As ruas da minha cidade

Dona Maura Moura retrata moradores e fatos históricos da tradicional Rua Mata Machado, iniciada na Praça Getúlio Vargas e finalizada na Praça Santa Cruz.

Nesta semana, memorável texto por Dona Maura Moreira, em sua coluna “As ruas da minha cidade”, retirado do jornal Tribuna do Vale, retratando moradores e fatos históricos da tradicional Rua Mata Machado, iniciada na Praça Getúlio Vargas e finalizada na Praça Santa Cruz.

“Passemos ao casarão de propriedade do casal Germano e Dona Maria. Antes de falarmos sobre a descendência do casal, um especial momento, para Plínio, que tão cedo se foi. Dos outros, muitas lembranças: Marise, Juzenisse, cantando no Grêmio da Escola Normal, a música Esmeralda. E Jovino? Beleza morena que balança o coração das meninas.

Acreditem! Os colegas, não sei se por ciúme, assim se expressavam, em relação ao Jovino: “Este cara deve agradecer a sua mãe por tê-lo feito tão bonito. O cara consegue boa nota nos grêmios somente por seu porte de artista”. Com estas lembranças, abraço a Marli, Lourdinha, Germaninho e Yulo.


Ali continua Dona Maria Rabelo, mãe de Zé, Amirson, Dora, Aniomar e Anete, sendo esta integrante do grupo artístico da antiga Escola Normal, juntamente com Tânia Vieira, Adir Lopes e outras, não menos artistas.
Em um cômodo da casa de Dona Maria Rabelo, funcionou, por muito tempo, a Casa de Peças de João Lima (AutoPeças Lima), onde trabalharam os amigos Raimundo Lima, João Wilton e Lulu.

Vizinho à casa de Maria Rabelo, ficava o Internato, dirigido pelas Irmãs Mercedárias. Quantas alunas por ali passaram! Quantos segredos se foram ao serem demolidas as paredes do Internato, para surgir dali a Alameda BNB! Pouca gente sabe que, onde é hoje o Banco do Nordeste era um antigo prédio que alojava um barulhento motor, distribuidor de energia, até 21 horas. Ouvia-se um apito, sabia-se que era como se fosse um toque de recolher. Aí, via-se, nos postes de madeira, a brasinha de luz, vinda do Peri-Peri (o “Pripiri” no linguajar popular), hoje pertencendo ao município de Cônego Marinho.

Agora, mais alto fala a emoção, ao citar o casarão pintado de amarelo e com portas azuis. Ali dentro, continua firme o espectro de um tempo bom que passou, para mim e para toda Januária. Escola Normal Olegário Maciel, antigo colégio que, durante anos, fez educação de qualidade, no desempenho dos seus Diretores, Secretários, Professores e demais funcionários. Seu 1º Diretor, Dr. João Moreira, conduziu os destinos da abençoada casa, desde sua fundação, tempo de completa doação, quando, juntamente com Dr.João Lagoeiro, seu sucessor, Prof. Manoel Ambrósio e outros januarenses, trabalharam gratuitamente, até que o referido colégio fosse reconhecido pelos Poderes Públicos.

Dr. Joãozinho, como o chamávamos, era aquela figura paterna que ostentava, em qualquer circunstância, um acolhedor sorriso, sinal de bondade e de compreensão.

Que dizer dos professores que compunham o corpo docente? Prof. José Cunha, respeitado e consciente de sua capacidade, na disciplina Matemática; Prof. Onésimo Bastos, grande mestre da Língua Portuguesa e do Inglês; Dr. Vale Filho, verdadeira enciclopédia ambulante; Dr. Lelé, o professor calmo e amigo; Dona Zina Porto, Professora de Geografia e História, exímia na arte de ensinar, não perdendo oportunidade de completar as suas aulas com noções de boas maneiras e religião. Ao deixar as suas funções, doou o seu talento às sobrinhas: Marillac Lima (História); Zélia Correa (Geografia); Dona Leó, a professora-Mãe, com suas aulas de Francês: “Frère Jacques, dormez vous etc”…

Zé Lagoeiro, Professor de Ciências, inesquecível com seu “Nada mais é… qui”; Prof. Jonas Lima, amigo e conselheiro, com seu Latim e sua calma invejável, sempre pronto a indicar a melhor solução; Dona Neide Castro e suas mãos habilidosas; Maria Inês, a alegria em pessoa (saudades); Dr. Afrânio Pimenta, Dr. Afrânio Proença, Prof. Otoni Cunha, a alma da Escola com suas promoções na Educação Física: Luciana Gasparino e seu método inovador de Educação Física.

Dona Bela, doçura em pessoa, secretária e Professora; Tio Batistinha, o tio-Professor de toda a Januária: Professor Tertuliano Silva que colocou a sua alma ao compor “Januária, terra Amada”.

E o trabalho bonito e incansável das Professoras das classes anexas, assim denominadas as 4 primeiras séries do antigo primário.

-“Olhem para mim. Eu me chamo Lili…” E lá estava a vivacidade de Berenice Campos, no tempo, Professora do 1º ano de borra. Não se pode esquecer da calma de Dona Zulmira Itabayana, Professora do 1º ano adiantado; Dona Betinha Silva, Professora do 2º ano, sempre orientando os seus alunos à procura da Igreja, como meio de salvação.

Dona Heloísa Pimenta, a eficiente e elegante professora do 3º ano; a competente Dona Adélia Lisboa, Professora do 4º ano, posteriormente substituída por Dona Neusa Lima, dinâmica e consciente de seu trabalho.

Tudo isso sem falar no desempenho dos inspetores de alunos: Seu Zé Cursino, Dona Olívia Granja e a espirituosa Stela Tupiná.
Como não falar da prontidão de Seu Pedrinho, de Dona Domingas e de Nuca? Eram mestres na sua área de serviço. Não se pode negar a dedicação do casal José Cunha e Bela Porto; aquele se impunha pela capacidade, aliada a uma aparente austeridade; esta mantinha a harmonia no trabalho e no lar, com uma infinita doçura.

Dona Bela foi por muito tempo, Professora de Admissão e Secretária da Escola, sendo substituída nos trabalhos de Secretária por minha querida comadre Alina Marilea, assessorada por Terezinha do Espírito Santo e Dulce Lagoeiro.

Após a aposentadoria do Dr. João Lagoeiro, assumiu a Direção da Escola, a educadora Emília Carneiro, emprestando o seu dinamismo à Escola dirigida por ela.

Tudo passa! O tempo passou e hoje, cada vez que vemos um profissional competente, vem-nos à memória, a figura da criança e do adolescente que, ontem, se sentaram nas antigas carteiras duplas de pé de ferro… C’est la vie!

Em frente à Escola Normal, as casas onde residiram Maria de Arnaldo e seus inúmeros filhos, destacando entre os muitos, a inteligente Marina que, apesar de morar, como se fala na linguagem barranqueira, no terreiro da Escola, só chegava atrasada, tendo sempre uma desculpa. Na mesma casa, foi instalada a república dos meninos de Cocos, sob o comando de Álvaro Oliveira.

Continua viva a lembrança de outros moradores do quarteirão: Dona Maria Meira e filhos; Seu Zezinho Escobar, sua esposa Dona Lourdes e seus filhos. Não se pode esquecer o casal que ali residiu. Refiro-me a Raimundo da Estatística e à querida Jair de Batistinha, mãe de Colé e de Gorete Carlos.

Bem na esquina, existiu uma casa onde, por um bom tempo, funcionou o Banco Hipotecário, hoje, BEMGE em outras cidades, aqui, Itaú. Uma construção simples, sem segurança, mas não havia necessidade de tanto reforço. Não havia assalto. Bom tempo!

No mesmo quarteirão, residiu, por muito tempo, o querido Moura Luz, com sua família. Moura e Dona Hélia se foram, deixando saudades.

Deixemos que a Lindolfo Caetano siga o seu caminho, rumo ao Velho Chico, e passemos para os outros quarteirões da Mata Machado.
Na esquina, à direita, continua a 1ª Igreja Evangélica de Januária, com as lembranças de “Seu Pedro Protestante”, como o chamávamos naquele tempo.

Seu Pedro tinha muitos filhos e, entre eles, cito o nome do amigo Joel, hoje, Pastor Joel. Luísa Campos, esposa de Zé Lino Campos. Ela, verdadeiro exemplo de evangélica, e ele, ardoroso católico. Viveram bem enquanto existiram.

À esquerda, o casarão de Seu Justininho, pai de Doca, de Zé Caixeta e do querido compadre Luisinho (saudades). Seu Justininho possuía um pequeno rebanho de ovelhas e as preparava para uma procissão que deveria seguir até o Brejo do Amparo.

Dona Inezita, pequenina e espirituosa, trazia armazenada na sua cabeça, a experiência de muitos anos, de um trabalho sério, junto à educação.

Merecem destaques outras pessoas que também residiram no lindo casarão: Seu Ilceu Longuinhos (saudades) e Dona Idália, dupla de enorme talento artístico, que não guardaram para si o dom dado por Deus, pois transmitiram aos seus filhos João Ildefonso e Cláudio Montalvão a maravilha de uma melodiosa voz, que a todos encanta. Completando a alegria da casa, Sílvia e Taninha, criaturas possuidoras de uma doçura incomparável.

Posteriormente, chegou o casal João e Almerinda, com as novidades do seu interessante comércio, em substituição à Predileta, estabelecimento comercial que antecedeu a esse. É necessário que atravessemos a Rua Barão de São Romão acrescentando a informação de que a família descrita é descendente do Barão de São Romão.

Continuemos de olhos fechados para que se tornem nítidas as imagens passadas (…)

Na esquina, a presença de Seu Felicíssimo Barbosa, Seu Tico e sua esposa Dodô. Seu Tico era um senhor respeitado e, no tempo, representou o seu povo, sendo vereador, em muitas Legislaturas.

Dodô, sua esposa, era o exemplo das senhoras de sua época, sempre dedicada aos afazeres domésticos. O casal possuía uma única filha, Conceição de Tico, criatura expansiva mas que muito cedo se foi, vítima de acidente.

Na outra esquina, havia um casarão, pertencente a Dona Duca, mãe de Paulinha (saudades), de Mercês, do amigo Bené e Maria, esposa do expedicionário Manoel Alkimim, e de Irene.

O Bené fazia a alegria das crianças da rua, quando, na safra de mangas, vindo de um sítio de sua família, trazia um carrinho de mão e jogava manga para a meninada da vizinhança, que já o esperava no horário certo. Aquele rapazote que dirigia, ou melhor, que empurrava o carrinho de mão, não sabia que logo, logo, tornar-se-ia campeão brasileiro de saltos ornamentais.

Após Dona Duca, Seu Cirilo Bulhões e sua esposa Dona Zizinha, pais de Raquel, Ruth, Mariinha, Joãozinho, Samuel, citando também Dona França e Dona Raquel, enfermeiras da Cruz Vermelha.

Outros moradores, ao longo da rua, são presenças fortes. Dona Eulina, mãe de Inês e Nilta; a mãe de Honor, Nair, Maria e Carlinhos; os pais de Seu Manoel Porfírio e sua irmã Dozinha. Ali conheci uma linda criança morena, de cabelos loiros e cacheados, olhos verdes, uma verdadeira boneca viva. Era Socorro de Seu Manoel Porfírio, hoje, Senhora Gutenberg.

Um casal de simpáticos velhinhos cuidava dos netos que vieram do Riacho da Cruz para Januária. Os netos eram: Zé Leite, Marlene, Magali e Aurita, depois vieram outros.

Como não falar de Juca (saudades) e Joaninha, sua esposa, amiga e confidente de minha mãe, com sua filharada. Sílvio, Milu, Tôni e Hugo? E a alegria de Dona Naninha, mãe de Seu João Mendes e de Bia, costureira, esperando o filho que se formara em Esmeralda? O filho era Gildo, Hermegildo Mendes, pai dos amigos Geraldo, Júlia, Regina, Zenilde, Paulo, Ronaldo e Denise.

Gildo era esposo da amiga Conceição. Após Dona Naninha, a casa onde morou, por pouco tempo, Dona Amélia, uma senhora de Carinhanha e seus filhos, juntamente com a sobrinha Flordelice. Seu Manoel José, tabelião do Registro Civil, ali morava com a filha Natália e a neta Zorilda…”

Por Dona Maura Moreira

Dona Maura Moura – Foto: Arquivo pessoal/José Maria Guedes