Coluna Vida em Sociedade: o perigo mora ao lado

Enfrentamento ao abuso e à exploração sexual infantil não é um assunto qualquer. No entanto muitos de nós não tratamos dele no dia a dia por ser um tema bastante delicado e que exige um tato diferenciado na lida com tal situação. Ainda mais quando o que falaremos pode ser o que assolará o que temos de mais precioso em nossa sociedade – nossas crianças e adolescentes.

Esses de forma clarividente são o futuro da nossa nação brasileira. Se desde a infância não os ensinarmos a lidar com a vida de modo responsável; se não os incumbirmos de valores sociais, humanos e de ética para com o semelhante, o que podemos esperar se serão eles a governar e comandar nosso mundo futuro? Desse modo gostaríamos de na sequência chamamos a atenção ao que foi destaque no último final de semana, pois no dia 18 de maio se comemorou o Dia Nacional de Enfrentamento ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes.

Definitivamente não é sem motivo que instituições educacionais, sociedade organizada e ONG’s realizam a cada ano passeatas e manifestações legítimas para chamar a atenção de autoridades e de toda a população. O abuso e a exploração sexual é um distúrbio que pode acarretar além de traumas momentâneos, resquícios psicológicos e físicos para o resto de uma vida. O dia nacional foi instituído em razão de que no dia 18 de maio de 1973, uma menina de oito anos foi sequestrada, violentada e cruelmente assassinada no estado do Espírito Santo. O corpo dela apareceu seis dias depois, carbonizado, mas os seus agressores, jovens de classe média alta, nunca foram punidos.

A data foi instituída a partir da aprovação da Lei Federal nº. 9.970/2000. O  “Caso Araceli”, como ficou conhecido, ocorreu há quase 40 anos, mas, infelizmente, situações absurdas como essa ainda se repetem. Pois em meios sociais em que não há divisão de valores bem definidos, onde seria chamado de lar pode se transformar em um antro de maldade contra esses que estão em um período de transformação e formação do autoconhecimento. Essa fase pode se tornar mais do que um choque se eles forem submetidos a tratamento degradante, de crueldade e de extrema maldade e de desrespeito.

Os órgãos de polícia e de denúncias desses abusos não raramente têm recebido tais notificações e atuado com incisão na interrupção desse mal. No Brasil  o “Disque 100”, criado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, é um serviço de recebimento, encaminhamento e monitoramento de denúncias de violência contra crianças e adolescentes. Os dados mostram que, de março de 2003 a março de 2011, o Disque 100 recebeu 52 mil denúncias de violência sexual contra este público, sendo que 80% das vítimas são do sexo feminino. Não sem razão as leis que tratam desse tema têm se endurecido cada vez mais para que o autor seja de forma singular punido.

Quem toma conhecimento de situações como essas na própria casa, com vizinhos ou recebe informações de terceiros não deve em hipótese alguma ficar calado. Isso somente poderá ser extirpado se e somente se denunciarmos, quando realmente estivermos atentos e nos colocarmos no lugar dos que estão manchados com tanta crueldade. É preciso cada vez mais falar sobre o assunto nas praças, nas rodas de bar, nas igrejas e em casa.

Lembremos que quem se cala por consentir o nocivo, estará colaborando com ele. Certa feita o líder e ativista americano, Martin Luther King, foi bastante feliz ao pronunciar “o que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética… o que me preocupa é o silêncio dos bons”. Estaremos em consciência limpa e igualmente certos da nossa contribuição quando agirmos e não permitirmos que ameaças infundadas de infratores ou qualquer tipo de sujeição vinda deles reduza a dignidade das possíveis vítimas que na maioria das vezes são indefesas e nem sequer possuem discernimento e consciência do mal que as assola.