Um dia uma criança em seus primeiros anos de vida, com seis ou setes anos de idade, disse para a sua mãe que acreditava que ela era uma super-heroína. Essa mãe aos olhos da criança parecia ser a pessoa mais forte do mundo. Sempre que a criança precisava, a mãe estava por perto e de maneira muito firme, segura e audaz não deixava que a criança se abatesse.
Contudo certo dia essa criança, ao caminhar pela casa, percebeu que sua mãe estava na sala de estar chorando e parecia triste. Então, sem perguntar nada, o menino voltou para o seu quarto e permaneceu ali pensativo. Ele percebeu naquela hora que sua mãe não era de aço.
Compreendeu que por mais que ela se esforçasse para fazer tudo por ele, que ela também tinha sentimentos, dificuldades e que assim como todas as pessoas do mundo era também imperfeita. Para o cientista e filósofo alemão, Johann Goethe, “mas onde se deve procurar a liberdade é nos sentimentos. Esses é que são a essência viva da alma”.
Para o menino aquele parecia ser um momento de grande decepção para com sua mãe. Pois ela representava o que havia de mais forte, perfeito e grandioso. Compreendia que ela estava acima de tudo e de todos. Por outro lado, na verdade, tal acontecimento serviu de maneira crucial para ser uma libertação mental e espiritual para ele em muitas outras situações que se perfaziam a sua frente.
A partir dali ao refletir sobre o fato tempos depois, ele pode internalizar que todos nós somos de carne e osso. Isso quer dizer que somos seres humanos, somos imperfeitos; que temos emoções e que nem sempre estamos bem, mas que isso não quer dizer que somos fracos ou impotentes.
De certo que ao aprendermos a interpretar a vida com mais leveza é possível que tenhamos muito mais possibilidades de transformar a nossa finita existência terrestre em algo muito maior. Em uma passagem da escritora brasileira, Clarice Lispector ela nos alerta que “até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro”.
Definitivamente o ser humano é eivado de falhas enquanto vive! Isso não quer dizer que ele deve ser rotulado por uma situação ou outra. A imperfeição em muito nos abre a mente e o coração. Aceitar a si com suas deficiências e potencialidades é um exercício de maturidade constante.
O erro até certo ponto pode ser bom na vida em comunidade! Digo em comunidade, pois, por vezes, somente temos tal consciência, quando o outro nos aponta o que temos que lapidar em nós. Basta compreender os grandes homens e mulheres da história mundial, como Santo Agostinho, Pedro Apóstolo, Moisés do Velho Testamento Bíblico e muitos outros. Esses antes de se destacarem foram pessoas altamente errantes.
O que precisamos compreender é que existem deslizes toleráveis, mas que não podem ocorrer mais de uma vez. Não se aprende com o erro, mas com a consciência do ensinamento que ele nos traz.
Thomas Edson, Graham Bell, Santos Dumont e Albert Einstein erraram centenas e até milhares de vezes antes de inventar a lâmpada, o telefone, o avião ou a teoria da relatividade. Para Elbert Hubbard, filósofo americano, “o maior erro que você pode cometer é o de ficar o tempo todo com medo de cometer algum”.
Assim como a criança que no início na vida não compreende a imperfeição, também a nós se faz imperativo a ressignificação da mente para buscarmos a evolução humana e espiritual. Não para sermos “de aço”, mas para sermos mais sensíveis aos outros e compreendermos que todos nós podemos ser luz.
E todo dia tratar um pouco de sermos menos imperfeitos em prol de uma vida mais humana e mais caritativa. Quem já errou uma vez, sem dúvida conhece a dor de quem ainda está na caverna para poder de fato sair da escuridão!
(*) 1º Tenente PM – Comandante da 145ª Cia/10º Batalhão PM.