No passado, as superstições eram uma forma de interpretar e lidar com o desconhecido. Muitas vezes, essas crenças limitavam a vida das pessoas, que, sob o peso do medo do incompreensível, se viam reféns de práticas que hoje podem parecer absurdas. Acreditava-se, por exemplo, que quebrar um espelho trazia sete anos de azar, que um gato preto cruzando o caminho era presságio de infortúnio, ou que um espirro à noite indicava uma visita de um espírito. Essas crenças, baseadas em mitos e tradições passadas de geração em geração, moldavam os comportamentos e até mesmo o destino de muitas pessoas.
Com o avanço da ciência e a democratização do conhecimento, essas superstições foram, em grande parte, sendo desafiadas e substituídas por explicações racionais e empíricas. No entanto, com a chegada das redes sociais, uma nova onda de “superstições modernas” começou a emergir, tomando novas formas. Ao invés de acreditar em presságios sobrenaturais ou em práticas antigas, hoje muitas pessoas se veem imersas em um mar de desinformação, boatos e teorias conspiratórias, muitas vezes amplificados por plataformas digitais.
As redes sociais, ao democratizarem a produção de conteúdo, proporcionaram um campo fértil para a propagação de fake news — notícias falsas que são compartilhadas, comentadas e propagadas sem verificação. Em muitos casos, essas falsas informações se espalham de maneira tão rápida e massiva que, assim como as superstições do passado, acabam influenciando comportamentos e decisões. O medo gerado por teorias conspiratórias como “vacinas causam autismo”, ou “aliens estão entre nós”, muitas vezes é alimentado pela mesma lógica irracional que um dia fez com que as pessoas evitassem passar sob uma escada ou usassem amuletos de proteção.
No fundo, a analogia entre superstições antigas e a proliferação de fake news nas redes sociais não é tão distante. Ambas refletem o desejo humano de encontrar explicações para o inexplicável, o medo do desconhecido e a busca por controle em um mundo repleto de incertezas. Antigamente, a superstição podia limitar a liberdade das pessoas, impedindo-as de realizar ações cotidianas ou levando-as a adotar comportamentos irracionais. Hoje, as fake news podem ter o mesmo efeito, criando divisões sociais, levando à polarização política e até afetando a saúde pública, como vimos na pandemia de Covid-19, onde teorias conspiratórias prejudicaram as campanhas de vacinação.
O grande desafio da era digital é justamente o mesmo que enfrentavam as sociedades supersticiosas: a capacidade de distinguir o que é real do que é falso. Na medida em que as redes sociais se tornam o principal meio de comunicação, é crucial que as pessoas desenvolvam um pensamento crítico e uma consciência mais apurada sobre o impacto das informações que consomem e compartilham.
Assim como as superstições do passado, as fake news de hoje são alimentadas pela ignorância, pelo medo e pela falta de uma visão crítica. E, como em tempos antigos, o reflexo de um comportamento irracional pode ser, ainda que não tão visível, igualmente limitante para o progresso individual e coletivo. No fim das contas, se no passado acreditava-se que a visão de uma mulher com cabelo solto podia desencadear infortúnios, hoje, acreditar em informações distorcidas e sem fundamento pode resultar em consequências muito mais sérias, afetando, inclusive, a vida de muitas pessoas. A lição permanece a mesma: a busca por conhecimento, por esclarecimento e por verdade é a chave para evitar que, seja na superstição ou na desinformação, a sociedade se aprisione novamente.