Diretor Zé Celso morre aos 86 anos em SP

José Celso Martinez Corrêa, considerado um dos mais importantes intelectuais e lideranças do teatro brasileiro, morreu, aos 86 anos de idade, na manhã desta quinta-feira (6), na cidade de São Paulo. O estado de saúde do dramaturgo havia tido um agravamento nesta quarta-feira (5), quando desenvolveu um quadro de insuficiência renal.

Desde então, o quadro se agravou, sem que ele conseguisse responder ao tratamento. O diretor teve falência dos órgãos na manhã desta quinta. Ele havia sido internado no Hospital das Clínicas, em São Paulo, após sofrer queimaduras no corpo devido a um incêndio em seu apartamento no bairro do Paraíso, na manhã do dia 4 de julho. Seu quadro foi considerado grave e 60% do corpo teria sido atingido pelas chamas.

Nascido em Araraquara, no interior paulista, ele foi um importante diretor, autor, ator e líder do Teatro Oficina. Mais conhecido como Zé Celso, ele tinha se casado com o diretor Marcelo Drummond, de 60 anos, em uma cerimônia que reuniu personalidades como Daniela Mercury, Marina Lima e Leona Cavalli, realizada em junho de 2023. Os dois estavam juntos há 37 anos.

Zé Celso Martinez Corrêa e Marcelo Drummond — Foto: Reprodução Instagram

Zé Celso Martinez Corrêa e Marcelo Drummond — Foto: Reprodução Instagram

TRAJETÓRIA DE ZÉ CELSO

Nos tempos de estudante universitário na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, ele fundou o Grupo de Teatro Amador Oficina. Seus primeiros textos, Vento Forte para Papagaio Subir (1958) e A Incubadeira (1959), ambos autobiográficos, são montados pela companhia sob direção de Amir Haddad. O grupo passou por um processo de profissionalização a partir da década de 1960, realizando adaptações de textos internacionais como Todo Anjo é Terrível e Pequenos Burgueses.

Tentando novos rumos artísticos, lançou, em 1974, um documento à opinião pública intitulado S.O.S., o que acabou fazendo com que fosse detido e torturado. Solto após 20 dias, parte para o exílio em Portugal. No ano seguinte, viaja para Moçambique. A volta para São Paulo aconteceu em 1978, quando tentou reacender o grupo, rebatizado Associação Teatro Uzyna Uzona.

José Celso Martinez Corrêa em registro de 2011 — Foto: Zé Paulo Cardeal/TV Globo

José Celso Martinez Corrêa em registro de 2011 — Foto: Zé Paulo Cardeal/TV Globo

Nos anos 1980, dedica-se à pesquisa e oficinas no Teatro Oficina. A volta aos palcos aconteceu em 1991, quando encenou As Boas, de Jean Genet (1910-1986), em que atua ao lado de Raul Cortez e Marcelo Drummond.

Sob a liderança de Zé Celso, o grupo continua suas atividades ao longo das décadas de 2000 e 2010, aprofundando as pesquisas em trabalhos que seguem a proposta de releitura dos textos originais.

CORDEL ENCANTADO: ÚNICA NOVELA DA CARREIRA

Apaixonado por teatro, ele teve algumas passagens pelo cinema e fez sua primeira (e única) novela em 2011, quando interpretou Amadeus em Cordel Encantado, na TV Globo. Na época, ele tinha 74 anos e afirmou para a Quem que não pretendia acompanhar o trabalho. “Detesto novela, não vou assistir de jeito nenhum. Trabalho à noite fazendo teatro. Aceitei fazer a novela, porque há potencial para diferentes tipos de linguagem, e a possibilidade de fazer um teatro eletrônico na TV”, explicou, enaltecendo a proposta dramatúrgica das autoras Thelma Guedes e Duca Rachid.

Ele conta que pensou em desistir da trama quando teve que embarcar para a Europa, onde foram feiras as primeiras cenas. “Quando cheguei ao aeroporto de Guarulhos, falei ‘não vou mais’. Mas conversei com o diretor (Ricardo Waddington) e fui”. Apesar de avesso à teledramaturgia, o ator reconheceu que Cordel Encantado era diferenciada: “É empolgante porque a Globo está expandindo a vertente da arte”, disse em entrevista para Quem.

José Celso Martinez Corrêa, como Amadeus, na novela 'Cordel Encantado' (Globo, 2011) — Foto: Zé Paulo Cardeal/TV Globo

José Celso Martinez Corrêa, como Amadeus, na novela ‘Cordel Encantado’ (Globo, 2011) — Foto: Zé Paulo Cardeal/TV Globo

POLÊMICA COM SILVIO SANTOS

 

Durante mais de 40 anos, Zé Celso e Silvio Santos travaram uma briga por conta do área onde está localizado o Teatro Oficina. Silvio é dono de um terreno nos arredores do teatro no bairro do Bixiga, na região central da cidade de São Paulo.

O apresentador e empresário pretendia construir um edifício para o Grupo Silvio Santos no local. Zé Celso, alegando que o empreendimento prejudicaria o Teatro Oficina, levou o caso para a Justiça e o imbróglio se arrasta por quatro décadas.

Na semana do casamento de Zé Celso e Marcelo, em junho de 2023, a empresa Residencial Bela Vista, do qual o Grupo Silvio Santos é proprietário, entrou com um pedido de liminar para impedir qualquer tipo de ação no terreno, determinando uma multa de R$ 200 mil no caso do descumprimento.

Zé Celso Martinez Corrêa — Foto: Reprodução Instagram

Zé Celso Martinez Corrêa — Foto: Reprodução Instagram

Zé Celso Martinez Corrêa — Foto: Reprodução Instagram

Zé Celso Martinez Corrêa — Foto: Reprodução Instagram