Houve uma época que quando eu era criança e pensava em meu nome, as imagens que me vinham à minha cabeça eram de cores belas, naturalmente coloridas, como as cores bonitas das paisagens do Cerrado, banhadas pelos raios de um dourado sol de fim de tarde.
Não sei explicar muito bem a razão pela qual eu tinha essa concepção tão romântica e idealizada dos meus tons.
O certo é que todo esse colorido que permeava a minha imaginação acerca do Cerrado ficou meio desbotado depois que cresci e vi que não tinha mil cores assim, e tantos tons.
As histórias fazem travessias entre a realidade e o sonho, sobretudo que é uma história mágica, mítica, que bebe no imaginário do povo do Cerrado.
As lendas, os causos, os contos e crendices que permeiam minhas historias, causam um certo estranhamento e, ao mesmo tempo, fascinação.
A narrativa inteira é recheada de sonhos, todas as personagens, cada qual à sua maneira, sonham com alguma coisa.
Posso citar a história de uma menina sonhadora descendente de índios, com sua delicadeza e às vezes lançando mão de muita sensualidade, retrato aqui a mulher de uma forma belíssima, e comprovo, mais uma vez, a sensibilidade e habilidade que tenho para descrever a alma feminina.
A beleza daquela mulher era de parar o Cerrado.
As histórias que retrato as vezes fazem denúncia social das crueldades da colonização, mas contam também os sentimentos, as dores e dissabores daqueles que sobreviveram a ela, daqueles que ainda sofrem as mazelas e tentam cicatrizar as profundas feridas.
E todas têm o mesmo objetivo, encontrar a realização que há muito tempo havia deixado de existir naquele lugar.
Chamou muito a minha atenção o fato de algumas personagens continuarem a lutar por sobreviver em um mundo tão destroçado e abandonado, mesmo quando o mais fácil seria desistir, deixar de ter esperança.
Todos também sonham e acreditam que o melhor ainda está por vir, apesar das adversidades.