Durante um ano e seis meses os noivos Jeciele Souza e Marcos Novais, vinham planejando o tão sonhado casamento, que seria realizado no último sábado (21 de março). Tudo já estava preparado para receber familiares e convidados, mas a pandemia do coronavírus cancelou os planos deles e de diversos casais que estavam próximos do tão esperado dia do “sim”.
“Foi muito difícil lidar com o adiamento do casamento, pois sonhamos com a data com o momento e, simplesmente ver seu sonho ser adiado, é muito difícil mesmo”, diz.
Antes de cancelar, o casal ligou para pastor da igreja onde realizariam a celebração e se informaram se poderiam fazer o casamento, temendo o que já estava circulando de que tudo iria parar. “Até o momento que nós ligamos a igreja estava funcionando normalmente. Depois de dois dias, o pastor entrou em contato conosco e disse que não poderia ser celebrado. A sensação minha e do meu marido foi como se alguém da família tivesse morrido, mas sabemos que foi por um bem a todos”.
Geicy conta que foi preciso fazer o cancelamento de tudo quatro dias antes da data. Para dar tempo de avisar os convidados, criou um grupo em aplicativo de mensagem, fez publicações nas redes sociais e teve a ajuda, ainda, da mãe, marido e sogro.
Quem trabalha há muito tempo neste ramo é o empresário e músico, Isaque Emanuel. Ele conta que tem sido uma situação complicada o momento atual. A última vez que ficou tantos dias parado assim foi em 2008, no início da carreira, onde ainda não tinha o controle do mercado.
“Temos 21 casamentos adiados, podendo chegar até mais de 30, caso essa pandemia permaneça nos próximos dias. O que serve de consolo é que estamos conseguindo juntamente aos noivos a remarcação dessas datas em comum acordo dentro das possibilidades que atenda ambas as partes”, disse.
Seguindo as determinações do Ministério da Saúde e de órgãos municipais, as cerimônias não podem ser realizadas para evitar aglomerações. O também maestro e produtor teme prejuízos uma vez que algumas datas sofrerão alterações de músicos e há chances de perder eventos.
“Causa um impacto nesse primeiro momento. Abala primeiramente o emocional dos noivos e até mesmo o nosso, que vivemos esse momento com eles, não podendo deixar de citar a parte financeira, porque diante das remarcações, alguns pagamentos serão postergados”, lamentou Isaque.
Responsável por registrar momentos únicos através de uma câmera, o fotógrafo Roberto Ribeiro Silva não esconde que poderá sofrer com os impactos causados pelas recomendações em combate à proliferação do vírus.
“Não fui afetado ainda, mas provavelmente vai ter um impacto e a tendência é piorar. Até agora, há alguns clientes do mês de maio que ainda não remarcaram, mas já tive quatro eventos remanejados. Tenho colegas, inclusive, em outras cidades onde há casos confirmados, que já começaram a ter prejuízos”, conta.
O padre da Paróquia São José Carpinteiro Maria de Nazaré, Jairo Silva, da Arquidicese de Montes Claros, diz que tudo será feito em comum acordo, com diálogo e compreende o valor do momento. “Quando a igreja chega após conversar com o casal e chega ao consenso de adiamento desta celebração, ela está fazendo isso preocupada com a família que desejam constituir, com a benção de Deus. É difícil pelos preparativos. Tem finanças empenhadas, mas ao mesmo tempo se faz necessário por um bem maior para preservação da vida”
Festas infantis
Desde 2012, a Carla Simões trabalha com festas infantis em Montes Claros e atende também cidades vizinhas. Ela afirma nunca ter passado por momentos de paralisação e que a região sempre foi bem aquecida de programações. No entanto, acredita que haverá cancelamento, pois com o passar do tempo o cliente poderá desistir.
“O decreto com a proibição dos eventos foi uma surpresa para todos os autônomos, principalmente para os que trabalham com eventos. Todos os nossos eventos de março e início de abril foram remarcados. Ou melhor, entramos em conversação com os clientes e todos concordaram em remarcar, mas não há data definida ainda. O que é complicado, pois não temos outra fonte de renda, infelizmente”, descreveu a proprietária.
Outra medida levantada por Carla para tentar ajudar nesse período é o fornecimento de locação de brinquedos, com preços promocionais para crianças que estão ociosas em casa. Tudo para tentar driblar a crise que se instaurou.
“Eu acabei de fazer um investimento em um espaço para festas que não terei como pagar, sem eventos para cobrir as despesas. Ou seja, as economias que eu tinha guardado, não tenho mais”, disse.
O que diz o Procon
O Procon de Montes Claros orienta para que não haja cobranças de taxas em casos de cancelamento ou adiamento. Com isso, como explica o diretor Alexandre Braga, em que a situação é complexa e não foi provocada pelas empresas prestadores de serviços ou culpa do consumidor, a melhor alternativa é o diálogo.
“O que a gente tem orientado é que num primeiro momento, sempre que for possível, que os consumidores busquem remarcar esses eventos. Obviamente, sem custos adicionais para um momento futuro em que essa situação estiver controlada, porque remarcando a gente não geraria um desequilíbrio”, informou.
Alexandre acrescenta que a remarcação ou reagendamento ficaria, sim, no direito do consumidor de ter o reembolso daquilo que pagou, sem haver cobrança de multa.
“A possibilidade dessa devolução ou restituição é de poder ser feita parceladamente, de maneira que os fornecedores tenham um tempo maior para desembolsar esses recursos, que eles já tinham contabilizado e agora vão ter que ser ressarcidos ou que seja conferido um prazo um pouco mais extenso para que as empresas e os prestadores de serviços façam essa restituição”, destacou.
**Escrita pelo repórter Gian Marlon