Estou exausto pela viagem alongada nos trilhos. Com o olhar entregue às cenas ligeiras que se passam no meu descuido improvisado, me atenho aos campos amarelos e floridos. Da janela do trem vejo o menino cair ao correr pela estrada cheia de flores ainda sem destinatários, por alguns segundos o mundo parece virar de cabeça pra baixo.
Ele se lamenta o atraso sofrido pela queda inesperada. Ao perceber seu desalento, olha ao redor; chamado incompreensível pelos amigos que continuam a seguir o rastro daquela bola perseguida. Ele fica para trás. No meio de tanta beleza daquelas terras esquecidas, o pranto solitário da criança me parece algo incrível. Escuto suas lágrimas intraduzíveis e sorrio. A cena foge da minha restrita visão janelal.
Sorte minha eu estar distante e protegido dos olhares alheios. Poderiam me julgar de insensível ou sem coração; a patrulha cibernética anda falando demais e entendendo de menos. Pergunto meu bom Deus: – Como posso alegrar meu espírito velho e caminhante no triste choro de uma alma ainda infantil? Ainda não descobri a resposta, mas suspeito que alguns males há de vir para o bem…
Kalkota – Índia
20 de janeiro de 2018