Manhã de outono me levanto e vou as lembranças.
Pretendo apenas visitar o passado.
Dirijo-me aos lugares onde, em menino, eu conversava com os mestres e mestras da minha família.
Aqui estão minha Vó Dinha de origem africana e Vó Odilia Pena de origem indígena.
Esquecidas de morrer nas minhas lembrancas. À elas devo a habilidade de contar histórias.
Foram delas que ouvir falar da ancestralidade.
Ali, face ao nada, esperando apenas o tempo, as duas avós teciam a vida com o fio das histórias, esperança e dos sonhos.
Estas fotos me atiram para lembranças antigas.
Sou um mestiço, nasci do cruzamento de varias raças: negro, índio e europeu.
Sou um ser de encruzilhadas, sou dos vales e do sertão, uma região que está em busca do seu próprio retrato.
Eu sou de Salinas, de um caldeirão de culturas.
Essa é a minha voz, uma voz diversa entre mundos, entre a escrita e a oralidade, entre a ciência e a ficção, entre os vales e o sertão.
Sempre convivi com meus avós.