A vida de Elesvânia Lopes, de 35 anos, moradora de Mato Verde, no Norte de Minas, se transformou em um pesadelo desde o dia 22 de julho. A cada manhã, ela se depara com a mesma pergunta: “Onde está meu filho?”. Jhonatan Raffael Lopes, de apenas 14 anos, desapareceu após um desentendimento familiar, e a dor de sua ausência ecoa não só em sua casa, mas também nas histórias de muitas outras famílias em Minas Gerais.
“É muito difícil não saber a resposta. Ele sempre foi um menino amável, dócil e cuidadoso com toda a família. Não está sendo fácil não ter nenhuma notícia”, desabafa Elesvânia, expressando a dor de uma mãe que luta para reencontrar seu filho.
Os dados da Polícia Civil de Minas Gerais revelam uma preocupante tendência: de janeiro a setembro deste ano, um em cada quatro casos de desaparecimento registrados no Estado envolveu jovens entre 12 e 17 anos. Dos 4.869 casos, 1.137, ou 23,2%, pertencem a essa faixa etária, com os conflitos familiares sendo o principal motivo relatado para essas ausências. Esse aumento é ainda mais alarmante, pois marca a reversão de uma queda que vinha acontecendo nos últimos três anos.
A delegada Ingrid Estevam, chefe da Divisão de Referência da Pessoa Desaparecida, observa que muitos jovens, buscando independência, acabam fugindo de casa em situações de conflito. A influência da internet e das redes sociais, que ocupam uma parte significativa da vida desses adolescentes, também tem contribuído para esse cenário. “Os pais muitas vezes não sabem com quem seus filhos estão interagindo online, e isso pode agravar os conflitos”, explica a delegada.
No caso de Jhonatan, a situação é complexa. Após sua fuga, ele excluiu suas contas nas redes sociais e parou de atender as chamadas de sua mãe. Elesvânia suspeita que ele possa estar sendo ajudado por alguém próximo. A situação começou após um desentendimento entre a mãe e a ex-companheira, que, segundo a mãe, coagia Jhonatan a se afastar dela.
A Polícia Civil está investigando o caso, mas até o momento não há pistas concretas sobre o paradeiro do jovem. Seu nome e imagem foram incluídos na lista de desaparecidos, e qualquer informação pode ser compartilhada pelo telefone 0800 28 28 197.
Em um contexto mais amplo, os dados são alarmantes. Minas Gerais é o terceiro estado do Brasil com mais casos de desaparecidos. Em 2023, dos 80.317 casos registrados no país, 7.194 ocorreram em Minas, atrás apenas de São Paulo e Rio Grande do Sul. O perfil dos desaparecidos, em sua maioria, é de homens entre 12 e 17 anos, frequentemente em situações de conflitos familiares.
A luta de Elesvânia é um retrato da realidade que muitas famílias enfrentam no estado, onde a dor da incerteza se mistura ao desejo de reencontrar aqueles que amam. A prevenção e o acolhimento no ambiente familiar, segundo as autoridades, são passos fundamentais para evitar que mais jovens desapareçam e para que outras mães não vivam essa angústia.