A onda de calor deve agravar o pior surto de dengue, zika e chikungunya vivido em Minas Gerais. Uma pesquisa da Universidade de Michigan (EUA), realizada no Brasil, calculou que, em um aumento de temperatura de 2ºC, as transmissões de arboviroses podem aumentar. O crescimento pode chegar a 20%.
Para se ter ideia, a previsão da onda de calor em Minas Gerais é de temperaturas até 5ºC acima da média até esta sexta-feira (15 de março). Infectologistas escutados pela reportagem alertam para um possível aumento no número de mosquitos Aedes aegypti e de diagnósticos diários das doenças. No Estado, a cada 12 segundos, um novo caso suspeito de dengue é registrado.
De acordo com o epidemiologista Carlos Henrique Nery Costa, um ajuste biológico ocorre naturalmente no Aedes aegypti conforme as condições de temperatura. Ele explica que o mosquito fica mais ativo durante o calor. “O inseto não tem controle de temperatura, então, à medida que fica mais quente, a transmissão dos vírus fica mais acelerada”, alerta ele, que é doutor em Saúde Pública Tropical pela universidade de Harvard. O processo é o mesmo que causa alta dos casos de arboviroses durante o verão, mas, dessa vez, intensificado pela temperatura ainda mais elevada pela onda de calor.
Na pesquisa da Universidade de Michigan, por exemplo, a cidade de Recife foi usada como base de estudo, e o número de novos casos após a primeira pessoa infectada por dengue saltou de quatro para seis em um aumento de temperatura de 2ºC. Nery Costa reforça que, quanto mais quente, o tempo de incubação do vírus no mosquito fica menor, isto é, ele passa a transmitir dengue, zika ou chikungunya mais rápido.
“Naturalmente, leva alguns dias para que o inseto passe a transmitir as doenças desde o primeiro contato com os vírus. Isso é o que chamamos de tempo de incubação. Mas, com as altas temperaturas, o vírus chega mais rápido às partes bucais do inseto. Então, à medida que a temperatura sobe, aumenta a proliferação da dengue”, analisa Nery Costa.
De fato, de acordo com o infectologista em medicina tropical Julio Croda, o ciclo de transmissão das arboviroses pode cair de até 10 dias para 6 a 7 dias por causa do aumento da temperatura. A maior preocupação, segundo o médico, é a multiplicação do vetor. Ele explica que os mosquitos se reproduzem mais rápido durante o calor. “O mosquito da dengue é muito eficaz em se proliferar e transmitir as arboviroses. Com a alta temperatura, o ciclo reprodutivo fica mais rápido. Mais calor, mais mosquito no ambiente. A frequência do vetor vai aumentar”, diz.
Contra a explosão de casos, previna-se dos focos do mosquito
Para evitar grandes saltos na proliferação das arboviroses, Mário Gusta aconselha medidas de prevenção contra os focos do Aedes aegypti e proteção pessoal, como uso de repelentes. “O jeito, agora, é tentar evitar a presença do inseto. Então, o ideal é tomar muito cuidado essa semana, reforçar o uso de repelentes e cuidar do ambiente em que estamos, evitando focos de água parada e entulhos, como é amplamente divulgado”.
Cuidados contra focos do mosquito:
- Eliminar água armazenada em vasos de plantas, pneus, garrafas plásticas, piscinas sem uso e sem manutenção é a melhor forma de evitar a proliferação do Aedes aegypti;
- Deixe sempre bem tampados e lave com bucha e sabão as paredes internas de caixas d’água, poços, cacimbas, tambores de água ou toneis, cisternas, jarras e filtros;
- Não deixe acumular água em pratos de vasos de plantas e xaxins. Coloque areia fina até a borda do pratinho;
- Plantas que possam acumular água devem ser tratadas com água sanitária na proporção de uma colher de sopa para um litro de água, regando no mínimo, duas vezes por semana. Tire sempre a água acumulada nas folhas;
- Não junte vasilhas e utensílios que possam acumular água (tampinha de garrafa, casca de ovo, latinha, saquinho plástico de cigarro, embalagem plástica e de vidro, copo descartável etc.) e guarde garrafas vazias de cabeça para baixo;
- Entregue pneus velhos ao serviço de limpeza urbana, caso precise mantê-los, guarde em local coberto;
- Deixe a tampa do vaso sanitário sempre fechada. Em banheiros pouco usados, dê descarga pelo menos uma vez por semana;
- Retire sempre a água acumulada da bandeja externa da geladeira e lave com água e sabão;
- Sempre que for trocar o garrafão de água mineral, lave bem o suporte no qual a água fica acumulada;
- Mantenha sempre limpo: lagos, cascatas e espelhos d’água decorativos. Crie peixes nesses locais, eles se alimentam das larvas dos mosquitos;
- Lave e troque a água dos bebedouros de aves e animais no mínimo uma vez por semana;
- Limpe frequentemente as calhas e a laje das casas, coloque areia nos cacos de vidro no muro que possam acumular água;
- Mantenha a água da piscina sempre tratada com cloro e limpe-a uma vez por semana. Se não for usá-la, evite cobrir com lonas ou plásticos;
- Mantenha o quintal limpo, recolhendo o lixo e detritos em volta das casas, limpando os latões e mantendo as lixeiras tampadas.
- Não jogue lixo em terrenos baldios, construções e praças;
- Permita sempre o acesso do agente de controle de zoonoses em residência ou estabelecimento comercial.
[Com informações de O TEMPO]