Sem dúvida, nobre aluno: o correto é “chegado”, pois este é o único particípio do verbo chegar que a norma culta admite. Alguns verbos podem apresentar duas ou mais formas em alguns dos seus tempos. Isso significa que eles admitem tanto o particípio regular quanto o particípio irregular, são os chamados verbos abundantes, mas esse não é o caso do verbo chegar.
“Segundo a norma culta, os particípios regulares são usados depois dos verbos “ter” ou “haver”, como, por exemplo, “ter chegado” ou “haver chegado”. Já os irregulares são utilizados na voz passiva, depois de verbos como “ser”, “estar”, “ficar”, entre outros. Assim, a palavra “chegado” é um particípio regular (aquele terminado em “-ado” ou “-ido”). Já o vocábulo “chego”, a princípio, pode parecer um particípio irregular.”
Caso semelhante é o do verbo trazer, que admite “Trago” e “trazido”, estas que são palavras gramaticalmente corretas existentes na língua portuguesa, mas as duas não possuem um mesmo uso e são uma dúvida recorrente em relação ao verbo “trazer”. A palavra “trago” é a primeira pessoa do singular, no presente do indicativo, dos verbos “trazer” e “tragar”. Já a palavra “trazido” é o particípio regular do verbo “trazer”. Considerando isso, a expressão “tinha trago” não existe, de modo que a expressão correta nesse caso seria “tinha trazido”.
Vale notar que existe regularidade na formação desses “particípios irregulares” sem pedigree: como ocorre com os (legítimos) “aceito”, “gasto”, “pago” e outros, a forma do particípio popular coincide com a do presente do indicativo da primeira pessoa do singular: eu chego, eu trago, eu perco, eu caço…
Não é improvável que, com o tempo, algumas dessas formas emergentes acabem encontrando abrigo na língua culta. O mundo dos particípios irregulares sempre conviveu com uma boa dose de instabilidade. “Pego”, particípio irregular do verbo pegar, é aceito pelos gramáticos no Brasil. Pode ser que um dia “chego” siga os passos de “pego”, mas, enquanto isso não ocorrer, meu nobre aluno deve escrever “Eu não havia chegado”, afinal é preciso aprender com quem sabe!