Em Minas Gerais, a educação tem ultrapassado os muros da escola — e, agora, também os do sistema prisional. O estado bateu um recorde histórico em 2025: mais de 13 mil detentos se inscreveram para o Encceja PPL, exame que permite a conclusão do Ensino Fundamental ou Médio a pessoas privadas de liberdade.
O número é o maior já registrado no estado e reforça uma mudança de perspectiva sobre o papel da educação nas penitenciárias: não como privilégio, mas como direito e ferramenta de recomeço. As inscrições envolveram detentos de 142 unidades prisionais espalhadas por todas as regiões do estado. Além deles, 297 adolescentes em centros socioeducativos também participarão do exame, que será aplicado em setembro.
Educação como chance real de transformação
Nem todo mundo teve a oportunidade de terminar os estudos na infância ou adolescência. Muitos sequer tiveram acesso à escola. No sistema prisional, essa realidade se repete — e se agrava. Por isso, oferecer educação a quem está em privação de liberdade não é um favor, mas um passo essencial para quebrar ciclos de exclusão.
O Encceja PPL permite que essas pessoas, mesmo dentro do cárcere, retomem seus projetos de vida por meio da educação. E mais do que a possibilidade de obter um diploma, o exame é uma porta de acesso à cidadania, à dignidade e à reintegração à sociedade.
A prova abrange quatro áreas do conhecimento (Linguagens, Matemática, Ciências Humanas e Ciências da Natureza), além da redação. Quem atinge a nota mínima exigida pode obter o certificado de conclusão do Ensino Fundamental ou Médio — um documento que, para muitos, representa a primeira vitória no caminho para uma vida fora da criminalidade.
Para além da cela: o que está em jogo
Quando um preso volta a estudar, ele não está apenas ocupando o tempo. Está se conectando com a ideia de que é possível escrever uma nova história. Está se vendo como sujeito de direitos, com capacidade de escolha e de mudança.
A educação, nesse contexto, atua como ponte entre o passado e o futuro. Ajuda a resgatar a autoestima, abre horizontes, melhora a convivência no ambiente prisional e amplia as chances de um retorno mais digno à sociedade.
Mesmo em um sistema penal ainda marcado por desafios, o número recorde de inscritos mostra que há desejo de mudança. E isso precisa ser reconhecido e incentivado.
O que Minas está ensinando ao Brasil
Ao alcançar esse resultado, Minas Gerais mostra que, sim, é possível fazer diferente. Quando o acesso ao conhecimento é garantido mesmo dentro das prisões, o estado não apenas cumpre a lei — ele planta sementes de transformação.
Porque reintegração social não se faz apenas com vigilância, mas com educação, oportunidade e humanidade. Cada pessoa que recebe um certificado pelo Encceja pode estar dando um passo longe do crime — e mais perto de uma vida possível, fora das grades.
Educar dentro do cárcere é acreditar que ninguém se resume ao seu erro — e que todo recomeço precisa de uma chance.