Amor líquido e a dor da traição: como homens e mulheres se conectam de formas diferentes

Em tempos de relações fugazes, redes sociais e vínculos frágeis, o amor tem assumido novas formas. O sociólogo Zygmunt Bauman chamou esse fenômeno de “amor líquido” - um tipo de afeto marcado pela instabilidade, onde os laços são facilmente formados e mais facilmente desfeitos. Nesse cenário, a traição se tornou não apenas mais comum, mas também mais banalizada. Ainda assim, as feridas emocionais que ela deixa continuam profundas.
Imagem ilustrativa

Em tempos de relações fugazes, redes sociais e vínculos frágeis, o amor tem assumido novas formas. O sociólogo Zygmunt Bauman chamou esse fenômeno de “amor líquido” – um tipo de afeto marcado pela instabilidade, onde os laços são facilmente formados e mais facilmente desfeitos. Nesse cenário, a traição se tornou não apenas mais comum, mas também mais banalizada. Ainda assim, as feridas emocionais que ela deixa continuam profundas.

A infidelidade, embora antiga como as relações humanas, adquire contornos distintos na sociedade atual. As conexões rápidas e a constante exposição a outras possibilidades dificultam a construção de vínculos sólidos. Isso tem gerado relações mais frágeis, mais descartáveis e mais ansiosas – onde a presença do outro nem sempre é garantia de comprometimento real.

Mas homens e mulheres vivenciam a traição de formas diferentes, muitas vezes por como se conectam emocional e afetivamente. De forma geral, a mulher costuma se vincular a partir da intimidade emocional, da comunicação e da construção de segurança no vínculo. Para ela, a traição costuma ser sentida como uma quebra profunda de confiança e respeito – uma ferida no laço afetivo, e não apenas no contrato sexual.


Já o homem, em muitos casos, foi socialmente condicionado a separar afeto de desejo. Pode se envolver sexualmente com outra pessoa sem, necessariamente, ter rompido emocionalmente com a parceira. Ainda assim, isso não o isenta da responsabilidade emocional do ato. Em ambos os casos, a traição representa uma falha de compromisso e honestidade no vínculo construído.

A raiz da dor está na quebra de expectativas – fantasiosas ou não – que cada um carrega sobre o amor, a lealdade e o lugar que ocupa na vida do outro. E é aí que o amor líquido mostra sua face mais amarga: vínculos frágeis geram relações descartáveis, onde o outro pode ser substituído sem tempo de elaboração emocional.

Mesmo em tempos líquidos, o ser humano ainda busca pertencimento, profundidade e verdade. A traição expõe o abismo entre o que se promete e o que se entrega. E nos obriga a repensar: como estamos amando? Qual a qualidade das conexões que estamos construindo?

Enquanto não houver responsabilidade afetiva, o amor continuará escorrendo pelas mãos – como água.

Siga o Psicólogo Clínico e Neuropsicólogo Renato Mota e veja a Coluna Psicologia Para o Dia a Dia!

 

Psicólogo Clínico e Neuropsicólogo Renato Mota - Foto: Arquivo Pessoal
Psicólogo Clínico e Neuropsicólogo Renato Mota – Foto: Arquivo Pessoal