Nossa primeira discussão na coluna Mais Esporte é compreender de uma forma mais técnica o que é a política pública de esporte, suas definições e objetivos e, com isso, criar um entendimento mais amplo quanto o atual status na sociedade que vivemos e avaliar as práticas e intervenções do poder público e dos agentes políticos na cidade de Montes Claros e Norte de Minas.
O esporte é um fenômeno social praticado por pessoas de diferentes classes e idades, sendo assim constatado em todo o mundo. Seu conceito sofreu transformações ao longo dos últimos anos, deixando de ser visto apenas como um simples lazer ou competição. Através do esporte, que também é visto como uma atividade econômica, obtém-se benefícios em diversos segmentos da vida, como, por exemplo, no aspecto biológico, psicológico e social da saúde (ALVES, J. A. B.; PIERANTI O. P., 2007).
Em relação a definição mais usada é que as Políticas Públicas de Esporte devem ser pensadas e instituídas para muito além de intervenções sazonais, pontuais ou ações fragmentadas, com intuito de viabilizar eventos esportivos ou fomentar treinamentos especializados para acolher demandas específicas de parcela mínima da sociedade.
Uma das definições de política pública que perdura ao longo dos anos e que é muito usada até hoje é a de Peters (1986), que relata a política pública como o somatório das atividades do governo, que age de maneira direta ou através de delegação, e que afeta a vida dos cidadãos de maneira geral. Outra definição que vem complementar o sentido e o valor dessa expressão é a de Lynn (1980), pois ele se refere à política pública como sendo um conjunto de ações governamentais que de certo modo atinge a população e produz seus efeitos.
Agora com uma breve descrição do que é esporte e potencialmente uma definição para melhor entendimento de Política Pública de Esporte, vamos analisar o cenário atual da cidade de Montes Claros e região, levando em consideração o acesso aos tipos de práticas esportivas, sejam elas educacionais, de participação ou de rendimento.
PERFIL DO AGENTES POLITICOS DO NORTE DE MINAS PARA O ESPORTE
Analisando também o perfil dos agentes políticos da cidade de Montes Claros e do Norte de Minas, percebemos total omissão e principalmente a falta de interesse em discutir, viabilizar e de buscar alternativas para uma política forte e pensada a médio e longo prazo. Para muitos, esporte não traz retorno, não dá voto ou não é importante a ponto de ter a atenção dos mesmos.
É muito claro que os mesmos não tomam tais medidas até por desconhecerem a área, pois na sua grande maioria só acham que esporte é evento ou distribuição de material esportivo, equivoco esse por desconhecer todas as ramificações e importância da cadeia produtiva do esporte, seja no rendimento, no esporte educacional ou de participação.
Basta verificarmos o quanto se destina para o esporte nos municipios via as secretarias de educação ou de esporte, ou o quanto os parlamentares da região direcionam para fomento da prática, falo isso com conhecimento de causa e nunca querendo comparar com as demandas existentes em outras áreas, como educação, saúde e ação social, mas indagando o quanto poderia ser otimizado até mesmos estes recursos em articulação com os próprios prefeitos e entidades, fomentando alternativas que de alguma forma o esporte também seja contemplado, pois o esporte tem inúmeros benefícios, dentre eles a saúde e a socialização, criando um ambiente mais saudável.
O que todos da classe política (executivo e legislativo) têm que entender é o poder do esporte, tanto nos impactos para uma melhor saúde e nos indicadores sociais, com os projetos dando disciplina e formando um ser humano melhor, além da cadeia produtiva na geração de emprego, prestação de serviços e por último nas opções de lazer da cidade de Montes Claros e região, que são tão poucas e as atividades esportivas podem suprir parte desta lacuna.
Volto a ressaltar a importância dos mesmos se atentarem para esta área, basta consultar o que fizeram ao longo dos seus mandatos para o esporte da cidade e região, pois irão concluir que atuaram muito pouco e não tivemos nada que seja estruturado ou até mesmo tenha dado continuidade.
Essa mesma análise é feita para o executivo municipal, onde em uma avaliação rápida nos últimos anos, até mesmo antes da pandemia, o que tivemos de motivação/ação esportiva na cidade de Montes Claros e no Norte de Minas? Quase nada de novo e até mesmo acabando com o pouco que tinha. Se falarmos de Montes Claros, houve sim avanços na estruturação de alguns equipamentos esportivos, isso é mérito, mas não adianta nada ter o espaço sem a devida utilização, pois o anseio da sociedade é na pratica que transforma, que motiva milhares de pessoas a buscarem uma vida mais saudável, ser um atleta ou ser um profissional da área.
Hoje o que se tem na cidade de Montes Claros e no Norte de Minas de esporte são iniciativas privadas, essas sim são lutadoras e desbravam todos os dias um milhão de dificuldades para se manterem, falo isso não descartando ou esquecendo dos projetos que tem algum tipo de apoio por parte do poder público, como por exemplo a equipe de voleibol de Montes Claros, que tem uma relação extremamente saudável com o executivo municipal, onde ambos se beneficiam com a parceria, mas temos que pensar muito maior e claro tentar acolher o maior número de modalidades e atividades possíveis em nossa sociedade, que possui milhares de talentos, que precisam apenas de uma oportunidade.
MANIFESTAÇÕES DE ESPORTE E UMA PEQUENA ABORDAGEM DA NOSSA REALIDADE
Abaixo vamos descrever de forma rápida um status atual das diferentes manifestações de esporte em Montes Claros e no Norte de Minas.
No campo do esporte educacional, passamos por uma fase onde o ambiente escolar visa somente os resultados em vestibulares, aliado a introdução maciça da tecnologia no dia a dia de nossas crianças e jovens, tornando-se adultos sedentários e consequentemente potenciais clientes frequentes dos serviços hospitalares, em função das consequências das doenças crônico degenerativas. As escolas não mais motivam a pratica esportiva e os projetos curriculares reduziram os horários de aulas de Educação Física, por sua vez os municipios ficam somente na expectativa dos Jogos Escolares – JEMG, para realização e motivação de uma única competição ao longo de todo o ano, que dura somente uma semana. Portanto, falta tanto na educação básica dos municipios o incentivo, quanto uma política que faça com que nossos jovens possam ser mais ativos e potencialmente mais saudáveis no futuro.
O esporte de participação, que são atividades de lazer, temos uma lacuna gigantesca em nossa cidade e no Norte de Minas, uma vez que não existem atividades nas comunidades apoiadas pelo poder público e sim pessoas voluntárias que as vezes tiram do próprio sustento da família, para manter um projeto social ou de alguma forma tirar essas crianças da possibilidade de desvirtuar para o mundo do crime, pessoas essas que não são valorizadas pelo poder público e pelos agentes políticos como forma de criar alternativas sustentáveis e não somente apoiadas nos períodos eleitorais. Outro ambiente que se faz omisso são clubes recreativos, onde não criam alternativas para as crianças e adolescentes se manterem ativas nas atividades físicas e esportivas, focando somente nos adultos e não cuidando do futuro destas entidades, que sem planejamento a médio e longo prazo sofreram as consequências da drástica redução de sócios e consequentemente de suas receitas. Trazendo para realizada de Montes Claros, o único clube que fomenta esporte em sua essência é a AABB, os demais são inertes a novas práticas e a um planejamento.
Já no alto rendimento, que são as equipes competitivas, a grande lacuna em nossa cidade e região é de infraestrutura, organização e apoio do poder público, concordo que a maioria das entidades não tem a organização devida para viabilizar projetos esportivos, mas se juntos e de forma organizada atuando juntamente com os agentes políticos, teríamos sim muito mais oportunidades para desenvolvimento de nossos jovens, nas mais diversas modalidades. Em Montes Claros com exceção da parceria com a equipe do Montes Claros América Vôlei, que rende em mídia para nome da cidade mais de 100 milhões por temporada, não se tem outra atividade apoiada ou que em conjunto o executivo busque viabilizar para desenvolvimento em nossa cidade, temos que parar de pensar que o apoio da prefeitura tem que ser só dinheiro, basta querer se envolver, já seria uma grande ajuda. Portanto esse reflexo da maior cidade do norte de minas, reflete nos demais municipios, pois não conseguem bancar sozinhos uma estrutura competitiva, mas volto a reforçar, com a união do público e do privado, seria sim possível no mínimo criar ambientes de iniciação esportiva em todos os municipios da região.
Neste contexto, se na cidade de Montes Claros que temos um PIB elevado e uma grande população não conseguimos ser ouvidos e otimizar o esporte nas mais diversas manifestações, de forma organizada e apoiada pelo executivo e sem apoio dos parlamentares, representantes do povo, mais difícil ainda são tais ações em municipios menores.
Mas tudo isso é simplesmente o reflexo da falta de interesse nesta área, pois temos todas as possibilidades de desenvolver o melhor esporte possível, basta querer, se envolver e ouvir aqueles que realmente amam esta área e querem a todo e qualquer preço ver dias melhores para todos os envolvidos, sejam eles a população em geral, além dos profissionais de esporte e saúde e os prestadores de serviços, pois o esporte também é sinônimo de geração de renda empregos.
Iniciamos o ano com desejo de dias melhores a esta área importante da sociedade, que impacta e transforma, torcendo para que nossos representantes públicos tenham um olhar mais focado e nos ouça para juntos criarmos uma grande corrente em prol do esporte norte mineiro.