Coluna Aprenda com quem Sabe: dizer “muito boa tarde” é desejar quantidade de boa tarde?

“O ex-apresentador Evaristo Costa, do jornal da tarde da TV Globo, quando se dirigia aos repórteres, usava a seguinte expressão: ‘Muito boa-tarde para você’. Pergunto:

  • O que exatamente ele está desejando: quantidade de boa-tarde?
  • Neste caso não seria ‘muitas boas-tardes para você’?
  • Boa-tarde não seria feminina, portanto não deveria ser ‘muita boa-tarde’?
  • Está correto ele desejar aquela quantidade de ‘boa tarde’ exclusivamente para ‘você’, estando falando diante de outras pessoas?”

(Cláudio Teixeira, adaptado)

Antes de esmiuçar as muitas dúvidas de Cláudio, preciso dizer que este texto de hoje recebi de presente de uma aluna, e, eu preciso compartilhá-lo com vocês. Além disso, convém deixar logo claro que não havia nada errado com o cumprimento do referido apresentador de TV.

“Muito boa tarde para você” (sem hífen em “boa tarde”, como já veremos) é construção em que o advérbio “muito” intensifica o adjetivo “boa”, que por sua vez qualifica o substantivo “tarde”. Quem a emprega está desejando ao interlocutor “uma tarde muito boa”, só isso. Nada a ver com grande quantidade de tardes.

A intensificação adverbial do adjetivo é processo comum, o mesmo que existe em “Temos muito pouco dinheiro”, por exemplo.

O equívoco de Cláudio começa na interpretação de “boa tarde” como palavra composta, “boa-tarde”, e não como um simples par de adjetivo e substantivo. Existe, sim, a palavra composta “boa-tarde” (e também “bom-dia” e “boa-noite”), mas ela é usada apenas quando se faz necessário substantivar a expressão.

Para trocar em miúdos: “boa-tarde” com hífen é um vocábulo que, precedido de artigo na maioria das vezes, reservamos para frases como esta: “Chegou contrariado e murmurou um boa-tarde seco”; “Criatura adorável, seus boas-tardes eram música para mim”. Sim, boa-tarde (como bom-dia e boa-noite) é substantivo masculino.

Quando cumprimentamos alguém, o que dizemos deve ser escrito sem hífen: “Boa tarde, fulano”.

Quanto à última pergunta, relativa ao “para você” – bem, também não há problema nisso. Mesmo que o apresentador se dirigisse aos telespectadores em geral, e não a um repórter específico, o tratamento pessoal e singular seria preferível ao amorfo e plural. Faz tempo que a comunicação de massa aprendeu não ter nada a ganhar deixando claro para o ouvinte que ele é só mais um na multidão.

Envie sua dúvida, no direct, sobre palavra, expressão, dito popular, gramática, entre outras questões. Às segundas responderei ao leitor, por meio da coluna.

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