Tenho hoje experiências para contar que quando Ho Chi Minh saiu da prisão e lhe perguntaram como conseguiu escrever versos tão cheios de ternura e delicadeza numa prisão tão desumana, ele respondeu: “Eu desvalorizei as paredes. Essa lição está se convertendo assim na minha vida.
Pode até achar que sou um sonhador que briga com a realidade.
É que é um modo de subverter as coisas que eu aprendi do [líder revolucionário] vietnamita Ho Chi Minh.
No fundo ele nunca esteve preso. Estamos presos a esta coisa que chamamos realidade, há uma ditadura que diz que o mundo tem que ser assim. Mas o mundo não é assim. Há outros mundos possíveis.
Muitas vezes por semana sou confinado para fazer dialise, aí uso da poesia, é o momento de desvalorizar as paredes, ver além do muro, além desse confinamento, penetrar no infinito, no universo e ver além.
Veja o que escrevi hoje sobre isso: A poesia pode ser algo que está para além do real, que é mais que o real que transcende a compreensão racional e relaciona-se com o inconsciente, com o imaginário e até o absurdo.
O bom mesmo é quando não faz diferenciação entre sonho e realidade.
Três vezes por semana faço diálise e vem o desejo da liberdade.
Aí vem os pensamentos que foram feitos para superar limites e visitar ao impossível.
Neste momento vem a poesia a dizer-me: – recusa os limites, seja um vôo sonhado para além do horizonte.
Sou um jeito de expressar e encantar e fazer o poeta apaixonar com a vida.
Na escola eu já notava que não se fazia um poema ou um conto como se fazia uma operação aritmética.
A poesia é um outro modo de pensar que está para além da lógica que a escola e o mundo moderno nos ensinam.
Mesmo adolescente a poesia já me dava a sensação de sentir irmão do universo.
Por continuarmos vivos e sobrevivermos, porque a orientação poderosa do criador descansa sobre as nossas mentes e com fé tudo isso passará.
As paredes só existem quando nos impressionamos com elas, ou deixamos que nos retirem a liberdade interior.
Mas há que viver “sem paredes”, como pássaros, como os nossos sonhos ou o desconhecido da imaginação, que sempre pode nos invadir.