Há 50 anos, em 12 de novembro de 1973, nascia oficialmente o movimento Hip Hop, na quebrada do Bronx, gueto de Nova Iorque. A data escolhida para ser o marco mundial da cultura Hip Hop faz referência ao dia em que foi fundada a primeira organização mundial desse movimento: a Zulu Nation.
A ONG Zulu Nation foi a catalizadora do movimento cultural que misturava a arte urbana e periférica representada pelo grafite, dança e música. Na música, aliás, a diversidade de influências (funk, Rhythm and Blues, rock, reggae, jazz e blues) foram responsáveis por dar visibilidade ao movimento, ampliando a voz e a mensagem da juventude dos guetos americanos.
Nas reuniões promovidas pela Zulu Nation, os jovens encontravam uma alternativa para a violência das gangues e exposição às drogas. Além de ser um espaço de expressão cultural, os encontros e festas garantiam a amplificação dos discursos críticos ao sistema de opressão racial e social vivenciado pela juventude periferizada.
O movimento ganhou o mundo e, no Brasil, a cultura Hip Hop chegou primeiro nas periferias das grandes metrópoles, mas logo se espalhou por todo o país, mostrando que a identificação com o movimento ultrapassava as barreiras geopolíticas e de linguagem.
Desde o início dos anos 90, o movimento já mostrava sua força na cidade com nomes da street dance, como o Grupo The Boys e Toninho Crespo. No Rap, outra expressão forte da cultura Hip Hop, muitos DJs e MCs passam a visão usando beats e rimas que tem sotaque barranqueiro e mensagem universal contra o racismo, a desigualdade social e as opressões que afetam a juventude e suas comunidades.
Um exemplo de renovação e resistência do movimento Hip Hop em Pirapora é a Batalha dos Cariris.
O grupo de jovens responsáveis pela Batalha, começou a se encontrar nas Praças de Pirapora no ano de 2017, fazendo desses encontros a oportunidade para declamar poesia SLAM, poesia marginal, músicas autorais, beats, clipes e mandar o freestyle na arte do improviso de rimas. Os eventos passagem a ter regularidade e contar com a presença dos MCs de vários bairros da Cidade.
A Batalha tomou a Praça dos Cariris como seu território, ganhando o nome oficial de Batalha dos Cariris. Depois de várias edições realizadas em 2018 e 2019, os encontros foram interrompidos durante a pandemia. Porém, os MCs não pararam de produzir, gravar e espalhar a mensagem do Rap. O trabalho do MC LeChay Drunk, que está ganhando cada vez mais projeção na cena mineira, é um bom exemplo dos frutos do movimento Hip Hop barranqueiro. LeChay é um dos MCs que primeiro colaram na Batalha dos Cariris.
Veja no link uma das produções do artista piraporense.
Após o período de isolamento social, as Batalhas voltaram a acontecer e ganharam ainda mais força com o apoio da Biblioteca Tamboril, que se tornou ponto de encontro dos MCs. Aos sábados a Batalha dos Cariris reúne os jovens talento da rima freestyle, improvisada, e também o público em geral, que vem prestigiar a arte desses jovens talentos e a mensagem que eles trazem.
Os organizadores da Batalha cada vez mais lutam pela valorização e reconhecimento do movimento na cidade e região. Para Riquelme Mesquita, batizado na Batalha dos Cariris como MC Flick, “o espaço para o Hip-hop no norte de Minas é relevante por vários aspectos. Primeiro, pela promoção da cultural local, abrindo espaço para artistas mostrarem seus talentos.
O Rap aborda questões de identidade e pertencimento, envolvendo os jovens e os afastando de comportamentos de risco. Além disso, as temáticas debatidas, que trazem reflexão sobre questões sociais como racismo, desigualdade e violência”.
No ano em que o movimento mundial completa 50 anos, o Hip Hop passa a conquistar reconhecimento não somente pelo público e pelos artistas que fazem essa cultura acontecer. Prova disso, é que em nível estadual, a Assembleia Legislativa Mineira aprovou no dia 23/08 o Projeto de Lei que reconhece a relevância cultural do Hip Hop e seus elementos na formação da identidade cultural das periferias em todas as cidades do estado.
Isso significa que essa expressão cultural tende a ganhar mais apoio e expressividade dentro do contexto cultural mineiro, alcançando o reconhecimento que já foi conquistado há muito tempo entre aqueles que já estão inseridos e alinhados com a mensagem que o movimento carrega.