Salinas é tema presente em minhas obras. Acho que é preciso expandir a realidade de Salinas para o mundo.
O município de Salinas foi explorado por europeus e, durante esse período, os colonizadores massacraram milhares de indígenas e escravizaram e mataram diversos negros trazidos a força do continente africano.
Mas quais histórias são fornecidas para estudantes e moradores de Salinas?
Qual a verdadeira versão do passado é contada para os salinenses?
Quem contou a história de Salinas e fez parecer com que ela não tivesse história foi a elite política mineira do passado.
Hoje luto contra isso, e Salinas tem que se fazer outro percurso.
Na minha avaliação após os movimentos de emancipação, talvez uma cultura herdada dos colonizadores europeus, as elites locais que assumiram o poder acabaram por se apropriar, em parte, da mesma visão sobre Salinas, sem resgatar toda a sua pluralidade e diversidade interna em vários setores.
Sempre sustentei nas minhas escritas e defendo que o município precisa de perceber, acima de tudo, que nossa história não é contada por uma única voz.
Uma dessas vozes é pensar que existe uma só coisa chamada Salinas, esquecendo que SALINAS são tantas coisas, tem a mesma diversidade de qualquer outro município rico e diverso.
Acho que a história está muito mal contada do nosso próprio lado, e nesse processo é, justamente a missão de quem escreve mostrar que a história de um município, ou de uma pessoa, não pode ser simplificada a uma voz.
Por isso que digo que há muitas Salinas, que ora é norte,
e mesmo sem ter Onha,
é vale do Jequitinhonha,
do Alto Rio Pardo,
ao polígono da seca está.
A elite política mineira arquitetou uma visão estereotipada sobre Salinas e continua perpetuando a imagem de um município tomado por coisas negativas:
Série especial de reportagens da Rádio Itatiaia desvenda os segredos e desafios da região, visitada pelo repórter Gustavo Cícero.
Moradores do Vale do Jequitinhonha, em Minas, rebatem: “não somos um Vale pobre”
Região tem 55 cidades e é dividida em Baixo, Médio e Alto Jequitinhonha
Muitas pessoas já ouviram falar que o Vale do Jequitinhonha é uma das regiões mais pobres de Minas Gerais e até do Brasil, com poucas oportunidades e baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Apesar das dificuldades, as mais de 950 mil famílias que vivem no Vale são fortes, guerreiras e carregam há anos suas tradições e costumes fazendo da região um território rico em cultura e diversidade. A Itatiaia produziu uma série especial, chamada “Sempre Vivos”, e todos os dias vai apresentar um novo retrato dessa região repleta de histórias.
É preciso o salinense tomar posse da sua própria história, e não deixar, simplesmente, na mão dos que detém o poder político e da informação.
Apesar de todos os meus esforços pude apreender, pela experiência relatada, que os olhares construídos têm na mídia uma grande difusora, sedimentando visões preconceituosas e reducionistas sobre Salinas.
Acho que é preciso Salinas ter um pensamento, uma ideologia própria.
Acredito que o problema principal é sentir que existe uma visão clara sobre o presente e o futuro, fundada em um discurso verdadeiro, mais profundo, na procura daquilo que pode ser um caminho próprio.
Escrevo como se tivesse feito um contrato com Salinas. É isso que eu quero fazer: converter Salinas em páginas e escrever nelas como se fosse uma missão, nem que seja só para mim!