A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou uma nova diretriz que pode transformar a forma como a prevenção ao HIV é realizada no mundo. Durante a Conferência Internacional sobre Aids, realizada em Kigali, Ruanda, a entidade recomendou oficialmente o uso do lenacapavir, um antirretroviral injetável de ação prolongada, para pessoas em risco de infecção pelo HIV.
O medicamento, produzido pela farmacêutica Gilead Sciences, tem aplicação semestral e representa um avanço significativo para a chamada PrEP (profilaxia pré-exposição), ao oferecer mais praticidade e adesão, especialmente para quem enfrenta barreiras ao uso diário de comprimidos.
“Na ausência de uma vacina contra o HIV, o lenacapavir surge como a próxima melhor opção para prevenção”, afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
Eficácia comprovada
O lenacapavir pertence à classe dos inibidores de cápside, uma abordagem inovadora no tratamento e prevenção do HIV. Em testes clínicos realizados com mais de 5 mil voluntários em 2023 e 2024, o medicamento demonstrou quase 100% de eficácia na prevenção da infecção, sem registros de efeitos adversos graves.
Esses resultados posicionam o lenacapavir como uma das formas mais eficazes e seguras de PrEP já desenvolvidas, superando inclusive as opções atuais em comprimido, como o Truvada (emtricitabina + tenofovir), que exige uso diário.
Comparação com outras formas de PrEP
Atualmente, a PrEP oral é a forma mais disseminada de prevenção ao HIV, porém, a adesão ao tratamento diário é um desafio constante, especialmente em populações vulneráveis. Outra alternativa recente é a cabotegravir injetável, aplicado a cada dois meses. Com o lenacapavir, a proteção pode ser garantida por até seis meses com apenas uma aplicação, o que amplia significativamente a praticidade e pode favorecer sua adoção em larga escala.
Avanço necessário diante da estagnação nos índices globais
A recomendação da OMS acontece em um cenário de preocupação global com o ritmo da prevenção ao HIV. Em 2024, foram registradas 1,3 milhão de novas infecções no mundo, número que revela a estagnação dos avanços na redução de casos. Grupos populacionais como profissionais do sexo, pessoas LGBTQIA+, usuários de drogas injetáveis e indivíduos privados de liberdade continuam sendo desproporcionalmente afetados.
“Estamos diante de uma ferramenta poderosa, mas seu sucesso dependerá da implementação equitativa e acessível”, destacou Meg Doherty, diretora de HIV, Hepatite e Infecções Sexualmente Transmissíveis da OMS.
Próximos passos
A OMS orienta que os países comecem a planejar a incorporação do lenacapavir em seus programas nacionais de saúde pública, especialmente em contextos com alta prevalência do vírus. A aprovação regulatória já foi concedida nos Estados Unidos, e outras agências, como a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e a Anvisa, no Brasil, devem analisar o uso em breve.
Além disso, a entidade reforçou a importância de estratégias complementares, como a distribuição de autotestes, o combate ao estigma e a ampliação do acesso à informação e aos serviços de saúde, especialmente em regiões com menor infraestrutura.