Coluna Sal da Terra: epifania do poeta

Sabe aquele momento de repentina clareza ou profunda compreensão, frequentemente utilizado para descrever insights reveladores e transformadores, evidenciando um momento de intensa realização intelectual ou emocional?

Poeta e colunista, Milton Santiago

É a revelação, manifestação divina para o poeta que é também um mensageiro, como alguém que passa essa linha de fronteira entre esses mundos: material e espiritual.

Este é o momento de inspiração para fazer um belo poema.

A epifania das minhas persona­gens na maioria das vezes são despertadas pelo “olhar”.

Entretanto, parece-nos que a epifania pode se dar também pelas outras formas de percepção, como o olfato, o tato, o paladar, que não somente a visão.

Neste poema por exemplo, a personagem Nah tem um momento epifânico.

E o que gerou essa epifania foi o olfato com as flores do Jardim e o perfume das flores que parece com o perfume de Nah.

No entanto, o próprio conceito de epifania já enfatiza o sentido da visão no processo perceptivo como principal ele­mento, quando diz que epifania é “revelação”.

O que se revela, revela-se aos olhos, portanto há o desprezo dos outros sentidos.

Com isso, inten­tamos criar para o termo epifania um conceito que considere o olfato, o paladar e a audição no mesmo pata­mar da visão.

Isso nos auxiliaria na ligação de todos os sentidos perceptivos aos momentos de revelação dos meus poemas.

Como exemplo deixo aqui registrado este poema.

O perfume é pra todos.

Plantei o jardim de Nah,
reguei plantas,
colhi flores,
tenho sombras de árvores que não plantei.

E recordo sobretudo o perfume da rosa.

Vendo as flores, lembro de Nah, e me pergunto: como sei se esse cheiro é das flores ou de Nah?