Uma vez, quando criança, minha mãe me mandou ir à mercearia. Atento, estive por todos os meus 7 anos para essa missão. Um mundo não reconhecível se passava ali por fora. Eu, trancafiado em mim mesmo, olhava desconfiado. Perguntava incansável para a mulher do balcão: – queria comprar o céu, como faço? Ela, sem entender nada (ou tudo), correu lá dentro e voltou ligeira com um papel azulado na mão. Entregou-me como se ali guardasse o segredo da vida. Voltei para casa correndo mais que as minhas próprias pernas. Nunca esqueci daquele bilhetinho com letras em formato de estrelas: “O poeta é Deus no céu das palavras.”
Barreirinhas. Maranhão.
19 de Março de 2021