Numa iniciativa da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais – (SES-MG) com a Fundação Oswaldo Cruz – (Fiocruz), a partir de outubro deste ano o município norte-mineiro de São João do Pacuí sediará pesquisa para identificar os vetores que estão causando o aumento dos casos de Leishmaniose Tegumentar no município. Trata-se de uma doença infecciosa, não contagiosa, que provoca úlceras na pele e mucosas. A doença é transmitida ao ser humano pela picada de fêmeas de flebotomíneos (espécie de mosquito) infectadas.
Entre 2018 e a primeira quinzena deste mês, o Sistema de Agravos de Notificação – (Sinan), mantido pelo Ministério da Saúde, registrou 35 casos de leishmaniose tegumentar em São João do Pacuí. Em 2018 foram notificados três casos. Entre 2019 e 2021 foram notificados, por ano, sete casos da doença. Já entre janeiro e a primeira quinzena de julho deste ano já foram notificados 11 casos de leishmaniose tegumentar em São João do Pacuí.
Em abril deste ano a Coordenadoria de Vigilância em Saúde da Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros – (SRS) realizou capacitação de agentes de controle de endemias de São João do Pacuí para o controle da leishmaniose. O trabalho teórico e prático incluiu, entre outros temas, a captura e triagem de vetores transmissores da doença.
Nesta quarta-feira, 13, o município recebeu a nova visita de técnicos da SRS e da Fiocruz, oportunidade em que foram definidas as ações que serão executadas durante um ano, envolvendo a participação de agentes de controle de endemias de São João do Pacuí. Participaram de encontro realizado na Secretaria Municipal de Saúde a coordenadora de vigilância em saúde da SRS, Agna Soares da Silva Menezes; as referências técnicas em leishmaniose, Arlete Lisboa Gonçalves e Bartolomeu Teixeira Lopes; a técnica do laboratório macrorregional da SES-MG, Clarissa Fernandes Gomes e os pesquisadores da Fiocruz, Edelberto Santos Dias, Érika Michalky Monteiro e Natália Cristina Lima Pereira.
Arlete Lisboa explica que a SES-MG repassará insumos à Fiocruz para a realização da pesquisa. No último final de semana de outubro, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz vão iniciar o trabalho de capacitação de agentes de controle de endemias e a instalação de armadilhas em locais estratégicos do município. Esse trabalho será repetido mensalmente, durante três dias, até outubro de 2023.
Os pesquisadores, que há cerca de três anos desenvolveram o mesmo trabalho em Janaúba, suspeitam que o fato do município de São João do Pacuí possuir uma extensa área de montanhas e de matas, com muita umidade, pode estar favorecendo a proliferação de alguns mosquitos transmissores da leishmaniose. Por esse motivo, ressalta Arlete Lisboa, a pesquisa será implementada num período de um ano, objetivando coletar informações sobre a predominância de vetores em todas as estações do ano. Após a separação e triagem de mosquitos machos e fêmeas, os insetos serão enviados para análise no laboratório da Fiocruz, em Belo Horizonte.
A partir da identificação dos fatores que estão causando o aumento da incidência de leishmaniose tegumentar em São João do Pacuí, algumas das recomendações que poderão ser repassadas à população, é o uso frequente de repelentes e dedetização de domicílios, principalmente os que estão sediados em locais próximos a áreas de criação de frangos.
A DOENÇA
A coordenadora de vigilância em saúde da SRS de Montes Claros, Agna Soares da Silva Menezes explica que os insetos do gênero Lutzomyia, conhecidos popularmente como mosquito palha, tatuquira e birigui, são os principais vetores da leishmaniose tegumentar. A transmissão da doença ocorre pela picada de fêmeas infectadas. Os animais domésticos são hospedeiros acidentais da doença sem, no entanto, transmitir para as pessoas.
Nos seres humanos o período de incubação da leishmaniose tegumentar é de, em média, dois a três meses. Porém pode apresentar períodos mais curtos, de duas semanas, ou mais longos, de dois anos.
A doença se manifesta por meio de lesões na pele ou mucosas. Se apresentam com aspecto de úlceras, com bordas elevadas e fundo granuloso, geralmente indolor. As lesões mucosas são mais frequentes no nariz, boca e garganta.
O diagnóstico da doença é feito por meio de análise laboratorial. O tratamento é ofertado pelo Sistema Único de Saúde – (SUS), com uso de medicamentos específicos, repouso e boa alimentação.