Ceanorte: Cobrança de nova taxa divide opiniões entre os feirantes

Foto: Movimentação de feirantes na Ceanorte / Internet

Foto: Movimentação de feirantes na Ceanorte / Internet

 

O novo valor cobrado referente a taxa de manutenção para uso da maior Central de Abastecimento do Norte de Minas (Ceanorte), vêm sendo discutido diariamente entre os agricultores local. Para alguns, a quantia solicitada pelo espaço é abusiva, já outros acham a cobrança justa.

Criada em 1983, sua atividade principal é a comercialização em atacado de produtos hortifrutigranjeiros. Atualmente, a central recebe cerca de 6.000 pessoas todas as semanas como produtores rurais, empresários, lojistas, comerciantes, trabalhadores autônomos, donos de sacolões, supermercados, mercearias, donos de restaurantes, lanchonetes, dentre outros. O preço baixo e qualidade dos produtos são os atrativos para os frequentadores do local.

Gilmar Pereira trabalha há 22 anos na Ceanorte, ele fala das mudanças que a taxa já teve ao longo dos anos e acredita que a cobrança seja devida, visto que, o local foi adaptado recentemente e oferece melhores condições de trabalho aos feirantes.

“No início eu comecei a pagar três reais pela taxa, depois passou a ser cobrado cinco. Esse valor ficou por muitos anos, mas logo houve um problema por parte dos contadores e a cobrança foi suspensa. Atualmente o prefeito ouviu um pedido nosso, pra que, colocasse um muro no local, coisa que a muito tempo pedíamos e outras gestões não faziam, só ficava na promessa. Dessa vez deu certo, então depois das obras concluídas, foi feito um novo recadastramento das pedras. Hoje, colocamos nossas mercadorias em um espaço de 2 por 2 metros quadrados e pagamos um valor de R$20,80 que depositamos na conta da prefeitura via boleto”, explica Gilmar.

Ainda segundo ele, a cobrança é válida. “Eu acho certo a cobrança, porque tinha muita gente que tinha até 6 pedras enquanto o produtor vinham da roça e não tinha lugar pra colocar seus produtos, agora com as novas normas está sobrando algumas. Acho também pelo valor cobrado que ganhamos melhorias na infraestrutura, principalmente com os banheiros, além de maior segurança no local”.

Para outros trabalhadores, como Valdo Ferreira da Cruz, não tem nada de justo no valor cobrado. O agricultor alega, que neste momento de pandemia, o país enfrenta uma crise, todos os produtos estão em alta e com a cobrança da taxa, só piora a condição deles.

“Se formos analisar a situação do Brasil, tudo está um absurdo de caro. Eu não sou totalmente contra em pagar a taxa, porém neste momento de pandemia essas cobranças são abusivas. Para a gente que trabalha pela noite mesmo, chegamos lá as lâmpadas nem acendem, ficamos no escuro e olha que pagamos por uma iluminação local. O banheiro vive sem papel higiênico e sabonetes para lavar as mãos, coisas básicas de higiene. Acredito que até o muro que feito, no final das contas saiu foi das nossas costas mesmo. Pense bem, o coitado do feirante leva umas coisinhas para vender lá, ao chegar tem que pagar R$ 20,80 por pedra, no local existem mais de 800 pedras, cada qual neste valor, então se fomos fazer as contas semanais, é muito dinheiro envolvido para eles e pouco retorno para nós. Muitas vezes o feirante já chega lá com fome, e só quer ganhar um trocadinho para levar o sustento para casa, e no final não tem lucros e sim gastos”, desabafa o vendedor.

O Portal Web Terra entrou em contato com a Prefeitura de Montes Claros e por nota, fomos informados que, a Ceanorte ficou esquecida durante anos, sem investimentos e as devidas manutenções necessárias. Desta forma, a cobrança de taxa prevista no regimento interno é correta para a utilização diária do local.

Ainda segundo o órgão, o principal objetivo da cobrança é realizar as reformas, manutenções, ampliações, obras e intervenções necessárias para garantir o funcionamento da Central. Além de manter quadro de funcionários em número suficiente para o desenvolvimento das atividades organizacionais.

A administração explicou ainda, que as taxas comércio são cobradas de formas distintas e variam conforme o espaço usado e com base na conta de energia usufruído.

“Desde de 2017 a administração vem buscando soluções e trabalhando para resolver os graves problemas apresentados. Precisa de iluminação, pavimentação asfáltica, sistema de segurança CFTV, reforma nas estruturas metálicas dos galpões, construção de novos galpões, manutenção na rede elétrica, sinalização e placas de trânsito; além dos serviços cotidianos como administração, controle, limpeza, zeladoria, fiscalização, energia, abastecimento de água, material de limpeza e escritório, etc. Um custo mensal que supera os R$ 60 mil reais. Durante esse período foram realizadas várias reuniões com todas as classes para discutir e planejar o futuro da central. Com base nesses estudos construímos um projeto para iniciar a cobrança do uso dos espaços para comercialização”, diz trecho da nota.

De acordo com o município, o produtor rural devidamente documentado, pagará R$ 20,81 cada pedra por feira, num período de 30 horas de uso. A pedra pode acomodar até 200 volumes com um potencial de faturamento bruto de 2 a 5 mil reais em média, dependendo do produto a ser comercializado. Os preços variam conforme o espaço utilizado e a atividade do usuário. Um caminhão, por exemplo, que acomoda cerca de 14 toneladas, pode faturar até R$ 30 mil reais.

“Destacamos que todas as Ceasas analisadas realizam tal cobrança, com valores bem superiores aos cobrados na Ceanorte. E o processo de cadastramento é bem mais burocrático também. Vale ressaltar que a Ceanorte não fechou em nenhum momento durante a pandemia. O funcionamento foi próximo do normal e não foi perceptível nenhuma alteração grave. A administração recebe diariamente o contato de produtores e empresários de outras regiões do estado de Minas Gerais e até de outros estados do Brasil, com interesse em utilizar a Ceanorte para escoar seus produtos. Com isso é fundamental a organização e controle da Central para não saturar o mercado local, prejudicando a produtividade da região. Percebe-se também a migração de empresários de outros segmentos afetados duramente pela pandemia, para o segmento hortifrutigranjeiro, trazendo assim a necessidade de ampliação das instalações, dentre outras intervenções”, finaliza nota.