Moradores de rua transformam entrada de restaurante popular em “casa”

Fechado há dois anos após ser interditado pelo Corpo de Bombeiros, o Restaurante Popular tem servido de abrigo para moradores de rua de Montes Claros. A reportagem do Webterra esteve no local e conversou com três deles que estavam no lugar, na tarde desta quarta-feira (25). Cerca de dez pessoas dormem na parte frontal do restaurante todas as noites.

Um local construído para ser um instrumento de garantia da segurança alimentar da população, principalmente de baixa renda, hoje dá espaço para quem não tem onde morar.

Eles são engraxates, fazem artesanato. Não tem nenhuma deficiência aparente que os impeçam de trabalhar, mas criticam a falta de oportunidade. Adailton Neves da Rocha está na cidade há dois meses. Ele veio de Jaíba em busca de emprego, mas nada foi encontrado. Além de ganhar R$ 87,00 com o Bolsa Família, ele faz artesanato e é engraxate.

“Eu queria que a Prefeitura fizesse algo para gerar emprego para todos nós e termos a condição de pagar um aluguel. Ou então um local que a gente pagasse um aluguel, ai eu não importaria de me tirarem aqui do restaurante não”, afirma Adailton.
Ele conta que desde o dia que começou a dormir na área do restaurante, tem cuidado do local e não tem deixado ninguém roubar a estrutura.

Os outros companheiros de Adailton são do Rio Grande do Norte e Pompeu, eles não autorizaram usar o nome. O de Pompeu trabalhava no ramo da construção civil, mas, foi demitido. E o do Nordeste, já passeou por alguns estados.

Discussão na Câmara

O fechamento do Restaurante Popular foi tema de cobrança da Câmara Municipal. O vereador Valdecy Contador (PNM) destacou as péssimas condições do espaço.

“O local, que era pra ser servido comida, virou abrigo para moradores de ruas e está sendo depredado. As pessoas que viviam nos arredores da Avenida Sanitária, se mudaram para a área onde fica o prédio. Passando pelo local, flagrei três pessoas tomando banho no espaço, onde a qualquer momento podem simplesmente derrubar as portas e invadirem. É urgente a necessidade de fazer uma intervenção. Caso contrário, o vai virar um elefante branco”, afirma.

Audiência Pública 

Objetivando encontrar soluções para esse caos social, o Parlamentar propõe a realização de uma Audiência Pública, no dia 3 de maio, para falar sobre a reabertura do Restaurante Popular e organização e limpeza do Mercado Municipal.

“Seria bom o restaurante abrir porque teríamos um lugar para comer, eu já experimentei a comida, é gostosa e barata, apenas um real. Nos ajudaria muito”, afirma o morador de rua, Adailton.

O que diz a Prefeitura

Em nota, a Prefeitura informou que não há previsão de reinauguração do restaurante.

“O restaurante popular está fechado desde a última administração por irregularidades que oferecem perigos à população. Dessa maneira, a Prefeitura de Montes Claros está estudando e avaliando o caso para chegar à melhor solução possível. Por esse motivo, ainda não há um prazo para a reabertura do restaurante popular. Enquanto isso, o espaço teve as portas soldadas como medida de segurança e alguns materiais realocados também. No que se refere às pessoas em situação de rua, a Prefeitura de Montes Claros tem um grupo de pessoas que faz uma abordagem social e que os direciona ao Centro POP, este que oferece acolhimento aos moradores de rua, recebendo-os, alimentando e dando toda a assistência durante o dia”.

Uma das principais ajudas dos moradores durante a noite são os projetos sociais de algumas igrejas da cidade, uma delas é a Pastoral do Povo de Rua.

“Hoje não é possível dimensionar quantas pessoas em condição de rua são atendidas porque acaba sendo setorizado, o Centro POP diz que atende uma quantidade, o Cras outra, então não tem como resumir o dado. Nosso serviço é voltado para a evangelização. Nas segundas à noite a Pastoral reúne, distribui agasalhos e alimentos. Já durante o dia, estamos na construção coletiva para dar assistência a essas pessoas”, conta Sônia Gomes Oliveira, coordenadora do setor social da Arquidiocese.

Ainda de acordo com Sônia, muitos dos moradores de rua não vão para o Centro POP e se aglomeram na Praça da Matriz