…nasci, ainda criança fui eu que imaginei Salinas. Meus antepassados negaram a herança das suas vidas.
Há sempre histórias mal contadas, isso me levou a analisar e fazer um confronto entre realidades antigas e atuais existentes em Salinas desde a sua colonização e o papel que as pessoas vem exercendo nesse contexto trazendo informações, e mostrando que a nossa verdadeira história foi mal contada.
Existe a história dos vencedores e dos vencidos.
Sabemos que cultura salinense e brasileira é o resultado da miscigenação de diversos grupos étnicos que participaram da formação da nossa população.
A miscigenação brasileira é um processo histórico e cultural marcado pela mistura de diversos grupos étnicos e culturais ao longo dos séculos. Essa miscigenação inclui a influência de povos indígenas, africanos e europeus, além de outras etnias que foram chegando ao Brasil em diferentes momentos da história.
Essa miscigenação é uma das principais características da identidade cultural brasileira, que se reflete na música, na culinária, nas artes e na sociedade em geral. A mistura de tradições e culturas também levou à formação de uma língua brasileira única, com termos e expressões que só são compreendidos pelos brasileiros.
Estou refletindo sobre a relação entre o território, a memória e a história do povo que ocupou Salinas.
E ampliar a visão sobre as raízes indígenas e africanas da cultura salinense e brasileira, abordando temas como a ancestralidade indígena e afro-brasileira e a memória.
Para escrever esta coluna tive que pesquisar, e minhas pesquisas tem sempre dois territórios distintos.
Do lado dos europeus, ficaram registrados em livros que a grande investida por estas paragens principiou em 13/06/1554, quando o desbravador Francisco Bruzza Espinosa partiu de Porto Seguro/BA e percorreu toda essa região do Norte de Minas, chegando até o Jequitinhonha, Rio Pardo, Serra das Almas, Itacambira etc.
Um século depois, em 1663 o famoso Conde da Ponte, por concessão de sesmaria, iniciou a ocupação desta região. Por volta de 1698, o bandeirante Antônio Luiz dos Passos estabelecia uma fazenda de criação de gado às margens do Rio Pardo, e daí percorreu toda essa região, a procura de riquezas. Numa dessas incursões chegou às margens de um rio pouco caudaloso e encontrou ricas jazidas de salgemas, daí origina o nome de Salinas.
Os índios que habitavam esta região eram os Tapuias da Nação G.
Do lado dos povos indígenas e afro, as fontes são sobretudo orais. Viajo pelas regiões do Cerrado, onde vive remanescentes, e entrevisto dezenas de pessoas.
É evidente que esses registros são muito férteis em termos de reconstrução da história.
E por que povo indígena e afro? Porque foram os mais massacrados e expulsos das suas terras pelos colonizadores.
Já do lado da memória e da história escrita, é mais fácil. Há centenas de publicações sobre o período que os portugueses denominaram Salinas e região.
Mas, mesmo aí, perante a aparente verdade da escrita, existem versões contraditórias que revelam filosofias e atitudes diversas em relação à Salinas.
A viagem pelas páginas dessa coluna, de fato, vai levar o leitor para uma colonização que já se deu, mas que deixa uma forte lembrança desse período, desde encontro entre três culturas tão diferentes e é um dos pontos altos dessa historia.
Lembro que os africanos eram comprados nas regiões litorâneas da África para serem escravizados no Brasil, e essa migração forçada resultou na chegada de milhões de cativos africanos ao Brasil.
O tráfico passou a ser proibido em terras brasileiras somente em 1850, por meio da Lei Eusébio de Queirós.
Esse é um assuntos que me interessa em particular, porque sou desse território: o de buscar compreender essas culturas.
Essa é a minha voz, uma voz entre a escrita e a oralidade, entre Salinas/Brasil, a Europa e África, entre a cultura portuguesa e as outras culturas do meu país.
No Brasil, e especialmente em Salinas, a história do país anterior à chegada dos portugueses é completamente ignorada, mas quero colocar luz nestas histórias.
Aqui a literatura pode ter uma função quase terapêutica porque é preciso dizer que não houve um único passado.