É chegada a hora.
Você lavando as roupas do menino Jesus nas correntezas desse rio. Desembrulhando hora e outra algumas vestes dos doze meses que já se passaram. Como se as próprias roupas fossem feitas de momentos, você ia despindo peça por peça. Janeiro, Fevereiro, Março…
Levei o relógio ao ouvido e escutei o correr das águas. O barulho da correnteza de tempos em tempos também me deixava ser posse em cujo o corpo se demora.
E naturalmente continuava o percurso sem nem me aproximar. Desaguando de gota em gota: nas casas, nas mãos e nas cabeças.
– Mata a sede dessa gente!
Mas esse não era o meu desejo.
O meu pedido era que nascessem asas em nós varadas de luzes, e no ar andaríamos de mãos dadas como se anda na Terra consumidos pela própria vida!
Montes Claros. Minas Gerais 22 de Dezembro de 2020