Após decreto, organizadores de eventos e artistas culturais reclamam dos cancelamentos e restrições em Montes Claros

O anúncio do novo decreto que cancela a realização de shows, carnaval e restringe comemorações que tenham aglomerações sem autorização prévia em Montes Claros, gerou imensa insatisfação por parte do setor de eventos. Segundo os artistas e organizadores, a nova decisão irá impactar e prejudicar a categoria de maneira drástica.

De acordo com o documento, a determinação foi tomada em meio ao aumento no número de casos de doenças relacionadas às síndromes respiratórias, como gripe e covid-19 na cidade. Nessa quarta-feira (2), uma triste marca foi registrada, mil óbitos foram confirmados decorrentes da disseminação do coronavírus no município.

Ontem (3), data de publicação do decreto, pelas redes sociais, vários eventos privados, ligados ao pré-carnaval e shows, que estavam previstos para serem realizados durante este mês começaram a ser cancelados ou adiados.

Para Thiago Rezende, empresário e dono de uma agência de eventos há mais de 15 anos, o setor vê a coibição destas realizações como um descompasso total da realidade vivida em outras cidades com maior gerência, assim também como não é retrato da saúde pública atual do município.

“A nota que a prefeitura soltou ontem, 04/02, novamente proíbe que profissionais do setor de eventos voltem as suas atividades, mas fecha o olho, por questões políticas, para problemas mais crônicos do município, como filas de hospitais lotados, ônibus, livre circulação, cultos religiosos, supermercados, aeroportos etc. O setor de eventos entende que a medida foi tomada “no susto” e sem ponderações claras sobre o tema. Sobre os leitos de hospitais, que estão reduzidos por falta de investimentos, visto que os recursos destinados para o Covid-19 não foram destinados para a saúde, estes não estão superlotados por causa do Covid-19. A vacina funcionou! Ainda sobre as normas, todos os eventos estavam divulgando protocolos claros para cobrar cartões de vacinas e em ambientes abertos”, desabafa.

Por fim, Thiago cobra mais diálogo entre as partes, e se coloca a favor para um possível acordo.

“Estamos à disposição do poder público municipal, caso queiram rever a decisão, para juntos termos pontos de pensamento convergente para dar sequência aos eventos e diminuir riscos de contágio”, conclui.

Dj Erika Luz durante uma das suas apresentações

Erika Luz é Dj e trabalha com eventos há cerca de 6 anos, ela contou para a equipe de jornalismo do Portal Webterra que está revoltada com a nova decisão, visto que a classe artística já ficou bastante tempo sem poder exercer suas funções devido a pandemia.

“Estou totalmente revoltada com esse novo decreto, uma indignação sem tamanho, já estamos prejudicados a mais de 2 anos e mais uma vez estamos pagando o preço dessa pandemia sozinhos, sempre sobra pra nós, somos tratados como chacota, como um nada! Em plena quinta feira se lança um decreto nos proibindo de trabalhar, justamente no final de semana que estamos com tudo pronto pra exercer nossa função. Falta de respeito com o músico, nos tratam como se não fosse nossa profissão, esquecem que é de onde trazemos o nosso sustento”, relata a Dj.

A artista conta ainda que, tal decisão é de certa forma uma injustiça, já que outros setores seguem suas atividades normalmente sem qualquer impedimento.

“Muita demagogia tudo isso. Ônibus coletivos lotados, supermercados lotados, aeroportos lotados, faculdades lotadas, escolas públicas e privadas com alunos, bares e restaurantes, estádios de futebol. Nenhum desses lugares pega covid. É só um músico começar tocar que aí o povo pega COVID? Será mesmo que somos nós os transmissores do vírus? Eu concordo que a saúde é prioridade, é fundamental, mas o nosso sustento também é, somos uma classe abandonada pelos governantes, não fazem nada pra nós ajudar, pelo menos na sobrevivência, não é justo isso! Temos contas duplicadas, aluguel, água, luz, famílias como qualquer outro cidadão, então olhe pra nossa classe como um cidadão que paga todos seus impostos. Vivemos disso, músico também é profissão, será se o senhor Prefeito não compreende que só temos essa renda pra trazer pra casa? É um trabalho como o seu! Ao invés de nos condenar, nos culpar por essa pandemia, olhe por nós! Senhor Prefeito Humberto Souto esse mês o senhor vai pagar minhas contas? Porque eu estou impedida de trabalhar”, expressa Erika.

Em nota a prefeitura informou que, no período descrito no presente artigo a realização dos demais eventos que gerem aglomeração de pessoas dependerá de prévia autorização do Município, com estabelecimento das condições sanitárias para sua realização, sendo assim, caberá às Secretarias Municipais de Defesa Social, Saúde e de Serviços Urbanos intensificarem a fiscalização nas datas estabelecidas.

“O descumprimento das regras previstas no presente Decreto implicará na aplicação das penalidades descritas no artigo 25, do Decreto Municipal n.º 4046/2020, além de eventuais punições no âmbito civil, penal e administrativo, a cargo da autoridade competente”, diz trecho do documento.