contudo, após sessenta dias de assinado o contrato, o artista simplesmente desapareceu com o dinheiro sem nunca ter entregado o trabalho. Dessa forma, o projeto acabou morrendo”, conta.

O monumento

O monumento terá uma estátua de 3,20m de altura, representando o Cabo Geraldo Martins Santana, sobre uma base de 4m de altura. O projeto é assinado pela arquiteta Viviane Câmara. Segundo ela, a idéia inicial foi criar um espaço de convivência no qual o cidadão poderá aprender sobre a história da Força Expedicionária de forma tranquila.

“Já tinha um certo conhecimento sobre a história, tendo inclusive já visitado vários museus e ido a Montese e Monte Castelo, na Itália, além de ter tido o prazer de conhecer alguns veteranos. Isso facilitou a concepção da praça”, diz.

A arquiteta conta ainda que a iluminação da praça será feita por holofotes posicionados em pilares que possuirão placas contando sobre a campanha brasileira na Itália. No chão haverá um revestimento, em volta do paisagismo que representa a estrela do Exército Brasileiro, onde estarão impressos os nomes e datas de todas as batalhas das quais os brasileiros participaram.

O investimento gira em torno de 50 mil reais, financiado pela iniciativa privada, e conta com a mão de obra do Exército. Júlio César acredita que o Complexo Memorial se tornará um marco turístico e cartão postal de Montes Claros, além de virar uma referência para escolas no ensino da participação brasileira na Segunda Guerra Mundial. “Resgatar a história é um processo árduo e, ao mesmo tempo, muito gratificante”, finaliza.

A Família do Cabo

O Cabo Santana tem dois irmãos vivos, são os gêmeos seu Raymundo Sant’Ana e dona Raymunda Cândida de Sant”Ana, de 91 anos. Que viram com alegria essa homenagem.

“Nosso contentamento ao recebermos a notícia da homenagem que será prestada ao Geraldo Martins de Sant’Ana. Trata-se de um resgate histórico, um legado que nos honra enquanto montes-clarenses e irmãos do Cabo Sant’Ana”, finalizou seu Raymundo.

No dia 28 de outubro de 1944, Antônio Martins de Sant’Ana Primo, o pai do Cabo Geraldo Martins Santana escreveria aquela que seria considerada uma das mais emocionantes correspondências conhecida pela FEB.

O documento foi passado a equipe do Webterra pela sobrinha do Cabo, Janice Cláudia Freire Sant’Ana. No texto o pai fala para o filho da alegria ao saber que ele havia sido incorporado a Força Expedicionária Brasileira e o encoraja a defender a pátria.

“Levai em resposta à agressão a esses nazistas o brilho de uma baioneta empunhada para que os nossos sejam vingados”, diz a carta.

O mestre em sociologia, Júlio César Guedes Antunes, que também teve acesso a carta nas suas dezenas de pesquisas, revela que a letra foi à inspiração para uma música composta por uma banda de rock de Curitiba.

 

**Escrita pelo repórter Carlos Alberto Jr.