Pfizer testa ‘Ozempic em cápsula’ para perda de peso; saiba quando deve chegar ao mercado

Um novo medicamento para perda de peso deve agitar o mundo nos próximos meses. Ainda sem data para chegar ao mercado, a Pfizer divulgou novos resultados dos testes para desenvolver uma pílula para quem pretende emagrecer. Na última quinta-feira (11), a farmacêutica afirmou que o remédio entrará em ensaios de fase 2 no segundo semestre deste ano. O novo comprido será projetado para imitar os efeitos da injeção de semaglutida , vendida como Wegovy e Ozempic.

Apesar de não divulgar muitas informações sobre o novo medicamento, a Pfizer testou quatro versões de tratamento – chamado danuglipron – com uma pílula de uma vez ao dia em vez de duas vezes ao dia. O objetivo é encontrar uma que provoque a perda de peso suficiente sem os efeitos colaterais que fazem as pessoas pararem de tomá-la. A expectativa ainda é de que danuglipron ofereça uma solução mais conveniente para pacientes, especialmente eliminando a necessidade de injeções frequentes.

Com o lançamento, a empresa estaria tentando se recuperar da estagnação pós-pandemia e entrar no mercado bilionário de emagrecimento, que estima faturar mais de US$ 100 bilhões (R$ 550 bilhões) por ano. Com o anúncio, as ações da farmacêutica subiram quase 3% antes de reduzir os ganhos no início do pregão pré-mercado, de acordo com informações do Financial Times.

Os medicamentos “da moda” mais efetivos na perda de peso

Um novo estudo publicado pela revista científica JAMA Internal Medicine no dia 8 de julho, mostra que, entre pacientes com sobrepeso e obesidade, a tirzepatida, princípio ativo do medicamento Mounjaro, é mais efetiva na perda de peso do que a semaglutida, ativo do Ozempic e do Wegovy. Os resultados da pesquisa afirmam: o uso da tirzepatida levou tanto a porcentagens maiores de perda de peso corporal quanto fez com que mais pessoas chegassem a perdas significativas.

Este é o primeiro estudo que compara diretamente a efetividade dos dois remédios. Até então, os dados sobre o potencial dos medicamentos eram os dos ensaios clínicos de fase 3, feitos de forma separada, para cada medicação.

Segundo Marcio Mancini, diretor do Departamento de Tratamento Farmacológico da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) e do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), o resultado da nova pesquisa não surpreende. A tirzepatida mostrou resultados superiores à semaglutida já nos ensaios clínicos de fase 3, cujos resultados já são conhecidos.

“A novidade foi esse levantamento populacional de pessoas que receberam prescrição de um remédio ou outro no território americano. É um estudo que a gente chama de vida real, não é um estudo experimental”, afirmou o endocrinologista.

No Brasil, o Mounjaro (tirzepatida) recebeu a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em setembro do ano passado, para uso em tratamento de diabetes tipo 2, no entanto, ainda não começou a ser comercializado. Em países, como Estados Unidos, o medicamento também foi aprovado para o tratamento de obesidade e sobrepeso.

Já a semaglutida tem aprovação da Anvisa para ambos os casos, sendo o Ozempic a versão aprovada para tratamento de diabetes tipo 2 e o Wegovy para obesidade e sobrepeso. Porém, somente o Ozempic está disponível nas farmácias brasileiras e a expectativa é que o Wegovy chegue ao mercado em agosto. Enquanto isso, o Ozempic vem sendo prescrito de forma off label (com indicação diferente da prevista em bula) por médicos para o tratamento da obesidade.

O que diz o estudo

A pesquisa foi realizada a partir de registros clínicos de pessoas com sobrepeso ou obesidade dos Estados Unidos que iniciaram tratamento com tirzepatida ou semaglutida. No total, os pesquisadores acompanharam a evolução do quadro de cerca de 41 mil pacientes.

Após um ano de uso dos medicamentos, a perda de peso média dos participantes que usaram tirzepatida foi de 15,3%, enquanto aqueles que utilizaram a semaglutida perderam cerca de 8,3% do peso corporal. Os benefícios foram observados tanto entre pessoas que tinham diabetes tipo 2 quanto entre as que não tinham.

Além disso, os resultados mostram que, ao final do estudo:

– 81,8% dos participantes que usavam tirzepatida e 66,5% dos que usavam semaglutida atingiram 5% ou mais de perda de peso;

– 62,1% dos participantes que usavam tirzepatida e 37,1% dos que usavam semaglutida atingiram 10% ou mais de perda de peso;

– 42,3% dos participantes que usavam tirzepatida e 18,1% dos que usavam semaglutida atingiram 15% ou mais de perda de peso.

“É interessante que, quanto maior a porcentagem de perda de peso, mais se acentua a diferença entre os dois”, comenta Mancini.

A Novo Nordisk, fabricante do Ozempic e do Wegovy, comentou sobre as substâncias:

“Agora entendemos melhor a fisiopatologia da doença e podemos investir em terapias mais específicas, seguras e cada vez mais potentes”. Segundo a farmacêutica, o aquecimento de estudos reforça a importância de olhar para a obesidade de forma séria e continuar investindo em medicamentos inovadores. Por isso, afirmou que segue “comprometida em preencher a lacuna de eficácia entre tratamentos clínicos disponíveis e a cirurgia bariátrica”.

A reportagem também procurou a Eli Lilly, fabricante do Mounjaro. Como resposta, a farmacêutica disse que, como não patrocinou e não esteve envolvida neste estudo, não poderia opinar.

Tirzepatida x semaglutida

As duas moléculas fazem parte do grupo de substâncias cuja ação se assemelha a de hormônios produzidos no intestino. A semaglutida, do Ozempic e do Wegovy, age da mesma forma que o GLP-1, substância que auxilia no controle do açúcar no sangue, da liberação de insulina e das sensações de saciedade e fome.

Já a tirzepatida é uma molécula análoga tanto do GLP-1 quanto do GIP, outro hormônio que contribui para esse controle. Como age em dois receptores diferentes, sua ação é potencializada. Ainda assim, Mancini ressalta que ambas as moléculas são eficientes e possuem suas limitações. “São medicações muito seguras. Eu acho que a gente tá falando só de números que são um pouquinho maiores para a tirzepatida”, afirma.

Para o endocrinologista, a realidade de cada paciente é o que vai ditar o que será prescrito por um médico. Por exemplo, se uma pessoa precisa perder mais peso, ela teria um benefício maior com a tirzepatida. “Mas tem que ver o custo”, relembra, afirmando que este é o maior limitador do uso desses medicamentos atualmente, já que o preço do Ozempic, por exemplo, chega a R$ 1 mil por caneta. O Wegovy e Mounjaro devem ter preços ainda mais altos por terem doses mais altas do princípio ativo.

(Com informações de Estadão e O Tempo)